Jorge Quintino concede entrevista ao Jornal Vanguarda

Mário Flávio - 14.04.2012 às 10:00h

Após voltar ao governo, o nobo “velho” diretor de meio ambiente de Caruaru, Jorge Quintino, concedeu uma entrevista ao jornalista Fernandino Neto, do Jornal Vanguarda. No texto, ele diz que cometeu adultério na política e que o prefeito Zé Queiroz vive cercado de bajuladores. Leia a entrevista que está veiculada no jornal dessa semana.

 

A declaração acima é do professor universitário Jorge Quintino, que acaba de reassumir a Diretoria de Meio Ambiente em Caruaru e tem sido alvo de críticas por seus últimos posicionamentos. Insatisfeito com o pouco prestígio na administração, ele pediu exoneração do cargo em maio de 2011. Em seguida, Jorge rumou para o grupo político do deputado estadual Tony Gel e filiou-se ao PMDB, declarando apoio a Miriam Lacerda. Há algumas semanas, ele usou a imprensa para fazer críticas ao prefeito José Queiroz, utilizando adjetivos como “arrogância” e “prepotência”. Esta semana, Jorge surpreendeu ao ser empossado pelo próprio prefeito, com um discurso que não poupou elogios. Nesta entrevista, Jorge Quintino comentou os motivos de sua mudança repentina, sinalizou apoio à candidatura de Eduardo Guerra à Câmara (foi ele quem intermediou o contato entre Jorge e o prefeito José Queiroz) e atribuiu a pouca aprovação da gestão a pessoas “desqualificadas” que estão no governo.

Jornal VANGUARDA – Há menos de um mês o senhor declarou à imprensa que estava firme na oposição, criticou o prefeito José Queiroz e agora está de volta à administração. Por que tanta indecisão?
Jorge Quintino – Eu acho que uma das grandes características de alguém que quer o bem comum é exatamente a possibilidade de mudança. Existiram, em alguns momentos, necessidades de diálogo com a administração e esse diálogo existiu agora há pouco tempo. Com isso, houve um amadurecimento muito grande e todas as frestas e arestas existentes entre nós foram dissolvidas. Você pode até pagar um ônus político muito forte por perceber a vontade de mudar, de rever ideias. Agora, rever ideias não significa mudar ideais. Os ideais e as convicções são os mesmos.

JV – O senhor comentou ainda que há muitas pessoas insatisfeitas com a gestão, mas que não saem por questão de sobrevivência. O fator financeiro também condicionou o seu retorno à Prefeitura?
JQ – Não. O que existiu, na realidade, foi uma reflexão minha e do prefeito, e as arestas vinculadas a um trabalho sério que estava ocorrendo foram solucionadas. O amadurecimento dessas discussões propiciou o meu retorno. Todos sabem que eu estava, até então, gerenciando as empresas do meu irmão (Paulo Quintino, irmão gêmeo de Jorge, morto em janeiro), tanto em Caruaru como em Maceió, Salvador e deixei este gerenciamento pelo amor que tenho vinculado às questões ambientais do município de Caruaru. Você sabe quanto ganha um diretor? R$ 2.600,00. Trabalhando três noites por semana, numa instituição de ensino privada, eu recebia R$ 2.800,00. Saí para me dedicar mais à administração. Então, a questão não foi de interesse econômico. Agora, muitas pessoas não estão nem aí. Para elas, a administração é um cabide de empregos. Há secretários que só vivem viajando, você não consegue encontrá-los nunca e ganham R$ 9 mil. Em outros casos, a doação tem mais a ver com a paixão pela política do que com o aspecto financeiro. Pode ser também por encantamento com o poder, mas pelo dinheiro tenho certeza de que não é.

JV – O que motivou a sua volta, afinal?
JQ – A grande motivação da minha volta foi exatamente perceber a capacidade de diálogo que o prefeito José Queiroz teve, naquele momento, comigo. Quando conversamos, ele me disse que desde que saí não havia colocado outra pessoa em meu lugar. Essa posição dele foi muito forte na hora da minha decisão.

JV – Filiado ao PDT, o senhor continuava participando de reuniões internas do PV. Quando rompeu com o prefeito José Queiroz, o senhor se filiou ao PMDB. Agora, está filiado a qual partido?
JQ – Eu passei um bom tempo da minha vida filiado ao Partido Verde. Depois, a aproximação com o poder Executivo municipal me fez migrar para o PDT e, hoje, estou no PMDB. Mais do que as siglas partidárias, o que deve se pensar em relação ao posicionamento político de um ser humano são os ideais e as convicções dessa pessoa. Ninguém pode negar o interesse que eu tenho de ver solucionadas as grandes questões ambientais de Caruaru. Por esses ideais, a gente busca os caminhos possíveis existentes.

JV – Mesmo sabendo que o PMDB pode apoiar a cadidatura de Miriam Lacerda, o senhor vai permanecer filiado ao partido?
JQ – Essa não vai ser uma decisão apenas individual, mas também política. Vou conversar com o prefeito para ver qual o melhor caminho a seguir.

JV – O senhor vai disputar uma vaga na Câmara de Vereadores ou pretende apoiar algum nome?
JQ – Eu não serei candidato nessas eleições, até porque estou voltando para a esfera política e técnica do Governo Municipal e meu interesse, hoje, não é político-partidário, mas o de resignificar as questões ambientais municipais. Existem nomes interessantes que estão se apresentando a Caruaru e um desses nomes aos quais eu tenho grande apreço é o de Eduardo Guerra, que é uma pessoa próxima e já demonstrou, diversas vezes, que deve ter um espaço na Câmara Municipal para poder fazer uma revolução necessária nas perspectivas de qualificação do Legislativo.

JV – O senhor é professor universitário e um dos poucos políticos que podem ser considerados intelectuais em nossa cidade. Na sua opinião, é possível continuar alimentando algum tipo de ideologia na política ou o que move a cena política são os interesses?
JQ – Eu acredito que o que move o ser humano a participar da esfera política são os ideais, as convicções. Agora, rever ideias e posicionamentos é uma necessidade para que exista um compromisso cada vez mais efetivo com esses ideais. Então, eu não tenho vergonha nenhuma de dizer que uma das grandes características do ser humano do século XXI é o caráter da mudança, da transitoriedade, da possibilidade de repensar os seus posicionamentos. Na verdade, nunca houve ideologia partidária. Oliveira Viana (jurista e sociólogo brasileiro) dizia que os partidos políticos são farinha do mesmo saco, no sentido de que quando existem interesses maiores, eles se agrupam. É isso que acontece em todos os lugares.

JV- Um dos problemas que o senhor citou ao deixar a atual gestão foi a incapacidade de diálogo por parte do prefeito José Queiroz. Que garantias o senhor tem de que não vai mais enfrentar o mesmo problema daqui pra frente?
JQ – Uma das coisas que eu valorizo muito no ser humano é a demonstração de sensibilidade. Na conversa que eu tive com o prefeito José Queiroz, eu percebi essa sensibilidade no olhar dele e não tenho dúvida alguma de que essa troca simbólica de experiências é que possibilitarão o amadurecimento humano e político de Caruaru.

JV. Miriam Lacerda continua sendo, na sua opinião, o melhor nome para Caruaru nas eleições deste ano?
JQ – Como eu disse, anteriormente, uma das grandes características do ser humano é a possibilidade de trânsito em relação ao pensar. Então, esse posicionamento foi transitório. Eu sempre estive ligado à esquerda. Tanto o Tony Gel quanto a Miriam são pessoas de fino trato, às quais socialmente deve-se ter um deferimento e um respeito. Mas, agora, o meu posicionamento é de vínculo à administração do prefeito José Queiroz e de recreditar os valores dessa administração.

JV – Há menos de um mês, o senhor tinha um posicionamento, agora tem outro e justifica o retorno à administração por uma suposta sensibilidade que percebeu no prefeito. Não seria um pensamento egoísta afirmar a mudança sob um ponto de vista pessoal?
JQ – Se existe uma pessoa que está sendo criticada, hoje, na cidade de Caruaru, é exatamente Jorge Quintino, devido ao meu posicionamento. É bom que se diga que essas críticas só se tornaram públicas no momento em que deixei a administração. Retornando, as críticas internas em algum momento podem até permanecer, sem que isso signifique que deixei de acreditar na gestão.

JV – O senhor conversou com Tony Gel e Miriam Lacerda sobre seu afastamento do grupo político de oposição?
JQ – Eu conversei com o presidente do meu partido, o PMDB, Adjar Soares, e vou, através de uma carta, tecer todas as questões existentes numa perspectiva formal. Tive pouquíssimas discussões com o ex-prefeito Tony Gel, embora o diálogo com Tony seja mais fácil do que com muitos dos nossos aliados.

JV – Dadas as circunstâncias, o senhor se arrepende dos últimos posicionamentos que tomou?
JQ – Em hipótese alguma. A experiência foi muito importante para o meu amadurecimento. Faz-se necessário o trânsito até para se conhecer melhor sua casa. E o retorno para casa é muito mais sólido. Minha relação com a política é como se eu tivesse cometido um adultério que se tornou popular (risos). Mas vejo a capacidade de adulterar e retornar para a esposa como algo fantástico, pois o casamento se tornou mais forte. Todo casamento deveria passar por uma experiência de adultério para voltar mais forte. O meu posicionamento, mesmo que as pessoas joguem pedras, vai amadurecer os posicionamentos políticos na cidade. Eu fico muito chateado, por exemplo, com as pessoas que estão dentro da administração e jogam pedras em Reginaldo França, que agora está ao lado de Queiroz.

JV – Que análise o senhor faz do índice de reprovação da atual administração e das últimas pesquisas de intenção de votos divulgadas?
JQ – Pela capacidade administrativa de Queiroz, não teria condições de uma pesquisa como essa acontecer. Agora, a capacidade administrativa e política dele não é acompanhada por muitas pessoas que estão ao seu redor, que são desqualificadas e representam interesses única e exclusivamente pessoais. Ele está cercado de pessoas aristocráticas e o povo vê isso. Há pessoas na administração que estão intrigadas de mim pelo que eu disse sobre a gestão. Enquanto o prefeito, durante a minha posse, teceu elogios contundentes. Eu toquei nos pontos nevrálgicos da gestão, tive coragem de dizer o que alguns assessores deveriam conversar e não fazem. Dizem que está tudo maravilhoso. E foi muito bom porque o prefeito precisa saber o que está acontecendo. Ele não pode ficar numa redoma de vidro, achando que está tudo ótimo e o povo querendo jogar laranja podre em sua cara, exatamente por causa desse distanciamento provocado por uma assessoria retrógrada e bajuladora.