
O debate sobre o aborto é um dos mais polarizados e sensíveis em nossa sociedade e ganhou notoriedade com um projeto que penaliza a mulher estuprada, por exemplo, mais que o estuprador. Essa discussão acontece na Câmara dos Deputados.
No entanto, um aspecto particularmente irritante é a insistência de muitos homens em opinar sobre o assunto, frequentemente sem qualquer base científica ou crítica, mas impulsionados por questões religiosas ou para agradar a uma parcela específica de sua bolha social.
O aborto é uma questão complexa que envolve saúde, direitos reprodutivos e a autonomia corporal das mulheres. No entanto, vemos uma recorrente tendência de homens, muitas vezes alheios às realidades biológicas e emocionais que acompanham uma gravidez, emitindo opiniões que não passam de repetições de dogmas religiosos ou conveniências políticas.
Essas opiniões, muitas vezes, não consideram a realidade científica ou os dados empíricos que deveriam fundamentar uma discussão tão séria. Estudos científicos têm mostrado que a legalização do aborto em vários países ou em casos de mulheres e adolescentes vítimas de estupradores, além de proteger a saúde das mulheres, não leva a um aumento do número de abortos, mas sim a uma diminuição das mortes maternas, principalmente por não ter esse tipo de prática clandestina. Ignorar esses fatos em favor de crenças pessoais é não apenas irresponsável, mas perigoso.
Muitos homens justificam suas posições antiaborto com argumentos apenas religiosos, esquecendo que vivemos em uma sociedade plural e laica, onde decisões políticas devem se basear em fatos e na proteção dos direitos de todos os cidadãos, e não em convicções religiosas individuais. A liberdade religiosa permite que qualquer um siga suas crenças, mas não que imponha essas crenças sobre os corpos e vidas alheias.
Além disso, é comum ver figuras públicas masculinas tomando posições firmes contra o aborto para agradar sua base eleitoral ou manter o apoio de grupos conservadores. Essa postura oportunista não apenas desrespeita as mulheres, mas também desvia o foco de discussões que realmente importam: como garantir acesso seguro e legal ao aborto e como oferecer suporte às mulheres que decidem levar adiante uma gravidez. Principalmente com relação as vítimas de estupradores, como vemos diariamente no Brasil.
A questão do aborto deve ser discutida de forma informada e respeitosa, com base em evidências científicas e com o devido reconhecimento da autonomia das mulheres sobre seus próprios corpos. A participação masculina é importante, mas deve ser feita com humildade e respeito, priorizando o conhecimento e a empatia em vez de dogmas e conveniências políticas.
Até que homens estejam dispostos a ouvir, aprender e respeitar o direito das mulheres de tomar decisões sobre seus próprios corpos, suas opiniões no debate sobre o aborto não passam de ruído, frequentemente prejudicial, que obstrui o caminho para soluções justas e sensatas.