Nada mais difícil na cultura política de nossa cidade que inserir-se na política de forma responsável, de forma transparente, e fidedigna. Aos olhos de muitos caruaruenses essa tarefa se limita as escolhas personificadas de alguns nomes da sociedade civil, que meses antes de qualquer eleição buscam acolher-se no alçapão de algumas legendas, para viver como pássaros presos sob as próprias escolhas. Parece que os adultos de nossa cidade têm falhado nessa missão, tem titubeado frente aos mandos de grupos que se revezam no poder local, mas já as juventudes de nossa cidade tem acompanhado o processo político, bem como se aliado às muitas ideologias saudáveis ao processo político-democrático, e parece vir delas as nossas maiores esperanças para com uma Caruaru diferente em suas próximas décadas.
Nossa cidade sempre foi um celeiro de lideranças jovens, de militantes estudantis. Esse ano, por exemplo, assistimos o falecimento de Fernando Lira, um dos grandes personagens de nossa história política, sorte que o tempo não tirou do coração de nossos jovens. Tão bonita tradição que vem acompanhada da pluralidade de ideias, posturas e ideologias. Não quero citar pessoas, para que não caia no erro de deixar de mencionar alguém, mas gostaria de destacar as muitas iniciativas de debates, palestras, e movimentações dos setores jovens, as tentativas de reuniões de jovens no desejo de participar da política, quero citar as juventudes do PT, PSDB, DEM, PMDB, PSB, e PSD.
A maioria destes jovens sobrevive em Caruaru, sem muitas vezes nenhuma ajuda das executivas partidárias, erram, acertam, mas dão uma grande contribuição, fazem um grande serviço a política em nossa cidade. Em Caruaru, tivemos durante o protesto do dia 22 de junho mais de 6 mil pessoas nas ruas, eu como muitos outros podem perceber, a maior parte se constituía de jovens esperançosos em um país melhor, em uma cidade melhor. Contudo, não basta ir só as ruas, deverá também muitos desses jovens darem efetivamente a sua contribuição para maiores mudanças na cidade através da via partidária, mas de uma forma nova, não submissa com fazem muitos.
O desafio é ser a vanguarda de uma nova cultura política na cidade que só se fará possível através do enfretamento, e da necessidade de os jovens ocuparem espaço na cena política municipal. Assim não devemos medir esforços para que mais jovens estejam em meio à política, disputando cargos públicos. Em 2012, ano de eleições municipais, 21% dos candidatos eram da fatia jovem dos partidos, com idades entre 18 e 34 anos. Um número, maior do que em 2010 (12%), vamos em Caruaru ajudar a elevar este número em 2016.
Para muitos de meus amigos, alguns nem tão amigos, outros colegas do mundo político, as legendas em Caruaru andam de muletas, sob a fisiologia de seus donos, são formas não-orgânicas, sem vida na cidade. Este engessamento é talvez o grande responsável pelo estado de indiferença da população com a política e de sua parcela jovem com a política partidária na cidade. É uma confissão penosa, nenhum partido foge à regra, é o caso, por exemplo, do partido ao qual só filiado, sem vida, sem movimentações, entregue ao desanimo e oportunismo político de alguns. É uma lástima, dado que fora do país de Caruaru, existem exemplos mais dignos que os nossos.
Para entendermos isso, basta lembrarmos que dentre os mais de 20 partidos presentes na cidade, grande maioria deles são constituídos de comissões provisórias, os mais famosos deles estão comprados, na verdade alguns foram emprestados há décadas a duas ou três famílias da cidade.
E o que fazemos nós emprestando nossa juventude a essas siglas partidárias, alguns podem perguntar. Talvez sejamos tolos, mas como sujeitos que sonham em contribuir com a construção de uma nova cultura política, com futuro de nossa cidade, com o bem estar da população, com debate democrático e a vida de nossas instituições públicas somos obrigados a se fazer presentes nos espaços partidários, pois em nosso atual regime democrático só se faz política através da via partidária e nela nos tornamos protagonistas de grandes mudanças.
Há outros problemas de nossa cultura política local, mas porque não buscarmos com seriedade, transparência, honestidade aos poucos desenvolver ações, debates, mecanismo de maior envolvimento da juventude nas entidades de classe, no movimento estudantil, nos movimentos sociais, nas associações de bairro, nos partidos, no uso das redes sociais. Essa é uma tarefa que exige foco, estratégia, destreza e coragem na missão de superar a cultura das oligarquias em nossa cidade, dos funcionários-partidários, das vaidades, e etc. Sabendo que esses bem como outros exemplos não deixaram de existir de forma rápida, acho que a ética nos chama a missão de fazer aumentar os bons exemplos na política, pois só com uma prática diferente das que já estamos acostumados a ver, será possível dar mais democracia ao “país de Caruaru”.
Outra preocupação dos jovens que fazem política deve ser a da autorreflexão, da entronização do principio que a promoção do bem comum, do respeito, está acima das vontades individuais. Essa é outra tarefa nada fácil, mas necessária. Em muitos momentos existirá a cobrança, eu particularmente já participei de algumas iniciativas do poder público local, dos protestos de rua, expressei o que penso sobre temas políticos e outros temas polêmicos de nossa cidade e não espero que todos venham a me entender, pois exercer o dissenso é difícil, faço como Reinaldo Azevedo: “Num país viciado no falso consenso, pretendo exercer o verdadeiro dissenso”. E quantos já não me perguntaram ironicamente, outros com cara de surpresa “você não é filiado?
Então que fazes ai?”, talvez alguns entendam que “revelia” não é um termo permitido a quem se torna “partidário”, ainda mais na cultura política de nossa cidade e de fato não é permitido, quantos já não foram expulsos, quantos já não perderam regalias, cargos e empregos. Mas atuar assim é fortalecer a lógica da cultura política de nossa cidade, que assim como em muitas outras tem por tradição nas legendas, a obediência tola e burra!
Talvez o maior dos desafios dos jovens que fazem política na cidade, seja se perceberem como agentes de sua própria história, história essa que em muitos momentos não obedece às ordens dos coronéis políticos, mas apega-se ao exercício do dissenso.
*John Silva – Graduando em História pela FAFICA, Presidente do C.A. de História Luzinete Lemos, Líder comunitário, e Presidente da JPSD Pernambuco.