Artigo – Os grupos políticos tradicionais, os novos quadros e a eleição de 2016 em Caruaru – Por John Silva*

Mário Flávio - 25.09.2015 às 07:33h

Uma amiga comentou há dias atrás uma publicação minha nas redes sociais a cerca das eleições de 2016 no município, ela afirmava “Caruaru precisa de novos representantes”. Logo em seguida teci alguns comentários. O primeiro, era um convite para que a mesma escolhesse entre outros quadros para além dos grupos tradicionais, quadros que já afirmaram que serão candidatos a prefeito da cidade, ou são mencionados pela imprensa e ou continuam especulações de bastidores como prováveis candidatos.

Tais como; Rivaldo Soares (PHS), Eduardo Mendonça (PMN), Djalma Cintra Junior (PSDB), Jorge Quintino (PSOL), Milton Manoel (PCB) nomes fora dos três tradicionais grupos representados por Queiroz, pelos Lyra, ou os “Lacerda” se entenda como definição do grupo político chefiado pelo ex-prefeito Tony Gel, existem também as ramificações desses grupos tradicionais Gomes, Liberato, Cantarelli entre outros. Os Gomes uma espécie de clã de espírito “pmdebista”, já estiveram com os Lyra, agora são fieis escudeiros de Queiroz, em um nível local fazer o que o PMDB faz de melhor nos últimos anos se mantém em evidencia e no poder, recordemos que o PMDB foi fiel de FHC, depois encantou-se por Lula e segue ainda com Dilma.

O segundo, minha incerteza para com a viabilidade de êxito para de uma “candidatura nova” na cidade para o Palácio Jaime Nejaym, mesmo com os pressupostos que cientistas políticos locais levantam, a experiência do 2º turno e seus desdobramentos, o crescimento do número de eleitores esclarecidos ou “politizados” como alguns gostam de definir. Sem deixar de mencionar o inconformismo de uma parcela dos movimentos sociais e entidades civis (não cooptadas pelos grupos tradicionais da cidade) com o fato de nos últimos 55 anos a Prefeitura de Caruaru ser disputada pelos mesmos grupos tradicionais e seus quadros que se revezam no poder.

A cidade ainda impõe como marca um eleitorado sedimentado, em muitos casos fanáticos observe-se as áreas rurais e uma tradição de corporativismo partidário. O que leva candidatos a vereadores, quadros, apoios e eleitores durante a gestação do processo eleitoral em média 6 meses antes da eleição à correrem para uma sombra entre as três forças tradicionais que dispõem de sufrágios, influência, poder financeiro e a máquina pública nas mãos.

Os partidos aqui não conseguem se constituir em espaços de construção coletiva, são instrumentos de quem paga mais, quem mais cacife têm, estamos vendo isso com a celeuma sobre o futuro do grupo Lyra na cidade vai para o PSDB, REDE, continua no PSB, até no PT estão dizendo que os Lyra poderão ir. Aliás, sobre novidade na política local, talvez, os Lyra produzam a única novidade encarnada em Raquel Lyra, que é ao meu ver uma renovação discursiva para fins de marketing político-eleitoral, pois mesmo que Raquel tenha como marca a sua recente presença nas esferas pública e política do estado.

Paira sobre ela a simbologia do clã Lyra, 55 anos de tradição política na cidade, é uma renovação com tons tradicionais, uma estratégia de “lobby político”, bom para propaganda e para aflorar o ânimo do imaginário dos adeptos do Lyrismo na cidade. Quase me esqueci do recém chegado ao Senado Federal Douglas Cintra, diga-se de passagem, um dos senadores mais faltosos do Senado, é mencionado como um provável candidato. Possui como estandarte uma carreira nitidamente empresarial, há e não tenho nada contra empresários que fique claro aos leitores.

Mas em que se funda a tão afamada “novidade” se tratado de um prefeito ou prefeita para janeiro de 2017? Em pura e simplesmente um nome novo, será isso? Pensemos para, além disso, em hipótese sobre o nome de Douglas façamos um exercício de questionamentos que serve para todos os quadros que disputaram a eleição no próximo ano. Primeiro, que serviços prestou Douglas para os populações mais simples das áreas rurais e periféricas, para com as bandeiras sociais, educacionais, comunitárias e estudantis na cidade?

Segundo, que linha tênue existe entre o povão, entenda-me não falo dos comissionados, assessores, de secretários, dos que ficam por trás de gabinetes com ar condicionado, mais das massas para com Douglas? Terceiro e mais importante questionamento, Douglas se funda em que tipo de interpretação, leitura sobre o Estado, sobre nossa sociedade, sobre nossos problemas, até hoje seu discurso, não esta tão claro para muitos caruaruenses.

Devemos também indagar como se deu a indicação de Douglas para a 1° suplência de Armando Monteiro no Senado, em que momento se tornou possível vê-lo em um dos mais altos postos da República sem antes nunca tê-lo visto nas comunidades, com os trabalhadores do campo e da cidade, com os movimentos sociais. Equivoco meu, vimos mais não foi nestes campos foi tomando conta da questão financeira da administração municipal.

Eu não enxergo para a eleição municipal de 2016, as condições mínimas para o êxito eleitoral de um novo quadro político dentro dos questionamentos que fizemos acima com uma história distinta e práticas dinamizadoras. A renovação política em cidades permeadas pela cultura de práticas fisiológicas, personalistas, clientelísticas como a nossa só torna-se possível na maior parte dos casos quando alguns desses grupos tradicionais, ou todos sofrerem de falência, quando se exaurem suas práticas, sua identidade, seus discursos. A elite local tem seus estratagemas, os Pontes Vieira, família proeminente politicamente na cidade, aqui se fizeram prefeitos, deputados estaduais e federais.

Só foram sepultados da política local em meados da década de 1950, pelo na época jovem Drayton Nejaim, que se tornará o pai dos grupos políticos da cidade. É arte dele a vitória de João Lyra Filho (vovó de Raquel) na eleição para prefeito de 1958, deste último é cria José Queiroz. Drayton ocupa lugar importante na genealogia do poder político “institucionalizado” na cidade no período pós Estado Novo. Mais recentemente durante o fim dos anos setenta Antonio Geraldo Rodrigues da Silva – Tony Gel, na época recém casado com filha da família Lacerda, família que mantinha ligações com a política local durante os governos de Drayton.

Tony Gel como ficou conhecido vai inserir na política local em 1988, oriundo do rádio, do movimento estudantil, ocupou um vácuo político deixado por Drayton Nejaim na cidade, e se consolidou em uma opção viável para a alternância de poder na cidade tendo êxito na eleição de 2000 para o executivo municipal.

Não existe na cidade para a eleição de 2016, um contexto, as condições, o alinhamento de movimentos sociais, de vozes da sociedade civil, da universidade, de partidos semelhante ao alinhamento de estrelas que trazem como consequência o vislumbre da perspectiva de um lindo céu. Nossa esperança é que esta próxima eleição traga como “novidade” da parte de quadros como Raquel, Tony, o candidato(a) de Queiroz, candidatos como Eduardo Mendonça, Rivaldo Soares e outros como Milton Manoel, Jorge Quintino uma agenda programática moderna e conectada com os muitos problemas que afligem as populações rurais e urbanas de Caruaru, que aponte para alternativas e soluções.

Larga na frente de nomes, aquele ou aquela que conseguir inserir no debate da cidade uma agenda, um programa. Não trata-se de programas confeccionados por técnicos, mas pelos caruaruenses, o que contribuirá para que superemos a imposição de projetos pessoais na administração pública municipal o que vêm se sucedendo há alguns anos na cidade.

Poderemos também vislumbrar o surgimento de novos quadros no legislativo municipal, nomes que lutam contra as estratégias de manutenção de poder dos grupos tradicionais da cidade que tem historicamente seus companheiros, seus parceiros, alguns deles tão apegados ao poder, que de forma transitória produzem alianças, mudam de lado como que de camisa sobrevivendo politicamente no percurso de 4, 7, e 10 mandatos consecutivos no legislativo municipal. E quando o assunto é chegar ao poder, estamos em uma cidade onde se vende até a alma ao capeta, onde 600 mil reais compram 3.700 votos.

*John Silva – Professor, historiador, pesquisador vinculado a UFPE, líder comunitário do Severino Afonso, foi também membro do movimento estudantil da FAFICA.