A provável candidatura do Governador Eduardo Campos à presidência provocou um rearranjo do tabuleiro político nacional nos mais diversos espectros políticos existentes no Brasil. Até meados do ano passado, o Governador e o seu Partido, o PSB, eram vistos como integrantes da coligação para a reeleição da Presidente Dilma. Foi com essa percepção que o PT nacional, buscando uma relação amigável com o seu aliado histórico, deu-lhe carta branca para conduzir o processo eleitoral na capital pernambucana, atropelando o diretório municipal e tolerando a perda da Prefeitura do Recife, após 12 anos de supremacia do PT, em nome dessa aliança.
O que chamou a atenção nesse processo foi que, durante a campanha eleitoral, o Governador se reaproximou de adversários ferrenhos, tanto do PT quanto, do seu avô Arraes. O que era pra ser uma sucessão entre velhos amigos transformou-se numa verdadeira frente antipetista. Aglomerando os membros da extinta União por Pernambuco, tendo como expoente máximo o ex-adversário, o Senador Jarbas Vasconcelos, que agora acumula também o papel de porta-voz de Eduardo Campos.
Logo após o resultado, as especulações campearam por todo o país, o processo eleitoral em Recife seria apenas uma prévia, com o sucesso e exposição obtida pela vitória o próximo passo de Eduardo Campos seria um voo solo à presidência do país.
Até o momento a candidatura de Eduardo Campos tem sido estimulada tanto por membros da base do governo quanto da oposição. Aos aliados interessa o flerte com o PSB para assim recuperarem espaços no consórcio governista após serem expurgados pela faxina da Presidente. Foi assim com o PDT e com o PR. À oposição interessa a sua candidatura para dividir os votos de Dilma e levar a eleição para um segundo turno, evitando uma eleição plebiscitária como foi em 1994 e em 1998.
Apesar das negativas do Governador, em suas andanças pelo país, em assumir a sua candidatura, embora aja, fale e articule como candidato, no seu entorno seus aliados mais próximos colocam que a mesma já está sacramentada e a ruptura com o PT é questão de tempo. Diante dessa possibilidade abrem-se inúmeros cenários possíveis para a sua candidatura presidencial.
A primeira é a que envolveria os menores riscos ao seu partido: sair candidato agora para tornar-se conhecido nacionalmente e ter um recall para a campanha de 2018, quando disputaria livremente e sem amarras. Com a saída de múltiplas candidaturas a eleição seguiria para um segundo turno com a tradicional polarização PT X PSDB, e tal qual o filho pródigo retornaria à seara petista, apoiando a presidente e garantindo a sua reeleição, podendo ocupar um ministério que lhe dê visibilidade. A segunda possibilidade seria tentar romper com a tradicional bipolarização PT X PSDB, correndo em faixa própria, apresentando-se como a união das melhores características dos dois “mundos”, o desenvolvimento social com um choque de capitalismo.
Para tal fato seria necessário romper com uma das tradições que remontam a nossa independência, o bipartidarismo, desde os liberais x conservadores, monarquistas contra republicanos, passando pelo PTB versus UDN, Arena contra MDB, até atual PT X PSDB. Desde o nível nacional até a escala local nunca tivemos tradição de uma terceira via. Uma candidatura assim, paz e amor, que não se indispõem com ninguém, insossa e inodora tem poucas chances de empolgar, afinal os eleitores preferiram os legítimos defensores de suas bandeiras e não uma candidatura híbrida, que vai de encontro a máxima político tem que ter lado.
A terceira seria um envelhecimento precoce do Governo Dilma como consequência do recrudescimento da crise mundial afetando em cheio o país. Com inflação sem controle, desemprego em alta, estagnação econômica, nesse cenário de caos, sem Lula assumir a candidatura pelo PT, ele se colocaria como o legítimo representante do lulismo; fazendo aquilo que a Presidente não foi capaz ou ousou fazer. O difícil nesse cenário é porque a tendência política ante o colapso econômico é o eleitor migrar para o espectro político oposto. Na Europa, onde havia governos de direita assumiu a esquerda, na França com François Hollande e onde era esquerda assumiu a direita como no Reino Unido, com David Cameron. Um colapso nacional beneficiária mais o PSDB do que o PSB, afinal durante mais de 11 anos ele participou do governo e só na reta final o partido notou algo errado?
A quarta seria o equivalente a Júlio César ao cruzar o Rubicão, o rio que separava a Gália do território romano, um caminho sem volta, onde a sorte seria lançada. Colocando em movimento uma reedição ampliada dos acordos testados em Recife, compor com um vice de esquerda, talvez o Senador Cristovam Buarque, para adquirir uma grife social, mas aliar-se com a direita tradicional reeditando a frente anti-PT. Para isso matando no nascedouro a candidatura de Aécio Neves, colocando-se como mais viável, mais palatável ao eleitorado do que o senador mineiro. O problema não é compor com a direita afinal estão no governo o PR, o PP e o PMDB, mas compor com a direita ideológica e neoliberal que fez oposição cerrada tanto a Lula quanto a Dilma, e as políticas de inclusão social, o PROUNI, as cotas, a expansão das universidades públicas entre outras, nesse caso o DEM, o PPS e a ala Serrista do PSDB.
Se por um lado ele conquista o eleitor de direita, perde o de esquerda, e há a incógnita de como o eleitor de centro julgará essa metamorfose radical. E o pior cenário possível seria a derrota de Dilma com o PSDB assumindo a presidência. Pois assim ele entraria para a história como o responsável pelo fim de um projeto de esquerda, por pura vaidade pessoal, por puro capricho, o que tornaria o seu partido, o PSB, de uma novidade na esquerda para um PPS 2.0, um partido esvaziado ideologicamente e sublegenda do PSDB. Encontrar o nicho certo, o caminho certo é o maior desafio da candidatura do Governador, afinal ninguém é candidato de si mesmo, pois o seu discurso tem que encontrar ressonância junto à sociedade. São tantos os cenários e possibilidades nesse caso, algo tão distante de 2014, que pode acontecer tudo e inclusive nada.
*Mário Benning é professor e analista político