Há histórias e estórias e por meio delas descortinamos a vida de uma comunidade. Enquanto o primeiro termo tem relação com a busca da verdade, em oferecer um registro confiável dos eventos passados para as gerações futuras, no segundo temos os contos, as fábulas ou fantasias que compõem o imaginário local. Porém mesmo sendo apenas ficção, através desses mitos podemos compreender as crenças e a dinâmica de uma comunidade. Entender as suas motivações e valores.
Na noite da última quinta feira (10), a Câmara Municipal de Caruaru, entrou para a história ao produzir uma estória, que muito revela das práticas políticas da cidade. A criação de duas CPIs, no mesmo dia e na mesma sessão, para investigar fatos contestados pelo relatório da CGU. Porém o alvo da investigação não são os fatos da atual gestão, mas sim as possíveis irregularidades ocorridas apenas no governo de Tony Gel, só no dele.
Com mais essa insana atitude e uma decisão que beira a esquizofrenia leva ainda mais a população a desacreditar no atual legislativo municipal. Pois para investigar o atual prefeito, o relatório era matéria vencida, caduca, requentada ou já havia uma investigação em curso pelo MPF. Sendo redundante a Câmara investigar, pois eram apenas erros formais, como foi repetido a exaustão, por membros do executivo e do legislativo ou simplesmente politicagem.
Erros que segundo a CGU causaram um prejuízo de 17 milhões de reais, principalmente dos recursos do Fundeb, num momento em que a prefeitura massacra os professores alegando falta de fundos. Para justificar uma investigação dos desmandos atuais, a CGU não serve, mas para tirar o foco do momento adverso que a gestão municipal está passando na Câmara, para isso o relatório serve? A Câmara aplicou integralmente o velho ditado popular: aos amigos tudo, e aos inimigos a lei.
A prefeitura ainda chegou a distribuir uma nota alegando que não tinha ingerência nenhuma nas decisões dos vereadores. Realmente nesse caso temos que dar crédito à prefeitura, a nota corresponde à verdade. A prefeitura em nenhum contexto tem ingerência nas decisões da Câmara, isso significaria que a prefeitura apenas interfere no cotidiano, exerce uma pequena pressão. O que não é o caso, pois a atual gestão manda, ou melhor domina, o legislativo municipal!
Querer acreditar que dois vereadores espontaneamente, sem combinar nada entre si, e com o total desconhecimento do Executivo municipal apresentaram essas CPIs, é subestimar a inteligência da população caruaruense, é uma história muito bonita, pena que não é verdade. Esta mais para uma estória no país de Caruaru. O momento ideal para investigar os possíveis desmandos do governo Gel era no início da legislatura passada. Afinal logo após a sua posse, o prefeito Queiroz repetia frequentemente que tinha recebido um passivo de 80 milhões que engessava a sua gestão.
Se o ex-prefeito realmente causou danos ao erário de tal monta, era dever dos vereadores, na época, promover as investigações necessárias e levar a justiça as conclusões, para assim conseguir a recuperação dos recursos. Porém isso não ocorreu, e somente agora com a gestão de Queiroz sendo jogada as cordas semanalmente, é que aflora esse zelo fiscalizador nos vereadores da situação. Essa manobra está mais para retaliação, ou para forçar um acordo de bastidores com a oposição.
No qual, ambos engavetam as suas investigações, sem buscar os esqueletos nos armários. Com a situação não mexendo com as irregularidades da oposição e vice-versa. A única lição que fica de mais um episódio lamentável é a constatação do quando ainda se pratica em Caruaru a política miúda, rasteira, as vezes parece que estamos na década de 1930… Com os grupos políticos se digladiando procurando estabelecer quem foi, ou é, o “menos ruim” para Caruaru. O que provocou menos mal a cidade em suas gestões.
Temos ainda uma vida política marcada pelo provincialismo e paroquialismo, com as instituições públicas sendo manipuladas, aviltadas, em benefícios dos ocupantes do poder. É por essas e outras que a sociedade caruaruense almeja por rostos e práticas novas em nossa cidade. Por políticos que façam história, jogando essas práticas arcaicas para o limbo, enterradas nas areias do tempo. Para que desses episódios vergonhosos só restem apenas estórias.