Não tratarei, aqui, dos poucos militantes sérios que existem no PT. Tratarei dos outros, os 99% que deixaram de ser militantes e passaram a ser militontos. A diferença básica entre o militante e o militonto é que, o primeiro age de forma racional, analisando os fatos e, quando necessário, criticando uma posição equivocada do governo petista. Já o militonto desconhece a palavra racionalidade, agindo como uma espécie de fundamentalista religioso que enxerga o mundo a partir dos dogmas do partido sem levar em conta a realidade que o cerca. Outra diferença, é que o militante sério gosta de aprofundar o conhecimento e tem um discurso bem fundamentado. Por sua vez, o militonto é fruto da geração de petistas que gasta todo seu tempo pedindo voto para os candidatos do partido e esperando um cargo comissionado nos governos.
Consequentemente, não sobrou tempo para estudar e, por essa razão, o militonto lê, no máximo, uma cartilha do partido contendo todos os dogmas que ele seguirá sem fazer o mínimo questionamento. A maior prova do défcit de formação teórico-política do militonto é o arsenal de respostas prontas que ele decora para utilizar quando questionado, como, por exemplo, rebater uma crítica ao governo petista com a tosca frase: “você está fazendo o jogo da direita”.
O militante é capaz de perceber as contradições do governo e se enraiveceu com a composição ministerial de Dilma, enquanto que o militonto vibrava com o discurso da presidenta, quando ela afirmava que a educação será a prioridade das prioridades, pois o militonto, como todo fundamentalista religioso, entende que existe uma identidade imediata entre a palavra e a prática do governo e “esqueceu” que na mesma cerimônia que Dilma prometeu priorizar a educação, deu posse a Cid Gomes para comandar o MEC, demonstrando que a valorização da educação não passou de mera retórica. Pior que isso, foi ver os militontos fazendo malabarismos intelectuais para tentar defender o indefensável: o ataque do governo petista a alguns direitos trabalhistas; esse momento foi, sem dúvidas, o ápice do sectarismo militonto, pois demonstrou, entre outras coisas, o esgotamento do ciclo PT, que de instrumento da classe trabalhadora para a transformação social, virou uma espécie de seita fundamentalista que abriga uma enorme quantidade de militontos histéricos defendendo cegamente os dogmas do partido.
É triste constatar que o partido que um dia significou a esperança de ruptura com a ordem social burguesa tenha se transformado na menina dos olhos das elites brasileiras, satisfeitíssimas com a conjuntura atual, pois sabem que, mesmo os tucanos não estando no poder, o PT continuará tocando o projeto da burguesia, inclusive, com mais capacidade do que o PSDB, pois conseguiram frear a revolta da classe trabalhadora através da cooptação dos movimentos sociais e das políticas compensatórias.
Atualmente, o PT se assemelha a Quincas Berro D´agua, personagem de Jorge Amado, que mesmo morto, é carregado pelos companheiros para última bebedeira. Os militontos agem exatamente como os companheiros de Quincas: carregam um cadáver, pois seu fundamentalismo os impedem de enxergar a realidade. É triste, mas é a realidade.
*Fred Santiago é professor e Membro da ATEC