Opinião – Desafios, ameaças e esperanças para o PT – por Paulo Nailson

Mário Flávio - 12.01.2015 às 16:44h

“Saltou como vidro a estrela de sonhos
cultivados no lado esquerdo do peito. O que fazer com o gume vivo, com os estilhaços dos nossos sonhos, se quando estendo a mão me ferem os dedos? Recolho os cacos num pano de seda vermelho-escuro como bandeira de lágrimas, que trago de antigas batalhas.” (Pedro Tierra)

O PT está atualmente organizado em 56% do território nacional, com 2.767 Diretórios Municipais e 377 Comissões Provisórias. São 35 anos que serão comemorado em breve e, quais são os principais desafios da legenda trazendo para nossa realidade municipal?
Recentemente eu li dois artigos distintos refletindo sobre o Partido dos Trabalhadores. Os dois textos são interessantes e tem em cada um de seus expositores seu valor e contexto. Quero deixar, mas esta contribuição, a poucos dias de mais um aniversário do partido, para expressar minha opinião (mesmo ainda desvinculado como filiado, nunca deixei de permanecer dialogando com os companheiros e companheiras sobre questões cotidianas do partido), como muitos, me inquieta e entristece certas situações e circunstâncias. E faço pensando mais naqueles que estiveram a favor do projeto do PT sem depositar necessariamente a confiança na direção do mesmo, esses eu creio andam com pés no chão não alimentando ilusões.

Desafios: Ampliar a organização do PT em todo município (inclui claro a zona Rural), principalmente nos bairros com os antigos núcleos de base, isso prepara melhor o partido para as eleições de 2016. As chances de ter no Executivo e Legislativo dirigentes com capacidade de dialogar com a realidade destes bairros estaria bem mais fácil. Considero esta uma importante tarefa do Partido este ano;

Nos bairros e além destes (Associações, Sindicatos, etc.) filiar e formar quadros com boa articulação política e social, capaz de ampliar a inserção do PT na esfera sociedade;
Enxergar, reconhecer e reforçar cada vez mais a atuação de petistas na gestão, o problema é que a disputa interna é tão grande que os avanços de um companheiro ou companheira são silenciados ou ignorados, se não for interessante para esta ou aquela corrente interna no comando; É preciso torcer pela ascensão do membro do partido apontando as conquistas relevantes para a sociedade enquanto servidor, evitando desconstruir sua imagem ou torcer por sua queda ambicionando seu cargo;

Entender que o PT governa o país, como alguns dizem, vencendo há quatro pleitos, orientado por uma perspectiva estratégica que é “capitalista democrática” (relação sempre difícil), mas que isso está chegando a um limite, que estratégias existem para que não haja um retrocesso histórico (quase isso aconteceu) e pensando nisso, chegamos às…

Ameaças – Se prevalece o rumo que o partido está alimentando estará cada vês mais distante dos objetivos históricos. A conseqüência será um retrocesso que levará toda sociedade a um desacumulo de forças. Nesta fase “adulta” é preciso encarar a realidade que se não agir diferente o inevitável acontecerá, seja derrotas nas urnas que vão fragilizando ou quem sabe, até mesmo um golpe. Isso sem contar com as perdas causadas pelos líderes petistas que vão sendo cooptados, enquanto vemos petistas históricos ou comprometidos se afastando da legenda ou sendo neutralizados internamente, tanto em âmbito nacional como local. Porém…

Há Esperança! Entre elas alguns gestos (ainda que seja difícil ver na prática e que nem são divulgados): recentemente a Direção Nacional decidiu não mais aceitar contribuição de empresas em suas campanhas eleitorais; Também além dos presidentes, governadores e prefeitos eleitos, seus deputados e senadores não mais poderão concorrer a mais de dois mandatos; E ainda que estão afastados os dirigentes e militantes envolvidos em processos judiciais referentes à corrupção, de modo a não atrapalhar as investigações e demonstrar sua decisão de expulsá-los, caso as acusações de confirmem. Estes gestos precisam ser divulgados e incorporados nas práticas municipais.

Para além das festanças do aniversário, o Partido se prepara para a segunda etapa do 5º Congresso Nacional que ocorrerá entre os dias 11 e 14 de junho, em Salvador, na Bahia. As discussões começam aqui, no município e depois nos estados. Antes de discutir se vai ter candidato(a) ou não à prefeitura o PT tem que voltar a ativar a sede e mantê-la aberta e funcionando facilitando o acesso de seus filiados e afins. Precisa analisar profunda e sinceramente se a linha política, estratégia, programa e teorias alimentadas pelos que compõe a maioria na direção atual (isso determina os rumos) estão certos e são frutos da decisão de uma maioria legítima (e não de alguns ‘iluminados’), caso contrário os “efeitos colaterais” de certas decisões, opções ou omissões nos principais temas em pauta na cidade vai descaracterizar completamente a legenda.

Começo e termino com Pedro Tierra:

“Recompor a estrela com a memória e a paixão, embora daqui do ocaso que me dissolve com sua sombra, não seja possível distinguir as mãos que se dispõem ao árduo ofício de recompô-la.”

*Paulo Nailson é colaborador