Opinião: Dilemas da vida – por Paulo Nailson*

Mário Flávio - 23.02.2015 às 12:48h

“A natureza são duas. Uma, tal qual se sabe a si mesma. Outra, a que vemos. Mas vemos?
Ou é a ilusão das coisas?

Quem sou eu para sentir
o leque de uma palmeira?
Quem sou, para ser senhor
de uma fechada, sagrada
arca de vidas autônomas?

A pretensão de ser homem
e não coisa ou caracol
esfacela-me em frente à folha
que cai, depois de viver
intensa, caladamente,
e por ordem do Prefeito
vai sumir na varredura
mas continua em outra folha
alheia a meu privilégio
de ser mais forte que as folhas.

Em seu livro “A Paixão Medida” Carlos Drummond de Andrade, abre com esse poema “A folha”, versos que expressam a dúvida do poeta acerca do estar-no-mundo.
E com Drummond vou pensando quantas vezes somos levados a achar que cenas do cotidiano são verdades, e, essas mesmas são um dia reveladas como ou enganos de percepção?

Como o poeta, vejo o ser humano com limitação, fragilidade, vulnerabilidade e sentimentos de impotência. Mas ao mesmo tempo, em vários momentos das nossas vidas, nos percebemos mais forte do que as folhas, assim como diz a poesia inteira.
Quantas vezes ainda conseguiremos vir-a-ser constantes em nossa individualidade? Até onde conseguiremos manter “vidas autônomas”, cientes que ser si mesmo é uma pretensão possível ainda que dolorosa? Sendo todos e todas, gente que ama, sofre, cai, levanta, pode e não pode, busca superação e às vezes sucumbe, e ainda quantas vezes nos vemos desrespeitados pelo Poder perversos dos “Prefeitos”?

Ainda vagueando em meus pensamentos dou de encontro com “O Pensador” que acrescenta: “Nós somos vítimas da violência estúpida que afeta todo mundo,/ menos esses vagabundos lá da cúpula corrupta hipócrita e nojenta/ Que alimenta a desigualdade e da desigualdade se alimenta/ Mantendo essa política perversa/ Que joga preto contra branco, pobre contra rico e vice-versa/ Pra eles não importa, gente viva ou gente morta/ É tudo a mesma merda/ Enquanto a gente sua e morre/ Só os bandidos de gravata seguem faturando e descansando em paz…/ Enquanto esses covardes continuam livres, nós só temos grades…” (Gabriel o pensador – Nunca Serão).

A CENA SE REPETE
Como um filme que reprisa, a cena se repetiu. Assim como antes me expresso após refletir, não é um relato e sim uma opinião, permaneço sem condições de julgar, mas não consigo silenciar. Há várias nuances nesta história. E, enquanto os que permanecem foragidos assim continuar entendo que predomina a ineficiência e desigualdade na ação. A justiça tem que exaurir todo processo e chegar até onde precisa, pois, mas do que rapidez na resolução de casos como este estou entre os que anseiam pela igualdade de tratamento. Ainda assim fica a lição do quanto precisamos estar atentos a lei da semeadura.

Nas questões humanas todos enfrentamos tempestades áridas. Dilemas nos colocam diante de situações de conflitos e escolhas precisam ser feitas. Ao decidirmos por algo estamos rompendo também com outras coisas, sentimentos ou pessoas que precisam e devem ficar para trás. Na compreensão da fé cristã, não farisaica, moralista e muito menos sectarista, encontro afago e me quedo, para poder caminhar junto com os que sofrem e, até mesmo, colocar-se no lugar deles, assumindo também a sua dor. Só Aquele que no futuro surpreenderá muita gente transformando derrotas em vitórias incontestáveis, sabe o desfecho da história de cada um.

“Chorar com os que choram” traduz com mais eficácia e relevância o ideal cristão diante dos dilemas humano. Mais do que qualquer outra divagação filosófica ou ideológica é uma demonstração de humanidade e amor deixada pelo único Perfeito.

*Paulo Nailson – É colaborador