Opinião – Caruaru e suas academias literárias – por Jénerson Alves*

Mário Flávio - 18.05.2020 às 16:28h

A grandeza de um povo é diretamente proporcional à sua habilidade no uso da linguagem. Em uma rápida visão histórica, podemos traçar relações entre a corrupção da língua e o declínio das nações, bem como o esplendor de uma costuma coincidir com a glória da outra. Basta lembrar que a fase clássica da literatura latina corresponde à denominada ‘Época de Augusto’, o ápice das conquistas romanas.

Pois bem; espaços de produção, reflexão e difusão literária despontam em Caruaru. Uma delas é a Academia Caruaruense de Cultura, Ciências e Letras (Acaccil). Fundada em 18 de maio de 1982, a Acaccil sempre abraçou a responsabilidade de promover as letras e a história da cidade. Seu primeiro presidente foi o professor Mário Menezes, e nomes como Walter Andrade, Arary Marrocos, Onildo Almeida, Emanuel Leite e Agildo Galdino abrilhantaram e abrilhantam a entidade.

A sinergia da produção literária do município também fulge nas letras populares. A Academia Caruaruense de Literatura de Cordel (ACLC) completa 15 anos em 2020, construindo um legado de fortalecimento da poesia popular. Nomes da estirpe de Nelson Lima, Zé Vicente da Paraíba, Dilma França, Cilene Santos, Dorge Tabosa, Hérlon Cavalcanti, Olegário Filho, Paulo Pereira e Mestre Dila também imprimiram e imprimem suas marcas na ACLC.

Atualmente, o mundo vivencia um contexto no qual a literatura encontra-se diluída nas mais distintas manifestações culturais – a exemplo do teatro, da música, dos quadrinhos e do cinema. Então, é comum que o entretenimento tome o lugar da arte. Por isso, a existência de entidades feito as academias literárias de Caruaru representa desenvolvimento do lugar. Afinal de contas, a inteligência advém do domínio da linguagem.

A transformação que a literatura produz no indivíduo reverbera na sociedade. A poesia expressa o intraduzível, alterando a ordem social por meio da expansão do horizonte de consciência. É como afirma o professor Fausto Zamboni: “a criação literária corresponde ao empenho de buscar o sentido da vida, de ordenar os acontecimentos, as percepções, as emoções, as expectativas humanas em busca da sua inteligibilidade”.

Neste período de isolamento social, a literatura é um ideal de liberdade. Assim como os filósofos gregos amavam a sabedoria sem tentar possuí-la, quem mergulha no oceano literário dialoga com sábios de várias épocas e lugares e amam o Belo, o Bom e o Verdadeiro.

*Jénerson Alves é jornalista e poeta