Maria é uma pessoa humilde que veio de família pobre. Natural de uma cidade do interior, ela se mantém com o ofício que aprendeu da mãe: é costureira desde os 13 anos de idade. Hoje, aos 65 anos, dona Maria vive só na casa em que um dia conviveu com seu marido e seus 05 filhos. O seu sustento vem de encomendas de famílias da cidade que já a conhecem por seu dom na costura. Dona Maria, que nunca entendeu como os ricos arrumam tantas festas para ir, agradece a Deus por ainda ter de onde tirar seu sustento.
É época de eleição na cidade de Maria, o que pra ela não significa muita coisa, a não ser por alguns serviços extras que consegue nesse período. “Tu não sabe as meninas que me aparece pra eu apertar a camisa pra elas irem pra festa da política.” conta ela pra dona Zefa, sua vizinha.
Na cidade de Maria existem dois candidatos a prefeito: Chico e Manoel. Dona Maria não conhece nada dos candidatos, a única coisa que Maria percebe é o alvoroço nas ruas, o barulho, a sujeira, os carros e as cores do verde do Chico e do laranja do Manoel brigando por cada espaço na cidade.
A verdade é que, independente de Chico, Manoel ou qualquer outro que venha a ser prefeito, Maria não percebe nenhuma mudança importante na sua comunidade. As reclamações são antigas e as mesmas: a sua rua ainda é de barro, o posto de saúde continua em situação precárias, falta escola, o número de assaltos assusta e ela não percebe como nada disso pode mudar. E assim, ela ainda não decidiu em quem vai votar ou se mesmo vai votar em alguém.
Zefa, a vizinha e amiga, vai votar em Chico, o atual prefeito. Ela tem uma sobrinha que trabalha na prefeitura e que lhe ajuda às vezes com uma feira, “um dinheirinho”, um agrado aqui e outro ali. A casa de Zefa está toda verde, ela só anda de verde e até na sua bolsa tem um adesivo de Chico. Dona Zefa já tentou convencer Maria várias vezes mas ainda não sentiu que ganhou o voto da sua vizinha, como prometeu para sua sobrinha que iria – o dela e o de mais outras vinte pessoas.
Vai haver uma carreata no bairro de dona Maria, logo depois da feira do sábado. Maria não tinha o menor interesse em estar no meio daquele barulho todo mas quis o destino que ela se encontrasse no meio da militância quando voltava para casa.
Maria nunca tinha visto tantos carros. Tinha gente sentada nas janelas, gente andando no meio e até gente em cima dos carros. O verde de Chico dava cor a tudo e estava em todos os lugares: nas casas, nos carros, nas bandeiras e nas pessoas.
Na frente de todos os carros, numa caminhoneta aberta, estava Chico, em pé e espalhando saudações para todos. Dona Maria reconheceu Chico pelas milhares de fotos suas espalhadas na cidade. De repente a caminhoneta onde estava Chico parou, ele desceu e começou a apertar a mão das pessoas que estavam por ali. Quando Maria se deu por conta o prefeito estava na sua frente, lhe estendendo a mão para cumprimentá-la. Quando ela apertou a sua mão vários flashes piscaram e ela viu os fotógrafos todos mirando as suas câmeras para ela.
Depois disso o candidato Chico voltou para a caminhoneta e Maria viu, ao som do jingle de refrão viciante, dezenas de fogos explodirem acima da rua fazendo um verdadeiro espetáculo. Dona Maria ficou encantada com todo aquele show e naquele momento decidiu: iria votar em Chico.
Maria agora era Chico dos pés à cabeça. Chico virou seu ídolo. A foto, que sua vizinha Zefa conseguiu com sua sobrinha dias depois, ela mandou emoldurar e pendurou ao lado da foto de seu falecido marido na sala de sua casa, mostrando com orgulho a todos que a visitavam. Sempre que saia às ruas e via os adesivos e bandeiras de seu candidato Maria ficava alegre e sentia, mesmo sem saber, que agora fazia parte de um grupo, de um time, de uma família.
Chico foi eleito e passou mais 04 anos como prefeito. Maria ainda guarda com orgulho a foto do seu candidato, em quem sempre vota e milita a favor. A sua rua continua no barro, o posto de saúde continua precário, ainda falta escola e dona Maria um dia desses foi assaltada em frente à sua casa, mas agora ela tinha um ídolo na política: seu Chico.