Pela primeira vez em muitos anos, temos uma candidatura competitiva a Prefeito de Caruaru sem vínculos consanguíneos com os grupos tradicionais da cidade, a de Erick Lessa. Algo que era almejado pelos caruaruenses há um bom tempo.
A receptividade ao seu nome é a conjunção desse desejo local de renovação, com a grave crise em escala nacional que estamos passando. Pois, a fusão desses elementos afetou negativamente, desgastando, os políticos com mandato em curso e induzindo a renovação.
Sua candidatura teve uma aceitação tão inesperada, que seus adversários não souberam, e não sabem ainda lidar com ela. Somente nessa reta final estão aparecendo às primeiras críticas. Algumas ineficazes e primárias, como o fato dele ser natural de Alagoas, sendo chamado de forasteiro, por não ter raízes em Caruaru.
Existem inúmeras dúvidas e alertas vermelhos, sobre a candidatura de Lessa. Porém, o fato dele não ser caruaruense nato é o de menos. Ele é candidato a Prefeito, e não a macaxeira para ter raízes. Arraes era natural do Crato, Ceará, foi Prefeito do Recife e Governador do Estado por três vezes. Deixando sua marca na história pernambucana, mas do que muitos Governadores nascidos aqui.
Por outro lado, há uma grande nebulosidade que não permitem identificar que modelo gestão e de atuação ele adotaria. Não sabemos, se essa nebulosidade é intencional, porquê assim ele angariaria votos, tanta dos setores mais conservadores, como os de centro.
Porém, é necessário que ele fale, para não termos dúvidas sobre que tipo de Prefeito ele será se eleito. Para o eleitor não ser confundido, achando que está elegendo uma Marina Silva, pelo mote da renovação, e terminar elegendo um misto de Bolsonaro e Malafaia.
A mim, incomoda particularmente, que Lessa faça uma campanha monotemática, girando exaustivamente sobre segurança. Que explore o sentimento medo e insegurança, e ofereça como solução, apenas, políticas repressivas e reativas.
Cidades que conseguiram superar altos índices de criminalidade no final do século XX, como Bogotá e Nova York. Usaram além da repressão a inserção social, e maciços investimento em políticas públicas. Contudo seu discurso, como um disco arranhado, versa só sobre políticas de combate e não de prevenção. Agindo nos efeitos da violência e não nas causas.
Quase como se fosse candidato a Batman e não há Prefeito de Caruaru. Esse tipo de narrativa vem sendo usada, exaustivamente, por candidatos da direita populista em várias partes do mundo. Aumentam o sentimento do medo e aparecerem como salvadores ou enviados divinos. Foi assim no BREXIT no Reino Unido, é assim com Trump nos EUA, com Le Pen na França, com Rodrigo Duterte nas Filipinas e inúmeros outros casos mundo afora.
Existe também, o desconforto pelo uso da função de Delegado, quase como um título nobiliárquico em sua campanha. Hora ser delegado é uma função pública, a sua, pela qual ele recebe um salário. Se vangloriar porque prendeu alguém, seria a mesma coisa de um professor se gabar porque deu uma boa aula, ou um médico por operar, e salvar uma vida.
Esse recurso de usar as funções policiais como qualificativas para as disputas eleitorais, no Brasil, é praticado por um dos segmentos mais reacionários da política nacional. A bancada da bala, que tem figuras como o Capitão Telhada, o Major Olímpio, Capitão Augusto, entre outros.
Sem esquecer do fator religioso, um elemento que vem sendo explorado nos subterrâneos da sua campanha. Seu Vice anterior, em um debate da numa emissora rádio, repetia frequentemente que ele, Erick, era um homem de Deus e candidato da família. Uma prática bastante associada a conservadora bancada da Bíblia.
A religião é fantástica, nos inspira a sermos tolerantes, a amarmos o próximo, a lutar pelo bem comum. Tivemos no Brasil grades lideranças religiosas que deram inúmeras contribuições ao desenvolvimento do país, como: Dom Helder, Dom Paulo Evaristo Arns, o Rabino Henry Sobel e o Bispo Episcopal Robinson Cavalcanti. Porém, nenhum desses, em nenhum momento, usou sua fé para angariar votos ou o poder.
Erick Lessa possui todo direito de ser candidato que defende, ou representa pautas conservadoras na cidade. O problema é que há é essa nevoa, esse silêncio, que não nos permite ver identificar em que espectro político ele está: centro, centro direita, direita ou extrema direita. Se é intencional, ou não, ou apenas um recurso para lutar contra a exiguidade de espaço no horário eleitoral.
Para isso será necessário que ele fale, para que conheçamos as suas ideias, e os seus posicionamentos. Afinal ,para ser Prefeito não basta apenas ser um rosto novo, é preciso estar a altura dos desafios de uma social plural e diversificada.
*Mário Benning é Professor do IFPE e Mestre em Geografia.