Opinião – Manifesto dos Invisíveis em suas Vulnerabilidades – por Marcelo Rodrigues

Mário Flávio - 28.05.2020 às 10:24h

Existe ainda o debate entre os cientistas, de onde teria vindo o Covid-19? Na Organização Mundial da Saúde (OMS) a quem afirme que teria vindo de morcegos e queo famigerado vírus se espalha mais especificamente entre os mamíferos, mas não há certeza qual foi realmente o animal que transmitiu o coronavírus aos seres humanos, tudo ainda está na seara da especulação. 

No nosso Brasil, de um modo geral, mas especificamente em Caruaru, a pandemia tem trazido para os ditos vulneráveis de nossa sociedade como: mulheres, idosos, mototaxistas; artistas de um modo geral; dos ambulantes aos autônomos aos desempregados; feirantes; população de rua; moradores de periferias; favelados; população LGBT; jovens, crianças; deficientes de todos os gêneros, um cenário devastador pela ausência de políticas essencialmente sociais, e que visem o atendimento imediato desses cidadãos desde a assistência alimentar à saúde mental, com programas efetivos de combate ao coronavírus, com a testagem em massa na cidade, bem como na luta por um hospital de campanha, preocupações essas que deveriam ter sido as primeiras, ao invés da gestão ficar apenas focada na festa de São João, se iria ter ou não, um grande vacilo que poderá custas vidas. 

O isolamento por um lado trás um possível controle da expansão do vírus, e consequentemente o não esgotamento do sistema de saúde, mas por outro lado trás resultados extremamente danosos a todos, em especial aos vulneráveis e invisíveis aos olhos da gestão caruaruense, e aí como exemplo sofrem as mulheres, que majoritariamente cuidam da família e dos afazeres domésticos, e as vezes até de outros familiares em todas as horas do dia, e como não bastasse sofrem com a violência em todas suas esferas sob a égide do machismo, que sempre aumentam em momentos de guerra e de crise, e dentro de suas casas, na maioria das vezes em espaços extremamente pequenos, abrigando várias pessoas, sem esquecer das crianças e adolescentes que são espancados, humilhados e até sofrem abusos sexuais, motivados pelo alcoolismo ou drogas pelos seus genitores ou padrastos; os idosos, deficientes e da população LGBT, que além de sofrerem com preconceitos habituais, e que na grande maioria das vezes com o confinamento familiar ficam expostos a todo tipo de violência, escárnio e exploração, e é nesse contexto que os resultados da quarentena não chegam em sua totalidade e modalidades as estatísticas de violências, ao grosso modo, apenas chegam sempre as praticadas contra as mulheres, deixando um vácuo imenso e cicatrizes nas populações mencionadas, e diga de passagem, que essa lista é bem mais ampla do que imaginamos.

É bom sempre mantermos a lembrança o ataque da prefeita Raquel Lyra contra a economia informal em nossa cidade, mais precisamente aos ambulantes e camelôs, que sem nenhum estudo de impacto econômico forma impedidos de manter suas famílias na véspera do Natal, e transferidos para um lugar onde seus consumidores nunca passam. Nesse momento de coronavírus como anda a assistência as famílias desses trabalhadores por parte da prefeitura? Se já andava dificílimo sua subsistência porque seu negócio dependia única e exclusivamente da rua, o que dizer desse momento? Na verdade foram excluídos do processo econômico e deixados a sua própria sorte, assim como as demais populações de vulneráveis e invisíveis de Caruaru.

Nesse passo, não assistimos de forma efetiva em nosso Município políticas públicas de inclusão dos invisíveis já mencionados, como os moradores nas periferias pobres ou favelas, moradores de rua, que vivem de forma precária, sem nenhuma infraestrutura, sem acesso a serviços públicos como água (onde vão lavar as mãos) e eletricidade, em espaço acanhado com família numerosa sem a mínima privacidade, e de forma majoritária são trabalhadores informais, e aí, escola fechada é sinônimo que não terão merenda para seus filhos, e para filhos de outras categorias desassistidas no âmbito do município.

A realidade atual e o que nos deparamos é com gestão de Raquel Lyra, que recentemente esteve nos noticiários com um alerta do Conselho Municipal de Alimentação Escolarpor possíveis irregularidades quanto a aquisição dos kits para os alunos da rede municipal de ensinoe que vem sendo motivo de muita insatisfação por parte das mães em noticiários radiofônicos e de blogs de nossa cidade, por não existir um calendário de entrega dos mencionados kits e nem a certeza que irão recebê-los na forma que foi consignada nas compras realizadas e posta no portal da transparência, ou seja, uma completa incapacidade de gerir a coisa pública e atender ao menos no mínimo parte dos vulneráveis de nosso Município.

Por outro lado, não se tem notícias de forma efetiva se a gestão tenha empreendido esforços para amenizar junto as populações mencionadas, políticas públicas para diminuir os impactos oriundos do coronavírus, pois fome não se espera, se agi, e aí existem outros componentes além de todas as dificuldades, a higiene, porque quem tem fome não vai comprar sabão e água, nesse contexto entra o poder público municipal para minimizar com inteligência a sua ausência por anos nessas populações, que senão fosse pelas iniciativas de religiosos de vários crédulos, de pessoas abnegadas que se preocupam com o próximo e de inúmeras instituições, a situação dos invisíveis de Caruaruestaria na total penúria, e vemos que a falta de solidariedade da gestão é latente, é clara, e que não existe preparo para cuidar das pessoas, da população mais humilde. 

Por fim, os invisíveis e vulneráveis só devem entrar na rota de interesse da gestão Raquel Lyra quando estiver próximo do pleito municipal, porque agora não é pauta minimizar a vida da maioria da população que vivem precariamente e de forma vulnerável, ficando claro a discriminação, a exclusão social e o sofrimento impingido a todos esses agentes, que por sinal moram em Caruaru e estão esquecidos.

Marcelo Rodrigues, é advogado militante, professor, mestre e doutorando em Direito Público pela Universidade Lusiada de Lisboa, e Pré Candidato pelo PT – Partido dos Trabalhadores a Prefeito por Caruaru-PE.