Opinião – Democracia e cidadania no País de Caruaru – por Arnaldo Dantas*

Mário Flávio - 20.07.2012 às 09:00h

O filósofo Paulo Ghiraldelli Jr, diz que a atividade filosófica autêntica é a desbanalização do banal. Isto significa desconstruir as aparências que maquiam a realidade que nos cerca, desmistificar o que muitos acreditam ser óbvio, o certo, o sagrado e o verdadeiro. Em suma é inverter a lógica da perversidade, passividade e mediocridade em que estamos inseridos.

Seria muita presunção exigir que nossos candidatos a cargos majoritários ou proporcionais fossem filósofos, mas em uma cidade como Caruaru, o mínimo que se exige, e o que o bom senso pede, é que se leve a disputa eleitoral a um patamar mais elevado e sofisticado de discussão, que os imbróglios circenses, os espetáculos demagógicos, as ideias mirabolantes e as propostas infundadas, não deem o tom ao embate político.

O ponto de partida para reversão desta insanidade eleitoral, se iniciaria quando os protagonistas deste processo se situassem no tempo e no espaço, no qual existe a Caruaru real. Comecem a pensar a cidade neste contexto e seus moradores como cidadãos e quais são suas demandas. Vivemos em um momento eleitoral marcado pela despolitização em um ambiente caótico em que a modernidade midiática das campanhas combina-se com as tradições arcaicas historicamente calcadas no paternalismo, personalismo e clientelismo.

É neste contexto que emerge um eleitor individualista e pragmático, alienado de sua realidade social, que não possui identidade com sua cidade e muito pouco se sente parte dela, tais indivíduos entendem o processo eleitoral como um comércio, no qual a relação custo benefício tem por finalidade o voto.

É neste vácuo de excentricidade política, de delírios e ilusões eleitorais, que alguns atores da sociedade civil caruaruense conceberam o fórum: CARUARU: A SOCIEDADE PENSA A CIDADE, que busca discutir a política e a cidadania, a partir dos seguintes princípios e pressupostos:

1 – Pensar a cidade, não apenas como território ou uma instância administrativa, e sim como um espaço de poder local, que possui uma identidade coletiva expressa em valores e normas interiorizados por seus membros;

2 – Construir canais e mecanismos de diálogo, entre a sociedade civil e o poder público, valorizando os processos de descentralização e horizontalização das instâncias decisórias, articulando o desenvolvimento ambiental e a qualidade de vida;

3 – Pensar o novo e o moderno no município de Caruaru, demanda uma nova cultura política, que passa pela descentralização e democratização da vida social, bem como, pela educação e organização das comunidades, procurando fazer nascer o espírito crítico e criativo;

4 – Repensar as formas e as práticas de se fazer política e de se exercer a cidadania é colocar em xeque toda uma herança autoritária, paternalista e clientelista que persiste em se perpetuar em pleno século XXI;

5 – Neste cenário torna-se urgente a construção de uma agenda positiva e prepositiva para a Cidade, que tenha como eixo: a participação, a informação, a identidade, a gestão e a articulação, que são elementos fundamentais e estratégicos do processo de edificação do poder efetivamente popular;

6 – Buscar uma nova forma de entender e compreender a política na sua essência e excelência é entendê-la como instrumento que conduza os mais diversificados processos sociais, qual estimule o envolvimento dos diferentes atores na tomada de decisões e gestão da Cidade;

7 – Desenvolver tecnologias gerenciais capazes de canalizar as demandas, propiciando a geração de consenso e permitindo o planejamento, controle e coordenação em um contexto não tecnocrático, que redesenhe as relações entre o poder público, as comunidades carentes e excluídas e o setor privado;

8 – Pensar a estrutura de gestão, plural e policêntrica, que dê significado sócio- econômico à Cidade e resgate a dignidade de seus cidadãos. A começar pela discussão do Estatuto da Cidade que colocou como uma de suas garantias o direito à cidade sustentável, entendido como o direito à terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, à infraestrutura urbana, ao transporte coletivo, aos serviços públicos, ao trabalho, ao lazer e à cultura.

Com base no Estatuto da Cidade podemos dar um novo significado ao Plano Diretor no que tange ao planejamento, à organização, à regulamentação, á indução e ao controle no processo de produção da cidade. Uma cidade onde todos usufruam da mesma cidadania.
Pensar a cidade e o direito à cidade é o objetivo do Fórum, é uma fórmula nova, mas acreditamos permanente, de se fazer política, de possibilitar aos atores sociais a refletirem sobre sua condição de cidadãos e sobre a coletividade a que pertencem, na construção de uma agenda política para Caruaru que não se resuma em eleições e muito menos no ato de votar.

*Arnaldo Dantas é professor e analista político