Opinião – Tony Gel e João Lyra juntos – por Mário Benning

Mário Flávio - 03.05.2013 às 14:25h

A história política recente de Caruaru, de 1988 a 2004, foi marcada pela intensa polarização entre João Lyra e Tony Gel, com campanhas disputadíssimas e com eleições sendo decididas por margens apertadas, com direito a questionamento de resultados por ambos os lados. De tão intensa essa rivalidade criou um estado de tensão permanente, uma verdadeira Guerra Fria, entre os atores políticos locais, dando à impressão que o interesse principal de cada grupo político era a aniquilação do seu rival, com isso polarizando e dividindo a cidade entre os vermelhos e os amarelos.

Diante de um acirramento desse nível, é mais do que natural à repercussão das declarações de apoio e voto de Tony Gel a possível candidatura de João Lyra a Governador e a cordial aceitação do apoio pelo vice, pois ambos são vistos pelo imaginário local não como adversários políticos, mas sim como inimigos irreconciliáveis.
Essa mudança nas relações entre as lideranças locais precisa ser compreendida a partir de muitas variáveis, e não como uma capitulação de Tony Gel a João Lyra, com o mesmo passando de líder a liderado.

Pois em nenhum momento os dois trataram ou confirmaram a possibilidade de uma fusão de seus grupos. O que ressalta aos olhos, porém, é que embora a situação atual os aproxime, os coloquem na mesma cena, ambos vêm desenvolvendo estratégias com ritmos e interesses díspares.

O que motivou a declaração de apoio de Gel é a possibilidade cada vez mais forte da sua adesão à base de apoio de Eduardo Campos, afinal o mesmo sabe da necessidade de estar numa coligação competitiva que lhe ofereça uma cauda, que facilite a sua reeleição. Uma tarefa quase impossível se o mesmo permanecer no DEM, um partido em vias de extinção e que perdeu os seus principais puxadores de votos, que migraram para partidos na Frente Popular, como Inocêncio de Oliveira ou André de Paula.

Bem como também evitar a pecha de ser oposição aos três níveis de governo, de estar isolado politicamente e não contar com apoios efetivos, algo amplamente usado na campanha municipal. Com essa migração, Tony Gel se alinha automaticamente ao projeto de Campos a presidente e também se compromete em apoiar com o candidato escolhido para sucedê-lo, mesmo que seja um antigo adversário seu, o vice-governador João Lyra, pois em política ninguém pode ser aliado pela metade.

Outro fator que ajuda a entender esse arrefecimento da tensão é o tempo, afinal já faz aproximadamente dez anos da última disputa política entre Gel e Lyra e a polarização de ambos foi substituída por uma tão agressiva quanto, a existente atualmente entre Gel e Queiroz, com direito a lances e declarações tão violentas que relembram a anterior.

Um bônus duplo que Gel ganha com essa declaração de apoio: primeiro é o reforço a sua imagem de homem público, que coloca os interesses coletivos a frente dos individuais, pois em prol do apoio a candidatura de um filho da terra a governador, o mesmo superaria os obstáculos pessoais existentes. Bem como também, de brinde, aproveita o momento para estocar Queiroz, ao levantar a possibilidade do prefeito apoiar a candidatura a governador de Armando Monteiro e assim colar nele a imagem de rancoroso e vingativo.

Quanto a João Lyra, o mesmo segue uma das regras áureas defendidas por Ulisses Guimarães: nunca esteja tão próximo de alguém que não possa se afastar e nem tão distante que não possa se reaproximar. Numa disputa para governador que tem tudo para ter múltiplas candidaturas, sair com uma votação maciça no principal colégio eleitoral do interior só facilitaria a sua trajetória.

Afinal em política não se recusa apoio, como vimos na reaproximação de Jarbas com Eduardo e de Collor e Maluf com Lula ou de Queiroz ao cooptar membros do grupo de Gel durante a eleição. E não é do seu interesse, nesse momento entrar em contendas, ou se desgastar inutilmente com nenhuma parcela do eleitorado caruaruense. Pois nesse momento em que a candidatura a governador vai se tornando palpável, as questões da escala estadual se sobrepõem as locais.

Pois a política exige em seu exercício a capacidade de adaptar, de criar consensos e superar obstáculos, em síntese de ter a capacidade de ser uma metamorfose permanente, ambulante, do que estagnar e manter a velha opinião formada sobre tudo.