Opinião – Era uma vez… Um teatro – por Kelly Moura*

Mário Flávio - 09.10.2013 às 07:55h

Teatro em Caruaru…um ato de resistência!

“Quando eu era menino, quase sempre nú, eu era feliz no país de Caruaru…” Ao ouvir pela primeira vez – o verso citado, do compositor Carlos Fernando, achei engraçado o termo “país de Caruaru”, acreditei ser um momento de exagero por parte do poeta com sua terra natal, mas depois percebi que é um sentimento saudosista que ronda os que nasceram no solo da “Caruaru azul palavra”. Por aqui desfilam talentos na música, dança, literatura e no teatro, sim, teatro, repito TEATRO, somos a terra do TEA (Teatro Experimental de Arte) com seus 50 anos de história, do Grupo Feira de Teatro Popular, com seus prêmios APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte), Moliere (prêmio de maior importância do teatro brasileiro).

Somos a terra de “Seu Prezado” (Cosme Soares), aquele que encantou a vida e o mundo e deixou sua marca no cinema no filme ”O velho, o mar e o lago”. Somos da terra de Sebá Alves o mestre da resistência do teatro de bonecos (mamulengos). Ao mesmo tempo que começo a acreditar que o querido Carlos, tinha razão ao relatar suas peripécias de menino no país de Caruaru… A realidade teima em me mostrar a província que Caruaru vem se tornando, um lugar sem memoria, governantes sem sensibilidade com seus artistas e um local sem nenhuma política cultural em ação…

O proposito desse texto é para relatar o total descaso, com o teatro João Lyra Filho, a casa dos artistas caruaruenses! Trinta (30) anos de nossa história foi contada naquele palco, o prédio hoje encontra-se em situação precária, é o registro de como nossos governantes não se preocupam com a arte e os artistas da nossa cidade. Nada mais funciona… O telhado em ruínas, rede elétrica e hidráulicas sem manutenção desde sua inauguração, janelas quebradas e o pouco que resta em funcionamento, se dá graças ao trabalho de formiguinha da Associação do Artistas de Caruaru, através de Jô Albuquerque, que sem recursos resiste ao inevitável.

Bem, alguém pode se perguntar: como chegamos a esse ponto, se há bem pouco tempo, foi anunciado uma reforma ampla? Parecia ser de verdade… Reinauguram com todas as pompas de uma grande novidade, estenderam tapete vermelho, convocaram a imprensa e o resultado da “grande intervenção”: pintar as paredes, colocar quatro aparelhos de ar condicionado e reorganizar uma área externa, que é de pouca utilidade para o objetivo de TEATRO.

Como sempre ficamos no campo das promessas, a reforma do telhado, não veio!, Revisão elétrica e hidráulica, não vieram! Entram e saem períodos eleitorais e só promessas, a cidade com mais de 300 mil habitantes, não possui um teatro municipal, pois esse a que nos referimos é de propriedade da Fundação Assistencial e Cultural de Caruaru, pertencente a família, do vice-governador, que em convenio com a Associação dos Artistas, tenta administrar o prédio com todos os seus problemas. Por diversas vezes tentou ao poder público, viabilizar um prática que era comum em outra gestões municipais, a parceria com o município, o que não vem acontecendo atualmente e dessa forma, ficamos sempre a esperar que algum dia algo aconteça e a cidade passe a ter o seu teatro de volta.

Ficamos sempre pensando como deve ser bom morar na cidade do guia eleitoral ou na cidade das publicidades oficiais. Confesso que o desejo desta que vos escreve é que a solução seja rápida, que haja vontade politica para dar vida a cultura de nossa cidade. Que os nossos espetáculos possam ser concebidos e executados sem sofrer cortes por questões técnicas, que nosso iluminadores e sonoplastas não corram riscos ao executarem seus trabalhos.
Acredito que não seja pedir muito para o “País de Caruaru”.

P.S.: no ultimo dia 06/10/2013. O espetáculo “Amarelinha” foi interrompido por 3 vezes, por pane elétrica. Sua realização só foi possível pelo talento de seus atores.

*Kelly Moura – Produtora Cultural e Jornalista