Coluna do Mário: Adversários em comum

Mário Flávio - 24.07.2012 às 00:52h

Zé e João em campos opostos de diálogo, em uma mesma base de governo

Basicamente, a cidade de Caruaru se divide entre dois grupos históricos que rivalizam bastante nas eleições municipais 2012 e ofuscam os ensaios de vias alternativas na cidade, com uma ligeira vantagem da base do governo, sustentada por uma administração apoiada pelos governos estadual e federal. O que pode desestabilizar um desses grupos? Uma carta na manga que vem de onde menos se espera.

Há algum tempo, durante uma entrevista, a candidata Miriam Lacerda (DEM) fora perguntada se acreditava no sentido daquela frase “o inimigo do meu inimigo é meu amigo”, quando o contexto era o afastamento do vice-governador João Lyra do palanque do prefeito Zé Queiroz, candidato à reeleição, ambos forças do PDT que entraram em rota de colisão. Naquele momento, Miriam fugiu à pergunta, apesar de deixar no ar que, indiretamente, as críticas de João à atual gestão de Caruaru só fortaleciam o discurso da frente de oposição, de que a população caruaruense busca uma administração renovada.

Depois das várias farpas entre João e Zé e de uma carta aberta que selou a separação entre os dois pedetistas, algo que não teve o embargo nem do governador Eduardo Campos (PSB), a oposição atualmente demonstra um tremendo respeito à postura do vice-governador e a como ele apontou as falhas da gestão Queiroz.

O discurso de João já era utilizado como estratégia pelos oposicionistas antes da campanha e agora vai ganhando mais força, quando se vê, por exemplo, Diogo Cantarelli, vice na chapa de Miriam, afirmando que aprendeu a admirar João Lyra.

Nessa conjuntura, é preciso refletir no que João pensa para seu legado político ao manter uma postura arriscada de não subir no palanque de Zé Queiroz e abrir espaço para Miriam Lacerda e Tony Gel fortalecerem suas críticas. O vice-governador não compactua da ideologia da oposição, não apoiaria Miriam e também não planeja observar a oposição ganhar mais forças. Aliás, isso fica claro quando João Lyra diz que se Miriam ganhar, a culpa é de Zé.

O que João faz é um rompimento estratégico e, para alguns, já esperado, e que alça a possibilidade de um restabelecimento de um grupo político encabeçado por ele, que dê espaço para Raquel Lyra, ou que até abra as portas para políticos como Lícius Cavalcanti, que buscam mostrar uma imagem desligada do grupo de Queiroz.

E nesse contexto, o prefeito tem que enfrentar uma rival que incomoda nas recentes entrevistas que concede e ainda encarar a movimentações de bastidores de João Lyra visando as próximas eleições. Diante desses dois cercos, o prefeito precisa, sim, reavaliar sua afinidade com as lideranças estaduais, municipais e, principalmente, com a população. A menos que ele acredite realmente que João Lyra deu um tiro no pé e que o povo não esteja começando a refletir se o ciclo de sua gestão esteja chegando ao fim.