Opinião – O excesso do efêmero e a banalização da corrupção – por Tiê Félix*

Mário Flávio - 07.01.2015 às 07:55h

Uma das grandes lutas do homem moderno é a da libertação das tradições e dos entraves do passado. Diversos autores contemporâneos tratam desse assunto com bastante competência. Um deles é Gilles Lipovestky que escreveu um livro bastante interessante sobre o assunto denominado “O império do efêmero”. Nesse texto ele trata da moda e da possibilidade do seu surgimento no mundo contemporâneo. A moda registra aquilo que definiu o mundo pós-moderno ou hipermoderno na linguagem do nosso autor que é a sua fugacidade.

Com a nossa sociedade-moda o poder do passado se perdeu e consequentemente o futuro como investimento/utopia também, sobretudo no formato das ideologias. Falar de ideologia no mundo presente é esquecer que a ideologia hoje é não-ideológica, ou seja, não se expressa no formato de um conjunto de verdades internas ao universo determinado pela própria ideologia como os partidos. As ideologias no mundo atual se expressam pela sua aparência de que não são tão influentes como se imagina.

A ideologia banalizou-se e transformou-se em mero consumo, em banalização generalizada. As multidões se reúnem, defendem momentaneamente alguma verdade para logo esquecê-las. Os movimentos em prol de algo somente manifestam tendências e logo transformam-se em passado esquecido. Pouco dura um caso de corrupção, porque a banalização torna efêmero o ridículo. Nenhum político se envergonha de seus atos porque sabe que do mesmo modo que a mídia fala silencia. O excesso de denúncias, ou sua efemeridade política, torna demasiadamente presente os fatos e são tantos estes fatos que logo cessamos de acompanha-los, porquanto são ridículos ao extremo assim como cansativos. O efêmero cansa, o excesso de corrupção também, e, assim a democracia vai perdendo sua capacidade de autocritica pelo excesso de críticas.

A única sensação que temos é a de que não há saída e, portanto, não há ação eficiente. Hoje, em 2015, descobrimos mais uma vez o Brasil não tem futuro porque no presente ainda não conseguimos identificar o que pode ser do Brasil senão aquilo que já conhecemos.
A nossa sociedade é sem futuro. Não porque o tempo tenha perdido seu sentido. Nunca antes o tempo marcou tão profundamente a vida cotidiana. O tempo perde seu caráter tríplice – presente, passado e futuro – e se torna apenas presente, efêmero. De há muito ser moderno é ser contrário ao passado. Politicamente o efeito do efêmero é a gratuidade das manifestações políticas. Hoje se percebe que as manifestações de Abril a Julho de 2013 tornaram-se peças de museu, exatamente porque grande parte de tudo aquilo que aconteceu não era nada mais do que simples modismo gerado pela internet.

Questionamentos diversos surgem quando fazemos a leitura dos eventos sob essa ótica. Por que estes eventos não ocorrem mais? Onde estão os manifestantes? Somente dois anos se passaram e casos graves na política brasileira surgiram(petróleo por exemplo e aumento de passagem maior que 20 centavos) e ninguém mais acha nada ruim? Será que estamos agora passando por uma fase de pessimismo generalizado e consequentemente de passividade política ou estamos num momento áureo do Brasil onde tudo são flores?

A classe média é conhecida pela sua inatividade e no Brasil a visão senhorial/ditatorial que ainda insiste em perpassar a política e as relações sociais brasileiras ajudam bastante no inativismo.Infelizmente aqueles que eram rebeldes descobriram que devem se submenter as relações escusas senão não saem de onde estão.E o excesso de efemeridade e frivolidade é sinal de decadência!

*Tiê Felix é Professor.