Há cerca de uma semana publiquei, no Blog Caruaru Vermelho e nesse blog, um texto sobre a retirada das questões de gênero do Plano Municipal de Educação, PME. : https://caruaruvermelho.wordpress.com/2015/09/03/as-questoes-de-genero-e-a-camara-municipal-um-atestado-de-mediocridade/.
Contudo, descontentes com o conteúdo do artigo, uma parcela dos edis aproveitaram os espaços em emissoras de rádio da cidade; e usaram na Tribuna da Câmara, na terça feira dia 08 de setembro. Não para rebater o texto e seus argumentos, o que teria sido salutar e bem vindo, mas sim para adjetivar tanto o texto, quanto o seu autor. Como fica claro no link postado pela TV Criativa no Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=U-1XpeJjtcY&feature=youtu.be
Afirmando que o texto seria: uma afronta à ética, um desrespeito a Câmara Municipal, que estávamos querendo pautar o legislativo municipal e etc, etc e etc. O que ficou claro, cristalino, foi que os nossos edis confundiram democracia com patrulhamento ideológico, ou obediência cega. Basearam suas críticas no princípio da autoridade, que por serem, ou estarem vereadores, suas decisões não são passíveis de críticas e análises.
Talvez fosse bom, que esses vereadores, entendessem que a democracia é fundamentada em dois aspectos bem interessantes. O primeiro, é que a vontade que deve prevalecer, sempre, é o a da maioria. Contudo, ao mesmo tempo, é garantido as minorias o direito de espernear. Mesmo tendo que acatar a decisão soberana, nos é resguardado o sacro direito de debater, questionar e reclamar. E qualquer cidadão, no gozo dos seus direitos políticos, tem o dever, a obrigação, de participar da vida política, não apenas aqueles que ocupam cargos eletivos.
A única injustiça que cometi e venho de público reconhecê-la e corrigi-la, é não ter citado que o Vereador Marcelo Gomes, foi o único, que votou pela manutenção da questão de gênero.
Digo e reafirmo, que foi vergonhosa, medíocre, a discussão sobre o veto do prefeito. Basta que se consulte o vídeo da sessão. Os vereadores que usaram a tribuna repetiram como mantras apenas dois argumentos: o primeiro, que estavam defendendo a família, e o segundo, que votavam de acordo com a sua opinião. Nenhum outro argumento, só esses. Foi medíocre porque ela foi: banal, superficial, comum, rasa, mediana e por aí vai.
Opinião não e conhecimento, porque ela é subjetiva e não é fundamentada em dados passíveis de serem analisados, computados e questionados. Não podendo ser usada como norte moral, pois por ter bases frágeis induzao erro.
O que teria sido válido, é que numa matéria tão complexa como aquela, e que tivéssemos um amplo debate. E que o final eles até votassem contra, mas que para isso usassem argumentos válidos, claros, objetivos e racionais. E não a mera opinião e o achismo, usaram como argumento até que as questões de gênero ameaçavam o pátrio poder, e toda sorte de sandices.
Obviamente é impossível, a qualquer pessoa, conhecer todas as áreas do saber. Porém aqueles que se tornam representantes legislativos, escolheram trilhar esse caminho, não foram forçados, obrigados. Sendo assim,eles tem o dever, a obrigação moral, de dominar os temas que serão votados. Afinal serão tomadas decisões que impactarão, no caso de Caruaru, em centenas de milhares de pessoas. Se não dominam o tema leiam, promovam audiências públicas e convidem especialistas na área. E ao votarem expliquem: as hipóteses e os dados usados para guiar as suas ações.
Até porque é bom lembrar, que eles receberam o mandato de representar o povo, e não um cheque em branco, que os permita usar essa prerrogativa sem sofrerem questionamentos. Além do que, o próprio processo eleitoral brasileiro, força esse tipo de discussão, ao usar a aberração do voto proporcional coligado.
Muita vezes, para atingir o quociente eleitoral, os eleitos usam o voto dos demais membros da coligação. De candidatos que pensam e defenderam em campanha opiniões diametralmente opostos as deles.
Nenhum desses senhores, atingiu sozinho o mínimo exigido; usaram os votos de outros coligados. No final das contas, eles, não representam apenas os eleitores deles, dos seus afins, mas de todos os membros de sua coligação. E devem satisfações a todos eles. Usaram votos de: ateus, laicos, agnósticos, homossexuais e de membros de outras religiões, para se tornarem, vereadores ou suplentes.
Procuram referendar as suas atitudes, com os argumentos que o Congresso Nacional retirou a questão de gênero do Plano Nacional de Educação. O mesmo Congresso, que foi considerado, pela mídia política, o pior desde a redemocratização. E que a maior Câmara Municipal do país, a de São Paulo, teve atitude semelhante. Ao que nos resta lembrar a célebre frase de Nelson Rodrigues, toda unanimidade é burra. E não é porque um erro é cometido em larga escala que ele passa ter legitimidade.
Diante do exposto só nos resta afirmar, com tristeza, que Caruaru tornou-se muito maior que a Câmara. E que a mesma não consegue representar e solucionar os impasses que se apresentam . Enquanto Caruaru clama por uma Revolução e um reinvenção das práticas políticas, a revolução que a Câmara oferece é uma revolução de caranguejos!
*Mário Benning é Mestre em Geografia e Professor do IFPE/Caruaru.