Advogado de doleiro não nega e nem confirma citação de Lula e Dilma em depoimentos

Mário Flávio - 23.10.2014 às 23:22h

Em entrevista ao jornal O Globo, o advogado do doleiro Alberto Youssef, Antonio Figueiredo Basto, disse que ele prestou muitos depoimentos no mesmo dia a Polícia Federal e que o doleiro estava acompanhado de advogados de sua equipe. Ele deu declarações confusas. Alertou primeiro sobre uma possível especulação. “Conversei com todos da minha equipe e nenhum fala isso. Estamos perplexos e desconhecemos o que está acontecendo. É preciso ter cuidado porque está havendo muita especulação”, disse.

Depois ele disse que a defesa não possui cópia do que foi falado por Youssef à Polícia Federal e que não sabe se ele citou ou não Lula e Dilma. “Nós não temos como pegar em mãos e não ficamos com cópia de nada. Então, não nego nem confirmo se esse depoimento é verdadeiro, se essa informação foi dada ou não e se sim, em quais circunstâncias”, esquivou.

O depoimento citado pela revista não tem relação com os que foram prestados à 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba, cujo teor já foi divulgado anteriormente.

O doleiro está preso em Curitiba desde março e é acusado de ser um dos chefes do esquema que teria desviado cerca de R$ 10 bilhões desde 2006. Seria a primeira menção de Youssef ao nome de Dilma nas investigações. Ele já havia citado Lula em depoimento prestado à Justiça Federal no dia 8 deste mês. Na ocasião, Youssef disse que Lula teve que ceder aos políticos de partidos acusados de participar das fraudes na Petrobras e empossou Paulo Roberto Costa na diretoria de Abastecimento. Ele afirmou que “agentes políticos” ameaçaram trancar a pauta do Congresso.

“Tenho conhecimento que, para que o Paulo Roberto Costa assumisse o posto, esses agentes trancaram a pauta no Congresso por 90 dias. Na época, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ficou louco e teve de ceder e empossar Paulo Costa na diretoria de Abastecimento”, afirmou, de acordo com vídeo do depoimento disponibilizado pela Justiça Federal.

O doleiro ainda disse que o PT, PMDB e PP estavam envolvidos num esquema de corrupção na Petrobras que consistia na cobrança de propinas de empreiteiras pelo tesoureiro petista João Vaccari e pelo peemedebista Fernando Soares. As obras da estatal eram escolhidas por um cartel de dez empresas, que superfaturavam os preços em algo em torno de 20%, dinheiro que era dividido para políticos e diretores da estatal.

No trecho da reportagem divulgado ontem à noite, “Veja” faz um relato da chegada de Youssef na sala para o interrogatório. “A temporada na cadeia produziu mudanças profundas em Youssef. Encarcerado desde março, o doleiro está bem mais magro, tem o rosto pálido, o cabelo raspado e não cultiva mais a barba. O estado de espírito também é outro. Antes afeito às sombras e ao silêncio, Youssef mostra desassombro para denunciar, apontar e distribuir responsabilidades na camarilha que assaltou durante quase uma década os cofres da Petrobras”, descreve a reportagem.