Artigo – Chavismo, Bolivarianismos, Petralha, Comunista e Outros Xingamentos em Tempos de Ódio… – por Mário Benning*

Mário Flávio - 02.04.2015 às 06:55h

O Iluminismo, movimento intelectual do século XVII, teve o papel de entronizar o conhecimento, a curiosidade filosófica, as ciências e a liberdade de pensamento e crenças como pontos básicos da Civilização Ocidental. Visava contrapor com esse credo básico, principalmente, o absolutismo político e o dogmatismo religioso que predominava na Europa.

Porém nos dias atuais parece que estamos esquecendo esses valores e crenças básicas, que guiaram o surgimento do Estado Democrático e de Direito.  E realizando um verdadeiro ressurgir do obscurantismo em nossa sociedade. Apagando a luz e dando ênfase as trevas, substituindo o debate civilizado, pela agressão, desrespeito, sarcasmo e estupidez.

Afinal, um dos pontos básico de qualquer sociedade democrática é a liberdade de crenças e de opiniões. As pessoas tem o direito de crer e pensar livremente, desde que não infrinjam o Código Penal. A discordância deve ser estimulada e até desejada, para que desse enfrentamento surgem novos pontos de vistas que permitam o surgimento do consenso, e a solução para os impasses na vida social.

Contudo, parece que essas premissas foram abandonadas e fazem parte do passado, regras que caíram em desuso  em tempo de redes sociais. Para ter uma ideia do estamos falando basta acessar qualquer rede social ou, se tiver estômago, ler os comentários em qualquer site de notícias, principalmente os de política.  Onde encontramos o radicalismo em sua expressão mais pura e límpida.

Temos hoje inúmeras, um grande grupo mesmo, pessoas cheias de opinião e sem nenhuma capacidade de escutar, de dialogar.  Onde a discordância não é superada com argumentos, mas sim com xingamentos, que beiram a histeria e o desequilíbrio.  Creio que esse tipo de comportamento é uma consequência direta da falta de conteúdo em debater assuntos muitos dos quais complexos. E que exigem amplos conhecimentos de história, economia e política ou ainda a combinação deles.

O padrão que emerge é bem reconhecível, no geral, os praticantes desse tipo de comportamento são pessoas com um conhecimento horizontal, superficial, mas sem profundidade. Não proferem opiniões proferem certezas!   Opinam sobre tudo desde fatos históricos,  políticas públicas,   economia e  tem uma queda por qualquer teoria conspiratória.  São exemplos típicos, aqueles que pedem uma intervenção militar, mas não tem a menor noção do que foi o regime militar.

E quando são questionados a respeito das fontes usadas pra justificar suas opiniões sui generis, rebatem com frases de efeitos ou indignação genérica e seletiva. Com o uso das agressões sendo inversamente proporcional a falta de argumentos válidos.

Afinal, se o discordante não reconhece a justeza, a razoabilidade das suas opiniões e a legitimidade do seu pleito, é porque só pode ser um Chavista Bolivariano, um Petralha Nojento ou um Comunista Safado. Que não tem lugar no mundo civilizado do qual ele é o expoente máximo, cabendo a esse ser incômodo ir para Cuba!

Um das coisas mais interessantes é que essa postura, autoritária e radical, é predominante principalmente entre um segmento que diz ter em sua motivação a defesa da liberdade e da democracia. Uma contradição patente,   pois para essas pessoas a liberdade de expressão só é válida até quando começam a ouvir o que não gostam. E na sua cruzada para defender a democracia desejam  esquarteja-la do seu aspecto fundamental, a pluralidade de opiniões e vozes.

Porém para superar esse terreno pantanoso, há cerca de 300 anos atrás, o filósofo iluminista Voltaire proferiu uma sentença que seria considerada o lema básico de qualquer sociedade realmente democrática, um norte moral, para qualquer individuo, independente das suas motivações ideológicas. E que seria de grande valia retoma-la em nossas vidas reais e virtuais: “Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las. 

*Mário Benning é Mestre em Geografia e Professor no IFPE/Caruaru. Texto do Blog Caruaru Vermelho