Notícias alardeiam que a negociação entre o executivo e parte do legislativo (Câmara dos Deputados) beira o abismo do antiético, ou, utilizando-se da expressão da moda, de negociações não republicanas.
Parte do legislativo, ligado ao chamado baixo clero e a partidos de centro direita, exigiu a abertura de dois ministérios (integração nacional e cidades), e posterior entrega dos mesmos ao “centrão” como condição de votação para as propostas do governo, além da manutenção da governabilidade.
O legislativo aposta no enfraquecimento do executivo para instalar um chamado parlamentarismo branco, onde não haveria uma independência ou autonomia do parlamento nacional, mas uma superposição de um poder (legislativo) sobre o outro (executivo) com, inclusive, a entrega de parte do governo ao chamado centrão, que, de acordo com as conveniências e práticas fisiológicas, conduziria ao sem bel-prazer o que entende por política nacional de interesse pessoal e partidário.
No entanto, o governo federal não cedeu e a crise se instalou. A promessa de ministérios em troca de apoio político foi por água abaixo – não haverá esse tipo de concessão por parte do executivo.
A queda de braço que se avizinha entre legislativo e executivo travará ainda mais a administração de um país em crise, com um desemprego galopante e o aprofundamento do abismo social.
O centrão é uma força política que, apesar de ser ligado a chamada “velha política”, não pode e nem deve ser ignorado. Por causa do centrão Dilma Rousseff foi cassada, e os governos Lula e Temer tiveram sua governabilidade garantida.
O centrão fez parte de todas as gestões desde a redemocratização, e, apesar de ter perdido muitos de seus maiores expoentes, como Eunício Oliveria, Edison Lobão, Garibaldi Alves, Romero Jucá entre outros, sua influência ainda é grande. Sob sua batuta, estima-se que estão 242 parlamentares (47% da Câmara).
Com o governo acuado pela base parlamentar e sem alternativas para dialogar ou mostrar força política, promoveram-se manifestações em todo país, fomentadas de forma velada por parte do governo com a participação de movimentos ligados ao Presidente.
Muitos foram os alvos das manifestações/protestos/apoio, um pouco de cada coisa. No centro das discussões o congresso nacional, e mais ainda o centrão, que na visão dos que foram para rua atrapalham o governo e o país. A oposição, antes isolada nos partidos de esquerda, começa a ganhar força e coro na insatisfação do centrão.
Acontece que um não viverá sem o outro (Bolsonaro-Centrão), alguém tem que ceder, ou algum lado tem que sucumbir. A travessia inconciliável de forças do parlamento e a forma de governar e negociar do executivo fará nascer uma crise entre poderes sem precedentes na história do país, gerando paralisa econômica, travamento de pautas importantes, criando um ambiente político acirrado, tempestuoso e instável.
Não se pode fazer omeletes sem quebrar ovos. Ficamos com uma visão mais rebuscada do pensamento rasteiro dito por Dante Alighieri que asseverou: “uma vontade, mesmo se é boa, deve ceder a uma melhor”.
*João Américo é advogado