Artigo – Dois povos irmãos – por Danyelle Amorim*

Mário Flávio - 03.08.2017 às 10:19h

Dois povos e muitas semelhanças. Um no extremo sul e outro no Nordeste de um país continental. Uma história repleta de lutas e batalhas com movimentos separatistas. Seja pela fidelidade à cultura ou no orgulho pela terra, o gaúcho e o pernambucano tem muito mais em comum do que eles mesmos imaginam.

O Rio Grande do Sul preserva a cultura, a música e tem um jeito próprio de se vestir – bombacha, uma calça larga, lenço no pescoço. E Pernambuco também é assim: preserva cultura, música, a sombrinha do frevo, o xadrez e chita no São João. Nos eventos, o hino do estado é cantado nos dois povos, pois pernambucanos e gaúchos fazem questão de cantar e saber a letra. A bandeira dos estados é conhecida, carregada com orgulho.

Diante e tantas características em comum de cultura e tradição, não se podia deixar de registrar através da escrita a comemoração dos 27 anos da existência do Centro de Tradições Rincão dos Guararapes (CTG), fundado na data de 07 de agosto de 1990, cujo nome é uma homenagem a história local da Batalha dos Guararapes. A entidade não abriga só gaúchos, mas também catarinenses e paranaenses, que emanados pelo calor do clima e do jeito de ser dos nordestinos, em especial os pernambucanos, decidiram fincar suas moradias na região. O Centro foi decorrente de encontros em determinados locais, para uma simples roda de chimarrão, uma boa prosa, e em algumas datas específicas saborear um bom churrasco.

O lema do Centro “Intercambiando traços culturais”, deixa claro que no CTG os costumes e histórias do sul estão de mãos dadas com a cultura pernambucana.

Mas para entendermos um pouco mais sobre essas semelhanças, deve-se voltar no tempo, no período colonial quando surgem dois movimentos no País. De um lado, no Nordeste, a chamada Confederação do Equador que se apoiava em ideais revolucionários, separatistas, em represália à política centralizadora adotada pelo governo do Dom Pedro I, quando dissolveu a Assembleia Constituinte e surgiu a primeira Constituição Nacional.
Finalmente em 02 de julho de 1824, fora proclamada a Confederação do Equador, dando origem a um velho sonho de autonomia desta região do país, em detrimento a toda política centralizadora no Rio de Janeiro.

Anos depois e longe dali, surge a Revolução Farroupilha, que foi uma guerra regional contra o governo imperial brasileiro, onde o hoje Estado do Rio Grande do Sul, declarou- se independente, dando origem a chamada República Rio-Grandense, sendo este o maior conflito armado que existiu no continente sul-americano.

Pesquisas do Ibope revelam o alto grau de participação dos gaúchos e pernambucanos na escolha de seus líderes, onde há um movimento político muito forte, talvez pelos bairrismos locais. E os dialetos dos gaúchos e dos pernambucanos? Sim, desde o “Oxe” ao “Bah”, do pão francês, que é conhecido como “cacetinho” pelo porto-alegrense. Pois é… características que tornam gaúchos e pernambucanos, dois povos irmãos e muito mais próximos do que imaginam.

Danyelle Amorim é jornalista.