Dizem que o senhor queria mandar na prefeitura.
Acho que começou com o não atendimento de telefonemas, com o distanciamento que ele estava tendo com alguns secretários e que começou a virar perseguição. Esses elementos foram suficientes para o distanciamento e se concretizou com a saída de muitos companheiros do governo, como Lygia Falcão, que era companheira do nosso núcleo de confiança…
Planos para pós-eleição
Quando saímos do governo no final de 2008, a ideia era criar um núcleo para discutir as dificuldades da prefeitura, as crises e nós iríamos continuar pensando numa questão estratégica para o estado e para o país. Iríamos discutir aquelas questões de alta relevância de forma estratégica como era antes.
Ele parou de atender a telefonemas?
Na verdade, sou muito assim: tenho uma relação de respeito. Eu ligo para uma pessoa duas, três, quatro vezes, mas, se a pessoa não liga, paro de ligar. Acho que houve esse distanciamento ao longo do tempo e, a meu ver, foi se agravando ainda mais, inviabilizando uma possibilidade de aproximação e de apoio à reeleição.
A primeira-dama, Marília Bezerra, teve algo a ver com essa crise entre vocês dois?
Falam muito que teve, mas não existe uma situação que possa comprovar isso, até porque elegemos João da Costa e não Marília. Por isso, nossa relação, por princípio, tinha que ser com ele. Acho que querer responsabilizar Marília é um erro, porque quem é o prefeito não é ela.
João da Costa disse ter semelhanças com Dilma, é um perfil mais técnico, mais tímido…
Primeiro, a formação de Dilma é de uma mulher que participou de uma organização comunista, revolucionária, que foi presa e torturada. Ela é uma mulher que está fazendo uma excelente gestão e tem uma alta popularidade, uma mulher que, apesar de todas as dificuldades com o Congresso, tem encantado o Brasil e feito um contraponto a uma prática política que é vivida por muita gente. A outra característica de Dilma é a lealdade e Lula me afirmou isso: “João Paulo, você precisa ver a Dilma. Essa mulher é tão leal que às vezes eu fico incomodado”. Então, sinceramente, não vejo semelhança nenhuma (entre ela e o prefeito).
Justificativas
As dificuldades recaem principalmente na política. Temos o claro entendimento das dificuldades que os secretários têm de serem recebidos pelo prefeito, a dificuldade dele com a Câmara, com os movimentos sociais, com os servidores e nós sentimos que houve uma quebra significativa, uma queda da autoestima grande na cidade e na gestão. Houve uma ruptura dentro do próprio governo com a saída de vários secretários do PT e do PTB. Há uma preocupação não só minha, mas do governador e de Humberto Costa que, se ele continuar, há perspectiva de se quebrar a Frente Popular. Foi essa a impressão que levou companheiros como Humberto a sair do governo e colocar a candidatura de Rands
Por que Rands e não João da Costa
Mesmo sabendo que eu tinha 51% das intenções de voto e a preferência da população, eu não tinha as condições internas para disputar as prévias. Eu podia confiar que o sentimento da sociedade contagiasse a parte cartorial do partido, mas isso seria um risco. Então, acho que Rands construiu melhor essa condição (no partido) e tenho o sentimento de que ele pode fazer um governo de esquerda que extrapola os limites de uma boa gestão.
”Chutou por fora numa barra sem goleiro”
O atual prefeito teve as maiores condições que um prefeito já teve nessa cidade. Pegou um governo com 88% de aprovação, com apoio dos governos estadual e federal, com apoio de uma Frente, mas, falando na linguagem do futebol, ele estava na marca do pênalti, numa barra sem goleiro e ainda conseguiu chutar para fora