Opinião – O Renascimento da UDN Lacerdista – por Mário Benning*

Mário Flávio - 24.03.2015 às 07:35h

Com o fim do Estado Novo, em 1945, a direita brasileira organizou-se, aglutinou-se, principalmente em torno da União Democrática Nacional.  A UDN, era um partido que tinha um programa bem claro, a implantação do liberalismo econômico no país, sendo contra: a política de industrialização nacional; a expansão dos direitos trabalhistas e atuação do Estado como planejador ou indutor do desenvolvimento econômico.   Porém tinha uma virtude,  não escondia seu caráter conservador e de direita , esse aspecto inclusive era usado para angariar votos nos segmentos mais tradicionais do país.

Porém essa coesão ideológica não era acompanhada de uma unidade política, estava mais para uma federação,  ou diversas correntes, cujo tom  dependia da liderança estadual.  Dentre as quais a mais famosa, e danosa, era o Lacerdismo.  O termo UDN lacerdista, ou o lacerdismo, virou sinônimo na história nacional de golpismo e radicalismo.

Movimento que tinha como núcleo o jornalista e político, Carlos Lacerda: o demolidor de presidentes.  Figura presente,  em todas as crises politicas do país de 1945 até o Golpe Militar, desde a crise que levou a morte de Getúlio, tentou impedir a posse de Juscelino, e depois o seu governo, levantou-se contra Jânio Quadros e Jango, sendo uma das principais lideranças civis do Golpe de 1964.

Orador carismático, escritor talentoso e culto, utilizou o radicalismo como plataforma para alcançar visibilidade nacional. Cavalgava e estimulava crises políticas, torcendo que eles o levassem a Presidência do País, sem para isso levar em conta os danos às instituições políticas ou à sociedade.

Insuflava o ódio e o desrespeito a seus adversários,  muitas vezes usando termos ofensivos e principalmente de calúnias . O medo, também era uma ferramenta frequente em seu arsenal, propagava o risco de uma ditadura comunista ou peronista no país. Fomentava o golpismo das forças armadas, torcendo para que elas lhe entregassem o poder após a derrubada do Presidente eleito.

Não queria o diálogo, queria crise e  a aniquilação dos seus adversários. Tudo isso sendo coroado com um discurso moralista, de defensor da família, dos valores cristãos e da sociedade brasileira.

Como um dos líderes do golpe militar, pregava pelo afastamento depolíticos populares, para que  assim vencesse as eleições presidenciais de 1965, que já tinha um favorito, JK.  Porém numa das ironias da história foi engolido pelos militares e teve seus  direitos políticos cassados, morrendo no ostracismo em 1977.

Entretanto essa forma danosa de fazer política, que tanto mal já fez o país,  ressurgiu. Com a crítica e o debate cedendo lugar  a acusações, calúnias e golpismos de toda natureza. O Senador Ronaldo Caiado ( DEM) já afirmou que o modelo de oposição  deveria ser Lacerdista. Vários membros do PSDB,  principalmente o seu Presidente Aécio Neves,  já aderiram a essa linha de atuação.

Inclusive relançando  Banda de Música da UDN, com deputados e senadores se revezando para desgastar ao máximo o governo, nas tribunas e na imprensa. Vide o espetáculo degradante que tomam parte figuras como: Carlos Sampaio, Aloysio Nunes, Álvaro  Dias, o batedor de panelas Bruno Araújo e  Mendonça Filho.

Desgastar, complicar e sangrar são os lemas da oposição, palavras de ordem, principalmente para lideranças que não possuem o controle de máquinas partidárias. No PSDB, Aécio  disputa com os governadores Geraldo Alckmin e  Marcondes Perillo a indicação do partido  para 2018. Manter esse estado de animosidade e tensão é vital, para assim consolidar-se como candidato natural do partido. Anulando a  fragilidade de ter perdido o controle do seu estado Minas,  e a dupla derrota, tanto a do seu candidato a governador e a dele próprio nos dois turnos presidenciais .

Essa nova, velha forma de atuar, fica mais evidente quando analisamos as táticas usadas pela oposição entre o final do ano passado e início de 2015.

Se em 1950 e em 1955, Lacerda questionou, respectivamente, os direitos de  Getúlio e JK assumirem porque não tiveram a maioria dos votos.  Algo que constituição de 1946 não exigia, maioria absoluta, ou estabelecia segundo turno.

Agora o PSDB Aecista e seus satélites, DEM e PPS, trilharam o mesmo caminho, questionando desde  a pequena margem da vitória e até a validade da eleição levantando suspeitas sobre  a inviolabilidade da urna eletrônica. Chegando até  a tentar, via liminar, impedir a diplomação de Dilma.

Em 1954 Lacerda ecoou o discurso do mar de lama, e exigiu a deposição de Getúlio, para salvar a democracia e evitar a implantação do Peronismo no Brasil.  Reeditou-se o termo mar de lama e trocou-se Peronismo por Chavismo. Se entre 1950 e 1964, Lacerda  estimulou o golpe militar, a tática agora é o  golpismo democrático, ou golpismo paraguaio,  impeachment sem provas.

O que  está faltando aos Neo Lacerdista é  ter coragem de repetir a frase que melhor retrata a veia golpista  de Lacerda: “Vargas não deve ser candidato. Se for candidato, não deve ser eleito. Se for eleito, não pode tomar posse. Se tomar posse, não pode governar. Se tentar governar, deve ser deposto”.  Mas falta a competência e a coragem para isso.

*Mário Benning é mestre em Geografia e professor no IFPE/Caruaru