Opinião – Tony Gel, Candidato In Pectore do Governador? – Por Prof Mário Benning*

Mário Flávio - 24.03.2015 às 19:05h

Uma das prerrogativas do Papa é a possibilidade de manter sobre sigilo a nomeação de alguns cardeais. O chamado Cardeal In Pectore, do peito, esse tipo de situação ocorria para evitar que o nomeado sofresse perseguições políticas em sua terra natal. Só sendo revelada a identidade do escolhido após a morte do Papa.

Na política caruaruense as três forças políticas tradicionais almejam o status de candidato in pectore do Governador Paulo Câmara. Aquele que seria o escolhido, e que será mantido sobre sigilo, só sendo revelado de maneira apoteótica nas convenções partidárias.

Foi por esse diferencial, que as lideranças tradicionais apoiaram a candidatura de Paulo Câmara na cidade. E não medirem esforços para mostrarem engajamento na campanha.  Afinal a eleição de 2016 tem de tudo para se diferenciar das anteriores.

Será a primeira disputa que contará com representantes das três principais lideranças da cidade. Se tudo se encaminhar como o previsto, teremos um candidato de Queiroz, ainda mantido em sigilo, a deputado Raquel Lyra e provavelmente o deputado Tony Gel.  Além disso, haverá a possibilidade de uma segundo turno, que forçará a composição com excluído da disputa.

Diante desse quadro acirrado, que poderá ser decidido nos pequenos detalhes, um que nenhum deles está negligenciando é o título de candidato do Governador. Já que em eleições passadas essa foi uma carta que foi usada por todos eles, João Lyra foi o candidato de Arraes, Gel de Jarbas Vasconcelos e Queiroz de Eduardo Campos.

Conquistar ou anular a estadualização da campanha parecem ter sido uma meta geral dos envolvidos.  Porém a dúvida que paira é quem irá ser o escolhido? Ou  se tem como costurar uma neutralidade do Governador na disputa.

O complicador é que, Paulo Câmara vem emitindo sinais que devem estar confundido o tabuleiro político da cidade. Onde pequenos gestos geram grandes impactos e permitem antever as intenções do Governador. Se a indicação de Tony Gel para Vice Líder do Governo na Assembleia Legislativa acendeu a luz amarela. A nomeação de Miriam Lacerda para a assessoria do Governo Estadual fez soar todos os alertas possíveis e imagináveis. De que estaríamos tendo um aproximação ou processo de escolha.

Um dos fatores que parecem estar levando a soprar favoravelmente ao grupo de Tony Gel é a ascendência que o núcleo jarbista conquistou no governo estadual. Diante do vazio deixado pelo falecimento de Eduardo Campos, e por saber que dentro do PSB ele não é visto como candidato natural a 2018. Paulo Câmara aproximou-se mais do Dep. Federal Jarbas Vasconcelos, afinal o que é um poste sem lâmpada?

Basta ver como as nomeações do secretariado do governador desagradaram os arraesistas e eduardistas históricos. Inclusive com as críticas públicas ao volume de cargos ocupados por membros da extinta União por Pernambuco.

Porém não é só o fator Jarbas que explica o aumento do prestígio do grupo Tony Gel no executivo estadual.  Uma hipótese também é uma sinalização do governador que não tolerará questionamentos ou dissidências da sua liderança. Afinal paira sobre Queiroz a suspeita, que embora tenha se engajado na campanha, o mesmo não teria envidado esforços para levar o seu grupo político para o palanque do PSB; que teria sido um apoio pra inglês ver.

Já sobre João Lyra, o mesmo teria esgaçado às relações com o núcleo governista do PSB, em virtude das criticas proferidas durante o processo de escolha do candidato a Governador. E posteriormente durante a transição de governo, ao questionar o status de liderança política do Governador eleito. A deterioração das relações ficou patente no episódio que envolveu a exoneração do Procurador Geral do Estado, Tiago Norões, por João, no final de dezembro de 2014, por entrar em rota de colisão com ele. Porém o mesmo foi contemplado, logo em seguida, com o cargo de Secretário de Desenvolvimento Econômico por Paulo Câmara.

Se o Governador está já sinalizando a sua escolha para Prefeito de Caruaru, ou passando um recado a, Queiroz e Lyra, que não tolerará dissidências, só tempo vai dizer. Nesse momento os desafios de Lyra e Queiroz são restabelecer relações cordiais com o Governador, talvez oferecendo engajamento e obediência efetiva a sua liderança. Se isso é possível? Claro, afinal como dizia Magalhães Pinto: “Política é como nuvem. Você olha e ela esta de um jeito. Olha de novo e ela já mudou.” Porém no momento a nuvem está fazendo chover no grupo Tony Gel.

Mário Benning é Mestre em Geografia e Professor no IFPE/Caruaru