Hoje o Partido dos Trabalhadores completa 35 anos de fundação. Fato já bem divulgado em todo país e com repercussão em muitos lugares do mundo. Nacionalmente a legenda celebrou a data com evento em Belo Horizonte e a pauta foi: reafirmar a importância histórica do partido sem fechar os olhos aos petistas escusos que ofuscam o brilho da estrela, boa parte desses que se deixaram picar pela “mosca azul”. Enquanto isso, há uma enxurrada de denúncias publicadas que parecem seguirem uma orientação orquestrada exatamente para afundar de vez o partido.
Outra movimentação da legenda, convocada a partir da Direção através da Secretaria Nacional de Formação é uma mobilização em todo Brasil dos militantes para defender a legenda. O partido vai realizar em junho a 2ª etapa do 5º CONGRESSO NACIONAL na Bahia. Para tanto, há um calendário proposto para as cidades realizarem em Março e Abril a etapa Municipal, com suas resoluções e tirando delegados para a etapa Estadual.
Neste clima sou surpreendido com a notícia que havia circulado no início de janeiro de que o partido faria uma reunião para avaliar se permanecia ou não na base do Governo municipal. Passaram-se uns dias e no dia 24 de janeiro aconteceu enfim o tal seminário, onde segundo a nota divulgada pelo partido seria “apresentado um balanço do trabalho realizado pelas ex-secretárias da mulher e de participação social, Elba Ravane e Louise Caroline; pela atual secretária de saúde, Aparecida Souza e pelo atual diretor de cultura, Djair Vasconcelos.”
O citado na nota “intenso debate” aconteceu e depois se definiria assim a situação de permanência ou não da legenda na base do Governo. Eu estive presente, senti falta de mais militantes e dos símbolos do partido (bandeira na mesa, mais vermelho no ambiente, etc.). Mas com entusiasmo foi acolhido e aplaudido a fala de cada militante/dirigente, nos cargos citados, deixando claro as limitações, porém reconhecendo os avanços concretos e conquistas em cada pasta. Como diz Ademar Bogo “de acordo com o avanço das ações, é possível elevar o conteúdo das palavras e transformar a consciência social das pessoas”. A plateia se manifestou, questões foram levantadas e respondidas. E foi encerrada a reunião com o presidente lembrando o esforço feito e resultado colhido na união “das estrelas” para uma nova direção que trabalharia por uma nova cultura na construção partidária.
Assim deduzi que, mesmo mantendo-se críticas a alguns pontos do Executivo, aquele seminário terminara reconhecendo a contribuição honrosa que cada petista estava dando na gestão, pois ainda que dois dos quatro quadros do partido estivesses oficialmente se afastado, todo legado foi mantido por uma valorosa equipe deixada.
Agora, neste encontro de domingo, onde foi mantido a celebração do aniversário, com apenas parte das lideranças presente, volta-se a pauta para constatar dificuldades de relação com o executivo (reclamação que pode ser legítima) e postular mais cargos na gestão (demanda justa na minha opinião).
O que me faz acreditar que o partido se equivocou foi em precipitar uma decisão numa estância que só deveria arbitrar sobre tal após uma consulta mais ampla que ratificasse essa decisão.
Não seria mais prudente aproveitar a convocação da Direção Nacional para realização do Congresso Municipal (que já é para começar a divulgar) e diante da plenária mais ampla endossar o que se pleiteia? Que tarefa difícil foi imposta agora as “estrelas” que não foram ouvidas… Ora, o próprio Estatuto do PT coloca que é em estâncias como a Conferência Municipal que se tira encaminhamentos e resoluções. No mesmo Estatuto coloca o Plebiscito como uma forma de consulta a todos os filiados e filiadas num determinado nível, para definir a posição partidária sobre questões relevantes e seu resultado tendo sempre caráter
deliberativo, desde que atingido o quórum.
Ainda há o Referendo como forma de consulta para reavaliação ou reafirmação de posição partidária previamente definida. Assim também como nas Consultas. O Estatuto é que garante que o Encontro Municipal serve para “analisar a conjuntura local e aprovar as linhas de ação do Partido em âmbito local; definir a plataforma, a política de alianças e a tática eleitoral;
NÃO SERIA MAIS SENSATO… trilhar por este caminho?
Quero ressaltar que sou favorável ao partido firmar-se cada vez mais visando seu fortalecimento para 2016, o que estou questionando é a estratégia utilizada que, ao que parece, não ouviu toda constelação.
Há outros pontos sendo colocados que não estão sendo pautados e precedem, como citei no artigo anterior, a decisão de romper com o prefeito e até mesmo de pleitear uma candidatura que seja viável ao majoritário.
Há denúncias de itens que estão sendo negligenciados e são sérios. Em respeito as fontes que tenho e que quero preservar, entendo que são questões internas, mas que estão prestes a serem colocadas até diante do Ministério Público se não forem ouvidas e acatadas imediatamente.
Sei que em Recife foi fechado um “Plano de Lutas” levando o PT municipal e estadual para oposição, mas num contexto diferente do que se vive aqui. Espero que os dirigentes convoquem o Congresso Municipal e submetam esta decisão ao foro mais adequado.
Essa tarefa de ouvir exaustivamente o outro não é fácil, pois há muitos interesses em conflito. É um exercício. Porém, como sugere Olavo Bilac, o “príncipe dos poetas brasileiros”, o segredo para ouvir as estrelas é simplesmente amá-las.
*Paulo Nailson é colaborador.