Artigo – Todos certos e todos errados?! – por Clóvis Santos*

Mário Flávio - 24.08.2015 às 16:34h

O título pode parecer absurdo, porém, é isso que estou a sentir, ao assistir ao noticiário, ler jornais, navegar pela internet ou mesmo conversar com os amigos e conhecidos, pois, ao discurso de cada um, referente a política, e a leitura da situação hodierna do país; posso julgar ao mesmo tempo, que estão certos e errados, independente de apoiarem o governo ou se colocarem ao lado da oposição. Todos estão errados quando só enxergam o seu lado da moeda, só têm ouvidos para suas filosofias, teses e interesses, quando radicalizam os discursos e desrespeitam o próximo, quando perdem o respeito pelas leis, ou distorcem suas interpretações para se amoldarem a seus interesses individuais ou coletivos, se recusam a aceitar o resultado de uma eleição e perdem a civilidade e passam a desrespeitar a autoridade constituída, e com isso o voto!

Continuam errados, àqueles que fazem apologia ao golpe, de direita, de esquerda, branco, vermelho ou por manobras jurídicas travestidas com o tecido roto do falso moralismo; àqueles que pregam o ódio religioso, de classe social, de raça ou cor, a xenofobia, violência, numa visão tão míope que se recusa a admitir que há avanços, que a pobreza diminuiu, que o desemprego já foi muito maior, que a crise existe, porém, seriam seus efeitos muito menores se houvesse um clima de otimismo no ar, daquele tipo “marolinha” lembram? E, que não déssemos maior destaque a notícia ruim do que a boa! Enfim, cria-se um clima de incerteza que paralisa pelo medo a economia, já combalida por uma crise internacional!   

Errados, também, àqueles que travestidos de oposição, a fazem de forma tão raivosa e virulenta, que atingem ao governo, e ferem de perigosamente a democracia, e uma nação inteira, esquecendo eles, que em sendo sua tese vitoriosa, e no próximo pleito sejam os vencedores, terão de administrar os problemas que intencionalmente e irresponsavelmente construíram.  

Por fim, errados àqueles que preferem o silêncio da ignorância que escondia a corrupção, aos gritos da consciência que expõem nossas mazelas de quinhentos anos, desnudadas em uma situação de plena democracia, com os poderes da República funcionando a todo vapor, em sua plenitude, com independência e a parcela de soberania que lhes cabe, de forma harmônica e sem interferências do executivo, como nunca se viu antes! Que traz à luz de forma inédita a sangria que desde Cabral, sempre, foi vítima a nação, dando-nos chance inédita de tentar corrigir tal vergonha.  

Estão certos todos aqueles que gritam para defender seus direitos, todos que não querem ver o Brasil regredir, todos que defendem a democracia, a alternância de poder, a transparência nas eleições, que lutam por mais saúde, educação, moradia, um Estado menor e mais ágil, todos que defendem, dentro das regras da democracia, seus interesses, sejam eles privados ou de grupos, desde que dentro do espírito democrático; estão certos os trabalhadores (públicos e privados) por lutarem por uma fatia maior do bolo, está certo o cidadão quando exige serviço público de qualidade, que inclusive, pagou antecipadamente, estão certos as empresas (individual, micro, pequenos e grandes) em pedir redução da carga tributária, menos burocracia para recolher impostos; está certo o governo ao exigir o reconhecimento do resultado das eleições e, em lutar pelo direito de governar; está certa a oposição em fazer “oposição” desde que dentro dos padrões legislativos, sem ferir de morte o bem maior que diz pretender defender. 

Homens, mulheres, jovens, idosos, religiosos das infinitas denominações, ateus, trabalhadores, empresários, heterosexuais, gays, lésbicas, LGBTs, situação, oposição e centro, capitalistas, sociais democratas, socialistas e comunistas, ricos, pobres, miseráveis, estudantes/universitários e professores/catedráticos, operários e campesinos, industriais e industriários, comerciantes e comerciários, banqueiros e bancários… em uma sociedade onde todos têm direitos, e a malha de proteção social ainda não é suficiente e a desigualdade ainda reina, há de se entender que estamos aprendendo a lidar com a democracia e vai demorar a atingirmos o ponto de equilíbrio, pois, enquanto apenas uma parcela da sociedade tinha direitos, era fácil ao governo atendê-la, porém, quando a palavra é inclusão e todos têm direitos, ao atender o direito de um, fere-se o que o outro entende por seu direito, seja ele material ou moral, e, inicia-se uma nova demanda a ser resolvida pela sociedade.  

O Brasil é um país jovem, aprendendo e construindo o seu próprio conceito de democracia, onde o único consenso é que se precisa urgentemente de uma “reforma política”, porém, ninguém, sabe dizer o que seria essa “reforma política”, enquanto não descobrimos, precisamos mudar nossa consciência coletiva e entendermos que o Brasil é maior que um partido, maior que uma crise, e que, é nossa tarefa melhorá-lo sob o manto a se coser com a linha da paz, ordem, progresso e tolerância religiosa, política e social, para podermos entregá-lo a nossos filhos com viabilidade de se transformar na grande nação que sonham todos!   

*Clóvis Santos – OAB/PE 28.633- Secretário de Organização PT/Caruaru