Mais de duas décadas se passaram. Eles se ajuntam, discutem, marcham e erguem a voz clamando por desejos e necessidades comunitários. Em todo o país, nesta semana, depois de meses de construção coletiva o Grito vai novamente ecoar refletindo a conjuntura nacional e convidando a todos a olhar para a sociedade, seus desafios e por uma atitude de servir.
O lema deste ano é “Que país é esse que mata gente, que a mídia mente e nos consome?”. Aqui em Pernambuco, em julho, um grupo de 28 pessoas, agentes pastorais e militantes sociais da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) se reuniu aqui em Caruaru, no Santuário das Comunidades, e realizaram o Encontro Regional de Articuladores do 21º Grito dos Excluídos/as. Era o primeiro de uma seqüência de reuniões para definir organizacional e metodologicamente a construção dos diversos gritos anônimos, silenciosos, e que já ecoavam nas localidades.
Entre eles quatro representantes da Igreja Batista do bairro de Coqueiral, Recife.
REFLETINDO SOBRE O TEMA – O Brasil continua com suas contradições. A mídia permanece concentrada na mão de poucas famílias, que ditam os temas centrais e valores, incentivando massivamente o consumo acima de tudo através de sua programação, por muitas vezes escondendo a verdade dos fatos ou evidenciando apenas o lado que lhe convém.
A denúncia é parte deste caminhar. Mostra um sistema de exploração onde não se valoriza seres humanos. É um processo educativo, e por isso lento. Envolve ouvir primeiro. Ouvir o clamor dos guetos, das comunidades mais carentes, dos jovens excluídos de uma sociedade elitista e seletiva, dos negros e aprisionados do perverso sistema carcerário brasileiro e de todos que sofrem injustamente.
Reconhecer que avanços sociais aconteceram não podem nos emudecer diante dos problemas que ainda persistem inclusive o constante crescimento dos crimes contra a vida. Por isso todas as forças sociais são conclamadas a pronunciar-se comprometidas com a dignidade da vida e da construção de um projeto popular para o Brasil.
Ao longo dos anos em Caruaru o “Grito” vem sofrendo desarticulação entre os militantes sociais e perda de interesse de parte dos protagonistas. Além de fragmentar, pois boa parte acaba indo reforçar o “Grito” em outros lugares, outros poucos que ficam é que resistem e fazem bom barulho.
Estes, com determinação, aqui no município, desde antes até hoje continuam com passos firmes, aprofundando o diálogo e reflexão entre as pastorais e movimentos sociais, conjugando forças, conteúdos e metodologias. Evitando questões periféricas e centrando numa visão só.
São poucos? São. Mas são os que como no poema de Ademar Bogo acreditam que: “Marchar é mais do que andar
É traçar com os passos
roteiro que nos leva à dignidade sem lamentos.
Marcham por saber que em cada coração há uma esperança
Há uma chama despertada em cada peito
E a mesma luz é que nos faz seguir em frente
E tecer a história assim de nosso jeito.
*Paulo Nailson é colaborador