Opinião – O valor da paternidade – por Jénerson Alves*

Mário Flávio - 11.08.2019 às 08:15h

A família atual vem passando por transformações – também compreendidas por alguns como desintegrações. Elementos internos e externos têm impelido pressões contra a célula mater da sociedade, gerando um cenário de incertezas. Se no contexto pré-industrial a instituição familiar era caracterizada pela existência de papéis sólidos, rígidos e definidos, atualmente há uma nebulosidade nas relações intrafamiliares e extrafamiliares. 

No tempo hodierno, a imagem da masculinidade tem sidoconstruída sobre fundamentos tortuosos. Ora apresentado como um paspalhão no estilo Homer Simpson, ora como um monstro – a partir de lastimáveis exemplos –, a visão acerca do homem adulto tem sido cada vez mais controversa. Talvez por isto tenham surgido tantos equipamentos (inclusive a partir de iniciativas do poder público) que têm por objetivo atender a todas as esferas da sociedade, com exceção do homem adulto.

Convém salientar que os pensamentos do cidadão médio normalmente não são produzidos por ele mesmo, mas são oriundos de conceitos filosóficos difundidos pelos meios de comunicação de massa e institutos educacionais, de modo que tais conceitos são admitidos como realidade pelo cidadão médio – neste contexto, o nabal hebraico ou estulto latino.

Com este horizonte de consciência, a leitura dos fatos ao redor limita-se ao aspecto horizontal – isto é, a uma visão sociológica, política, material e biológica acerca da família. Todavia, urge que seja feita uma leitura a partir do aspecto vertical – ou seja, da condição humana para além das fronteiras temporais, espaciais e políticas, de modo que o que consiga ser visto seja apenas o ser humano.

Ao invés da ótica materialista acerca do ser humano que predomina na contemporaneidade, convém retomar a visão da sociedade helênica, na qual o homem era visto como ser racional, ou mesmo da israelita, em que era entendido como pneumático (espiritual). Como a transcendência foi extirpada do indivíduo, a derrocada dos valores absolutos é iminente e aparece com as mais diversas faces, algumas sorrateiras outras explícitas.

Neste cenário, a família tem sido alvo de perspectivas unicamente horizontais. Sob uma visão meramente política, ideológica e sociológica – baseada em conceitos que não aprofundam a compreensão da realidade –, a família tem sido atacada como uma instituição falida. Um dos frutos pecos desta ótica apresenta-se no fato de asociedade moderna aplaudir a promiscuidade sexual como se fosse ‘liberdade’, rejeitando a criação de filhos e, pasmem, até mesmo conclamando o ‘direito’ à prática do infanticídio intrauterino. O filósofo alemão Eric Voegelinjá dissera que, quanto ao ser humano, “a desdivinização é seguida de uma desumanização”. 

Esvaindo-se a compreensão do espírito humano, esvaem-se também os conceitos familiares, bem como a noção de relevância da paternidade. Forma-se uma geração de revolucionários que querem transformar o mundo a partir de seus próprios pensamentos, mas são incapazes de se submeterem à virtuosa resignação da vida familiar. As consequências podem ser catastróficas e incalculáveis. Como antídoto, é mister retomar os valores basilares que fundamentaram a sociedade ocidental. Tanto o indivíduo tem deveres para com a família quanto a família tem deveres para com o indivíduo. A paternidade precisa ser compreendida como um valor advindo de uma ordem direta da Inteligência Superior e Misteriosa que chamamos “Deus” – “Crescite et multiplicamini”. A partir deste entendimento, a simplicidade e o encanto se mesclam nas dimensões da existência, provocando um deslumbramento similar ao eternizado pelo escritor britânico G. K. Chesterton: “A coisa mais extraordinária do mundo é um homem comum, uma mulher comum e seus filhos comuns”.

*Jennerson Alves é jornalista