Artigo – PIB| Recuperação lenta, mas consistente – por Pedro Neves*

Mário Flávio - 03.12.2018 às 18:16h

“Nem sempre você tem que ser o mais rápido para vencer “, disse a Tartaruga para Lebre”. Assim encerra a fábula da Lebre e da Tartaruga.

Muitos economistas esqueceram as lições das histórias infantis, escolheram por criar suas próprias fábulas. No Brasil, instituiu-se o entendimento de que o desenvolvimento econômico estaria necessariamente dependente do crescimento econômico.

Evidente a importância do crescimento econômico, medido pelas taxas de crescimento do PIB. O erro tem sido nas escolhas de políticas econômicas para atingir as metas de crescimento. A fábula do impulso econômico promovido pelo Estado é a mais conhecida. Contudo, a recente recessão pela qual o Brasil atravessou deixou, mais uma vez, a lição de que o remédio pode ser pior que a doença. Buscou-se estimular a atividade econômica pelo endividamento. O resultado foi o aprofundamento da recessão econômica.

A partir de 2017, entrou em vigor o consenso de ajuste fiscal – amplamente criticado por aqueles que querem um crescimento a todo custo. A política de corte de gastos, de fato, inibe a atividade econômica. Sabe-se que uma diminuição nos gastos tem seus efeitos sobre a economia anulados no médio prazo. Ou seja, após um período de dois a três anos de ajuste fiscal a economia volta a ter condições de maior atividade econômica.

É justamente nesta fase que a economia brasileira se encontra. As taxas de crescimentos ainda encontram-se em patamares baixos, excluindo o período recessivo(2015-2016), estamos em níveis de crescimento do PIB de 2012. As projeções no inicio de 2018 foram revistas em primeiro momento, pela greve dos caminhoneiros, em seguida o cenário eleitora. É o que aponta os dados do IBGE divulgados.

Embora fosse possível uma situação de maior desempenho, os resultados apresentam o sinal de um crescimento mais sustentável. Mesmo sem o tramite e evolução das reformas(previdência e tributária), a taxa de crescimento segue para um patamar de 1,4%, já com projeções para acima 2% em 2020. O bom desempenho da demanda interna e do investimento reflete a melhora ocorrida nos indicadores de confiança, apresentando indícios de que o ritmo de crescimento da economia poderá acelerar nos próximos trimestres.

Alguns cenários mais otimistas podem até ser desenhados, considerando um cenário sem rupturas e com o equilíbrio fiscal em execução, e com um conjunto importante de medidas que melhorem o investimento e a produtividade. medidas como: a) melhor aparato regulatório; b) reforma tributária;c) maior qualificação do capital humano; d) maior eficiência do mercado financeiro e de capitais; e) aumento (em termos de quantidade e qualidade) dos investimentos em pesquisa de desenvolvimento (P&D); f) ambiente de negócios mais estável e competitivo; é o que sugere as notas de conjuntura do IPEA. Neste sentido seria possível taxas de crescimento em torno de 4% anual a partir de 2020.

Deixando de lado suposições e cenários, é de se intensificar o amadurecimento sobre políticas de crescimento econômico no Brasil. Uma trajetória sustentável, em que as contas públicas não sejam deterioradas em função de estímulos de crescimento, e que o debate político esteja em torno da eficiência na alocação de recursos e de um arcabouço institucional mais seguro. Sejamos mais a Tartaruga e menos a Lebre.