Opinião – A eleição e o Déjà Vu – por Mário Bening*

Mário Flávio - 04.08.2012 às 08:30h

Déjà vu é uma expressão francesa que literalmente significa: já visto. E é usada para caracterizar quando temos a impressão ou a sensação de que já vivenciamos uma experiência, de que aquilo não é novo para nós, e essa é uma sensação que muitas pessoas têm ao comentar a atual campanha. De que a eleição de 2012 seria uma reedição da disputa de 2004, que repetiria o cenário, e alguns apostam até no mesmo desfecho, uma eleição acirrada na zona urbana com a zona rural definindo a eleição.

É uma possibilidade, porém acreditar na repetição da história não é fato, pois a eleição de 2004 tinha suas particularidades assim como 2012 tem as suas. E é bom lembrar que nem Queiroz é João Lyra, e nem Miriam é Tony Gel. E como disse Marx ao comentar a respeito da repetição da história: “(…) os fatos e personagens de grande importância na história do mundo ocorrem, por assim dizer, duas vezes. (…) a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa.”

Nesse momento de largada as estratégias e os desafios dos três postulantes, já estão começando a se delinear no horizonte e se somarão as outras variáveis que tornam esse pleito diferente de 2004. Miriam vem usando duas linhas de ação em sua campanha. Uma, é a da força da mulher, da sensibilidade, do instinto feminino de cuidar e proteger a população.

O principal não seriam as obras frias de concreto, mas sim de cuidar das pessoas. Uma tática que pode dar certo ao repelir o principal mote da campanha de Queiroz, que vem sendo propalar que o alinhamento com os governos federal e estadual, que transformarão a cidade num canteiro de obras. Além disso, Miriam vem usando o seu currículo como deputada e de ter sido candidata a vice-governadora, para rebater a falta da experiência, que vem sendo colado nela.

Os desafios de Miriam são vários em relação a 2004, o primeiro ela não tem o peso da máquina a seu favor, como seu marido tinha, o que desequilibra o processo e interfere bastante no cenário. Ela também precisará ter um desempenho pelo menos razoável nos embates, diferente de seu marido, que é um excelente comunicador, e evitar cometer qualquer gafe gritante que seria amplamente usada contra ela, nessa época de redes sociais. E o fundamental, consolidar a sua imagem como gestora competente e autônoma e não um poste ou laranja de Gel, desviando ao máximo da associação com os 08 anos de Tony e Neguinho, debatendo o futuro e não o passado.

Quanto a Fábio, o desafio é o de se consolidar como uma nova via nessa eleição polarizada. Nesse pleito, Fábio é o único candidato alternativo que há, diferente de 2004, e existe todo um vácuo a ser preenchido, uma verdadeira avenida na qual ele pode avançar sozinho. Nesse vácuo estão os eleitores cansados dessa polarização de Caruaru com um perfil diferenciado, com alta escolarização e renda, que são formadores de opinião na sociedade local.

Eleitores, que ainda não o conhecem bem, e que poderão ser atraídos para sua base de apoio, se ele se consolidar como uma alternativa firme e competente a esse embate entre carne de sol e charque, que marca toda eleição da cidade.

Porém, Fábio terá desafios gigantes. O primeiro é a estrutura. Os seus dois adversários têm lastro financeiro e o mesmo não conta com isso. Segundo, se a Miriam cabe evitar o desastre na mídia, a Fábio cabe, ter um desempenho excelente para conquistar esse eleitor diferenciado e compensar o pouco tempo de guia, o mesmo deveria se inspirar em Edilson Silva e Plínio de Arruda Sampaio, do seu partido PSOL, em como quebrar a polarização entre os rivais e se mostrar como candidato viável a prefeito.

Terceiro, evitar a pieguice que foi usada no primeiro debate, na hora de apresentar seu perfil. Embora deva ressaltar sua origem humilde e popular, e a sua luta na superação das adversidades, o mesmo não deve se colocar como vítima do sistema, de coitadinho. Pois assim corre o risco de cair no ridículo, ele é candidato a líder da principal cidade do interior de Pernambuco e não a um benefício do bolsa família.

E por último Queiroz, as lembranças de 2004 podem lhe tirar o sono, porém existem algumas diferenças básicas, entre as quais elencamos: ele tem a máquina na mão com toda a sua força, mas sofreu um desfalque de peso, a ausência de João Lyra. Em 2004 os grandes líderes da Frente Popular marcharam juntos, superando quase uma década de afastamento, nessa eleição João ausentou-se do processo, rompendo publicamente com o prefeito. Embora Queiroz tenha o apoio de líderes bem avaliados, Lula, Dilma e Eduardo, o mesmo sabe que há uma expressiva parcela de eleitores na cidade que seguem a Lyra e que farão falta num pleito que promete ser acirrado.

Até que ponto o apoio de figuras externas a Caruaru compensarão a falta de João é a incógnita, talvez por isso que Queiroz ainda insista em citar e manter uma vinculação com Lyra para tentar manter esse voto. O prefeito tem que evitar o crescimento de Fábio, pois o mesmo tira votos dele e não de Miriam, o que remete ao pleito de 2004, quando os candidatos nanicos embolaram o resultado, Gel embora não tendo a maioria dos votos venceu, e esse é o cenário que Queiroz quer evitar. O diferente é que os nanicos na eleição passada tinham voto concentrados na zona urbana e Fábio vem apresentando um crescimento na Zona Rural, o que poderá tornar a votação da zona rural mais adversa a Frente Popular.

Queiroz tem que reconquistar ao máximo o eleitor que ele perdeu na cidade e principalmente na zona rural, de desconstruir Miriam, e para isso vem apelando para o discurso do medo, repetindo que sem ela os recursos parariam de vir e que o atraso quer voltar, estratégia de sucesso duvidoso. Bem como tentou e conseguiu jogar FHC e Gel no colo da adversária. E principalmente, é necessário empolgar a sua militância, que está muito apática nessa largada, colocar a campanha na rua, achar que o guia eleitoral resolverá tudo pode ser uma aposta arriscada, pois até o mesmo começar em 20 de agosto, o eleitor já pode ter consolidado o voto.

Por isso tudo que essa eleição pode ser um déjà vu, ou pode nos reservar grandes surpresas pelas suas particularidades, tudo depende dos movimentos que serão feitos ao longo dos quase dois meses de campanha e dos detalhes. Se a eleição de 2004 trouxe uma surpresa no resultado final e por isso entrou para a história, nessa serão os detalhes que poderão definir o resultado. Afinal uma pequena pedra começa uma avalanche.

*Mário Bening é analista político