Muitas vezes na vida é preciso mudar, e início de ano é uma ótima pedida para repensar o modelo de vida que levamos. Nesse começo de 2015, resolvi que quero trabalhar um pouco menos, passar mais tempo com meus amigos, que quero viver mais de perto a minha família. Para tanto é preciso deixar de lado algumas coisas que o nosso estilo de vida nos coloca como dogmas.
Ano passado, fizemos, eu e meus sócios, uma viagem a alguns países da Europa, e descobrimos que é possível se deslocar por alguns quilômetros, pasmem, sem o carro ou qualquer outro meio de transporte coletivo. Isso tudo graças a uma maravilha da humanidade chamada de bicicleta! De volta à rotina, é hora de tirar os planos do papel. Consertei a minha magrela e resolvi utilizá-la, não apenas como objeto de lazer, mas como meio de transporte cotidiano. O plano é me deslocar de casa para o trabalho nela, todos os dias, pelo menos um expediente. E não é que tem dado certo?! Acreditem, os cinco quilômetros que separam a minha morada do meu escritório são superados sem nenhum esforço desumano. Sair na hora do almoço para encontrar um amigo em um restaurante, não é nada sofrido. Juro que tem sido divertido e relaxante. Sou um carro a menos no trânsito e ocupando vagas de estacionamento e, de quebra, estou me exercitando.
Infelizmente a bicicleta, assim como os meios de transporte coletivos, ainda é vista, por aqui, como um meio de transporte de segunda categoria, utilizado por aqueles que não podem ter um carro. Resumindo: se usa bicicleta no dia-a-dia é liso! Mas, pouco a pouco, tenho visto uma mudança de atitude de algumas pessoas nesse sentido. Vejo um publicitário que escolheu não ter carro, ou outro colega arquiteto que elege dias da semana para ir de bike ao trabalho e muita gente se juntando nos passeios noturnos pelas cidades. Vejo que finalmente, aos poucos, vamos vencendo o estereótipo e criando até um certo status de “ecologicamente correto”, ou mesmo ligando sempre o uso da bike à qualidade de vida.
Pois bem, vou por aí, buscando meu lugar em meio aos carros já que não temos ciclovias nem ciclofaixas e procurando um poste ou coisa parecida pra prender a bicicleta, já que não temos bicicletários. E é nessa que eu vou! Sou arquiteto, sócio de um escritório bem conceituado e escolhi ir trabalhar de bicicleta. Tenho um carro legal, mas posso sim, me virar sem ele!
O que precisamos é colocar na agenda do poder público o entendimento de que mobilidade urbana não é cuidar só dos espaços reservados aos carros. Precisamos cuidar dos pedestres e dos ciclistas. Não podemos conceber mais que uma avenida como a Agamenon Magalhães seja restaurada (e ficou linda, diga-se de passagem) e que não se trate desse assunto. Inconcebível que não se vejam as calçadas e as ciclofaixas. Precisamos de uma cidade onde os carros trafeguem confortavelmente, é claro, mas precisamos também, acima de tudo, de uma cidade para as pessoas, pedestres e ciclistas. Faça o teste: vá de bike. É possível!
* Pablo Patriota é arquiteto, sócio-diretor do Jirau Arquitetura e Urbanismo, que teve um de seus projetos exposto na Bienal de Veneza, na Itália.