Para lideranças de Pernambuco, Eduardo Cunha não é o vilão que se desenha

Mário Flávio - 25.07.2015 às 12:22h

eduardo cunha

Do Diario

Desde de fevereiro deste ano, a política brasileira conta com um personagem que permanece nos holofotes desde que foi eleito e assumiu a presidência da Câmara: o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Se não agrada o governo da presidente Dilma Rousseff e seus aliados, como também parte de movimentos sociais ligados aos direitos humanos, a mesma posição não se pode dizer de parte da classe política.

Em Pernambuco, Cunha é quase uma unanimidade entre os líderes partidários do estado com assento na Câmara. Os deputados elogiam o ritmo, mesmo que, em alguns casos, seja a contragosto, que o peemedebista impôs ao Legislativo. É mais trabalho, polêmicas e holofotes na mídia. Ou seja, no final, estão todos no lucro.

“Antes de ele assumir, havia uma predominância do Poder Executivo (Presidência da República) sobre o Legislativo. Temos que reconhecer que Cunha conquistou um certo equilíbrio, deu mais força aos trabalhos da Câmara”, elogia o deputado pernambucano e líder do DEM na Casa, Mendonça Filho.

“Há também que se declarar que ele foi o protagonista na instalação da CPI da Petrobras e a do BNDES. São temas de interesse da sociedade, não só do parlamento”, ressalta o democrata em entrevista, por telefone, ao Diario. Mendonça, no entanto, reforça que a gestão de Cunha poderia ser melhorada em alguns aspectos. “Algumas pautas estão muito rápidas (o debate e as votações). Podemos citar a própria reforma política e a pauta do ajuste fiscal do governo. São temas que precisariam de certo consenso na Câmara. De forma geral, era preciso ter mais discussão”, pondera. “Essas críticas, inclusive, eu fiz a ele, em plenário”.

A “rapidez das votações” de Cunha escondem manobras do experiente parlamentar. No começo deste mês, por exemplo, o presidente da Câmara aproveitou uma brecha regimental e pôs em votação a redução da maioridade penal, dos 18 para os 16 anos, um dia após o tema ter sido derrotado em plenário. Na nova votação, Cunha, que é a favor da redução, saiu vitorioso. No caso da reforma política, Cunha chegou a dissolver uma comissão especial e colocou algumas propostas diretamente em votação.

O líder das oposições na Casa, o também deputado de Pernambuco Bruno Araújo (PSDB), lembra que Cunha foi eleito sem o apoio do seu partido, que, na ocasião, tinha como alternativa o deputado federal Júlio Delgado (PSB-MG). Mas mesmo não sendo a opção inicial dos tucanos, o pernambucano faz um elogio parecido ao de Mendonça. “Nestes meses na presidência, ele exerce um mandato marcado pela polêmica e também por uma produção legislativa bem acima da média”, defende Bruno Araújo.Vale dizer que Mendonça e Bruno estão com o prestígio em alta com Eduardo Cunha, tanto é que foram os únicos pernambucanos que participaram da viagem internacional de nove dias, em junho deste ano, que Eduardo Cunha fez a países como Rússia, Israel e Palestina. Dos 13 deputados da comitiva. A missão internacional custou R$ 395 mil.

Críticas do próprio partido
O deputado Jarbas Vasconcelos, mesmo sendo do PMDB, faz parte do grupo das lideranças pernambucanas que são contra a forma como Eduardo Cunha vem gerindo a pauta na Câmara. Umas das críticas do parlamentar é que o presidente da Câmara está sendo “oportunista” por declarar, recentemente, que estaria na oposição ao governo da presidente Dilma Rousseff (PT).

“Sair batendo no governo federal, romper com Dilma, agora é muito fácil. Ela não tem nem 10% de aprovação. Então ele sair agora falando mal do governo é o caminho mais fácil nesse momento. Mais uma vez ele demonstra ser uma pessoa desajustada”, critica Jarbas.

O curioso é que Jarbas mudou de opinião. O deputado de Pernambuco chegou a declarar voto para Cunha na época da eleição para o comando da Casa. Hoje, Jarbas, ironicamente, chega a falar no afastamento de Cunha da Presidência da Câmara. “Se Eduardo Cunha está envolvido, que se apure”, afirma o peemedebista, referindo-se à denúncia do consultor da Toyo Setal, na Operação Lava-Jato, que afirmou ao juiz Sérgio Moro que Cunha teria pedido US$ 5 milhões em propina em um contrato de navios-sonda da Petrobras. “Ele não está acima das leis. Deve sim ser investigado. Ele deve se afastar para que a investigação prossiga como deve ser”.

A posição de Jarbas, no entanto, não é unanimidade. O líder do PSB na Câmara, o deputado de Pernambuco Fernando Bezerra Filho diz que o presidente da Casa tem a prerrogativa do direito de defesa. “Sou contra o afastamento neste momento. Ele tem o direito de defesa. Não podemos fazer um julgamento antecipado, apesar de, por ser o presidente da Câmara, ficar num posição mais delicada”, defende. “Eduardo Cunha tem um ponto positivo. Ele trouxe para Câmara temas polêmicos que antes ninguém tinha coragem de colocar em votação. Um exemplo é a redução da maioridade penal – que estava há 20 anos, 15 anos em discussão-, a terceirização. Tem gente que pensa que, por ser polêmico, não deve ser discutido. Ele não tem essa posição”, completa Fernando. Para ele, outro ponto positivo é o cotidiano na Câmara. “Ele conseguiu fazer com que as sessões nas quintas-feiras funcionem, inclusive, com votações até mais tarde”.

A exemplo de Cunha, o pai de Fernando Bezerra Filho, o senador de Pernambuco Fernando Bezerra (PSB) é citado nas delações da Operação Lava-Jato. Em depoimento prestado à Polícia Federal, o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa disse ter sido procurado por Bezerra, em 2010, para o recebimento de propina no valor de R$ 20 milhões, que seria destinado à campanha do ex-governador Eduardo Campos à reeleição. Tanto Bezerra, como Eduardo Cunha, negam as denúncias e declaram que estão à disposição da justiça para colaborar nas investigações.