“O advogado pouco vale nos tempos calmos; o seu grande papel é quando precisa arrostar o poder dos déspotas, apresentando perante os tribunais o caráter supremo dos povos livres.”
Nas palavras do mestre Rui Barbosa, talvez a melhor definição dos meus guerreiros e altivos colegas de profissão. Com máxima vênia, me ponho hoje, dia dos Advogados, a escrever sobre o meu ofício diário que tanto me orgulha e que se torna por demais prazeroso, a medida em que o meu labor revela-se um instrumento de justiça e transformação social.
Nós, operadores do Direito, temos como principal bandeira no nosso cotidiano a coragem como ferramenta imprescindível em busca da garantia da defesa dos nossos clientes, com o objetivo de equilibrar as armas, ou seja, que, diante dos Tribunais, façamos valer o tão badalado e por vezes pouco aplicado princípio constitucional de que “todos são iguais perante a lei”.
Eis a nossa principal missão. Vale dizer que o papel do advogado, nos dias de hoje, transcende os limites do mero defensor, nosso objetivo tem também o condão de pacificar, orientar, ouvir, ter sensibilidade não apenas para visualizar a necessidade imediata do cliente, mas também a mediata, ou seja, aquela verdadeiramente pretendida quando os ânimos se arrefecem.
Digo isso, porque muitas vezes na visão do indivíduo que nos procura no escritório, o seu problema é bem maior do que ele de fato se apresenta e nós precisamos ter o equilíbrio necessário para apontar a melhor solução. Devemos buscar, num primeiro momento, a conciliação ante o conflito, muitas vezes desnecessário, assumindo assim a condição de mediador, evitando mais um processo, nas já abarrotadas prateleiras dos fóruns Brasil a fora.
É claro que mitigada essa premissa, o Advogado incorpora a sua condição de lutador incansável em busca do direito do seu cliente, até as últimas possibilidades de vê-lo referendado. Contudo, destaco que a frase mais esperada a ser dita por nós ao nosso cliente, qual seja:”ganhamos a causa”, tenha um significado bem mais importante do que o simples sentimento de vitória.
Ao fazermos valer o direito do indivíduo, declarado pela justiça, utilizamos o processo como um instrumento de transformação social, trazemos o cidadão comum ao mesmo patamar dos poderosos, tiramos do papel o significado da palavra igualdade, proporcionamos aos excluídos o acesso à saúde, punimos o preconceito, rechaçamos a violência, ou seja, fazemos valer direitos que no cotidiano não são respeitados de forma voluntária e que, lamentavelmente, ainda precisam da mão forte da justiça, muitas vezes tardia, para ser efetivamente aplicados.
Mas, meus caros colegas, hoje também é um dia para lembrar que precisamos fazer valer nossas prerrogativas como profissionais e como instrumento imprescindível da justiça, e que nós também precisamos ser defendidos nas nossas “causas”, pois quando o Advogado é desrespeitado, o cidadão é atingindo diretamente na sua dignidade. Por isso é salutar manter uma relação respeitosa com a Magistratura e com Ministério Público, mas jamais com qualquer subordinação, nunca nos curvando aos abusos e omissões que ofendem sobremaneira a justiça, o direito e a democracia.
Nossa lida não é fácil, enfrentamos em nossa rotina a morosidade da justiça, varas sem Juízes, defasagem no quantitativo de servidores nas Comarcas, delegacias sucateadas, os presídios abarrotados, aviltamento dos nossos honorários. Todavia, somos soldados guerreiros e rogo que vistamos essa farda na luta dia após dia, nos balcões dos Tribunais e das instituições, de cabeça erguida, fazendo valer nossa missão maior de defensores da justiça.
Nos orgulhemos da nossa profissão, mas não apenas hoje, pois afinal todo dia é dia de se fazer valer o direito alheio. Meu cordial e fraterno abraços a todos os Advogados e Advogadas na nossa Caruaru e do nosso agreste neste dia em que somos, especialmente, lembrados.
*Felipe Sampaio é advogado