Opinião – O fim da Feira da Sulanca – Por Mário Benning*

Mário Flávio - 23.01.2015 às 09:57h

O processo de tomada de decisões envolvem inúmeras variáveis, pois para o mesmo problema existem inúmeras soluções, todas com ganhos e perdas envolvidos. Sendo assim em qualquer circunstância, mesmo com a qualificação dos envolvidos e com a transparência das discussões, inevitavelmente teremos que lidar com os bônus e os ônus decorrentes das escolhas feitas.

A sociedade em geral, os sulanqueiros e os comerciantes do entorno clamavam por uma solução para o estrangulamento da feira. Confinada numa área inadequada ao seu tamanho, sem infraestrutura para os compradores e que nos seus dias de funcionamento conseguia atrapalhar, ainda mais, o já caótico trânsito da cidade.

Das inúmeras alternativas e propostas, lentamente, duas foram ganhando volume e se consolidaram. A transferência, nos mesmos moldes que aconteceu anteriormente, com a implantação do Parque 18 de Maio. Nessa proposta, a feira iria para uma nova área e continuaria pública, administrada pela gestão municipal.

A segunda, que foi a vitoriosa, é a que desde o inicio foi à preferida da gestão municipal, a entrega a atividade via Parceria Pública Privada. Por mais que a Prefeitura use o termo transferência para batizar o seu projeto, na realidade, é uma reestruturação radical da atividade. No qual a sulanca tradicional será sepultada, junto com o Parque 18 de Maio, e teremos o surgimento da comercialização de roupas num típico Shopping Outlet.

O que o grosso da população está focado, é apenas no fim do caos provocado pela feira na área central e no entorno. Fato que será amplamente capitalizado pelo grupo político de Queiroz durante a próxima eleição municipal.

Porém existem inúmeras perguntas ainda não respondidas, tais como: O empreendimento será uma concessão pública? Se sim, com que duração? Ou teremos a total entrega da Sulanca à iniciativa privada? Qual será a influência da prefeitura na gestão do empreendimento? Como será garantido o acesso do pequeno produtor e comerciante ao espaço? O que será feito pela atual gestão para requalificar o centro da cidade, que sofrerá com o fim da Sulanca?

Há um clima de incerteza e angústias entre os sulanqueiros, pois os mesmos perderão parte dos seus patrimônios e direitos. Os bancos da feira, que são considerados bens valorizados, serão depreciados, sem nenhuma compensação por isso e terão que comprar um espaço no Shopping, financiando assim a construção, para não serem banidos da atividade.

E para tumultuar mais ainda, vem a notícia que um empreendimento concorrente também se instalará nas proximidades, porém sem a necessidade de adquirir o espaço. Como esses dois projetos vão se relacionar são outros quinhentos. Se haverá espaço para os dois, se um não vai canibalizar o outro, teremos muito panos para a manga ainda.

No caso da Feira da Sulanca a decisão já foi tomada, Inês é morta. O que se discute agora são os ganhos e as perdas inerentes que advirão do modelo escolhido. Queiroz poderá entrar para a história local como o prefeito que mudou, ou que matou a Sulanca em Caruaru.

*Mário Benning é analista político e professor