Como explicar o atoleiro em que se meteu a candidatura de Jorge Gomes? Por qual motivo a mesma patina em torno de um dígito, segundo as últimas pesquisas? A resposta para essa pergunta não é fácil, e envolve uma série de fatores. Não temos uma causa, na realidade estaria mais para uma síndrome, um conjunto de sinais e sintomas. Nesses últimos oito anos, Jorge Gomes, apesar de sua experiência, foi mantido como um vice “decorativo”, guardado em algum escaninho da Prefeitura. Não foi dado a ele, nenhum projeto para tocar, nenhum holofote. Vários secretários e até membros do segundo escalão tinham mais visibilidade do que ele.
Uma ação mais do que necessária, para dar-lhe projeção, mas que também serviria para livrá-lo dos rótulos negativos que lhe foram atribuídos na derrota para Tony Gel em 2000. De candidato apático, insonso, sem gana, rótulos que pegaram, mesmo sendo injustos. Antes da definição do Prefeito pela candidatura do sucessor, vários nomes foram cogitados, o dele nunca figurou entre os pole position. Jorge tornou-se o ungido de Queiroz, como fruto de uma manobra para rifar Raquel Lyra do PSB.
Os problemas começaram aí… Afinal, como convencer a cidade de que ele tinha sido participante ativo do Governo Queiroz, se foi mantido em ostracismo? Se faltou apoio e força na eleição de sua esposa para deputada, numa eleição proporcional, como ele venceria uma eleição majoritária? A essa conjuntura confusa, ligaram-se uma série de fatores, que funcionaram como uma âncora, dificultando a sua ascensão. O primeiro, se nas eleições de 2000, o país deu uma guinada à esquerda, que culminou com a eleição de Lula. Agora o pêndulo retornou, e o país deu uma guinada à direita.
Ao fazer uma campanha à esquerda dos demais, porque assim ele se diferenciaria dos seus adversários, rotulando-os: de direita ou conservadores. Jorge, se chocou contra o muro e os humores do eleitorado, principalmente ao trazer o antipetismo para à sua campanha, e espantar a classe média. Esse tom também não foi aceito pelos eleitores mais a esquerda, que não esquecem o apoio a Aécio em 2014, e o apoio do PSB ao impeachment de Dilma. O marketing, que acertou no tom da campanha em 2008 e em 2012, errou fragorosamente nessa eleição. Ao invés de ressaltarem os seus pontos positivos: sua vida pública limpa, personalidade, estilo conciliador e experiências administrativas, tentaram transformá-lo em alguém completamente diferente, num novo Queiroz. E diante do insucesso, alteraram a narrativa da campanha inúmeras vezes, o que confundiu os eleitores.
Até o famoso bordão: Colocar Caruaru para baixo, foi incorporado à campanha. O que no guia passou a ideia de artificialidade, de simulacro, parecendo, que Jorge tinha herdado uma roupa de um defunto maior. Não foi construída uma narrativa para ele, tentou-se adequá-lo a narrativa “O que pode ser exemplificado” com o, deplorável, episódio do caçador de Pokémon. Tentou-se também reeditar a guerra fria com Tony Gel. Numa estratégia que visava jogar para o acostamento Raquel Lyra e o Delegado Lessa, e ignorá-los. Viabilizar-se como o AntiGel, e herdar os votos deles para o segundo turno era a meta, o problema com essa estratégia foi à validade dos argumentos. os mesmos estavam vencidos.
A renúncia, Neguinho Teixeira e a herança maldita, foram tão usados nas eleições anteriores, que Tony Gel adquiriu anticorpos contra eles. E os novos motes, como o do congelamento do IPTU, não encontraram aderência na sociedade. Além disso, a equipe de Jorge Gomes estava tão focada em Gel, que não viu a ascensão de Raquel, e principalmente a de Lessa. Para polarizar com Gel era necessário, primeiro, desidratar os seus rivais, e não ser ultrapassado por eles.
Outro fator que não pode ser esquecido, foram os inúmeros desgastes da gestão Queiroz, com diversos setores da sociedade. Jorge herdou a rejeição do Prefeito e segmentos, que apoiaram a reeleição em 2012 e migraram para oposição, entre eles: os professores municipais, médicos, profissionais de educação física, mototaxistas e os sulanqueiros.
Nesse momento, tal qual o livro de atividades infantis: Procurando Wally, não se encontrou até o momento, o verdadeiro Jorge Gomes nessa campanha, mas uma reedição de Queiroz. Jorge, o autêntico Jorge Gomes, não apareceu na campanha, e talvez, não dê mais tempo dele participar dessa eleição.
*Mário Benning é professor e analista político