Artigo – O Capitalismo é o que sempre foi – Parte 3. Por professor Alberes Silva*

Mário Flávio - 27.06.2018 às 22:35h

O início de 2018 trouxe dados atualizados e preocupantes sobre a situação da desigualdade social no Brasil. Historicamente o nosso país foi estruturado por dois elementos essenciais na sua construção como nação: primeiramente, um abismo de desigualdades que remonta ainda a nossa fase de colônia Portuguesa, que perdurou por mais de três séculos e colocou em posições antagônicas o negro escravizado e o senhor branco de descendência europeia.

Nesse período, a formação do Brasil já começou a sentir as consequências de um capitalismo ainda em estruturação que já trazia consigo a essência, a busca insana por lucro.

Segundo, é destacado a face desumanamente exploratória, que dizimou milhões de índios e colocou como sub-raça os descendentes de africanos.

Na chegada do século XX e com um capitalismo industrial tardio até final da década de 1960, o Brasil tinha uma população majoritariamente rural. E é com o processo de urbanização que se acentua as grandes contradições do sistema capitalista, no qual a renda cada vez mais se concentra nas mãos de uma minúscula parte da sociedade.

Com o aprofundamento da urbanização ficaram cada vez mais evidente os resquícios históricos que colocaram a maioria da população em condições cada vez mais desiguais. Sobre essas heranças podemos destacar o preconceito racial e social, marcas históricas de um modelo econômico totalmente excludente que não consegue atender as necessidades mínimas de sobrevivência da maioria da população em aproximadamente 80% dos países que estão sobre esse modelo.

O El País Internacional do dia 14/12/17 traz os seguintes dados:

“Quase 30% da renda do Brasil está nas mãos de apenas 1% dos habitantes do país, a maior concentração do tipo no mundo. É o que indica a Pesquisa Desigualdade Mundial 2018, coordenada, entre outros, pelo economista francês Thomas Piketty.,  grupo composto por centenas de estudiosos…”

O continente americano é composto por 35 países, e apenas 2 desses são considerados desenvolvidos dentro dos princípios do capitalismo. Entre esses 35 está o Brasil que em 518 anos, e não ter passado por uma experiência real de qualquer outro modelo econômico, amarga essa realidade de pobreza e desigualdade. Outro dado preocupante é a questão fundiária brasileira que é um fator de luta histórica e que vem reforçando o processo de desigualdade, vejam esse dado do G1 de dezembro de 2016:

“ Grandes propriedades somam apenas 0,91% do total dos estabelecimentos rurais brasileiros, mas concentram 45% de toda a área rural do país. Por outro lado”.

Infelizmente no nosso país o conceito de liberdade está diretamente ligado a questão financeira, o trabalhador assalariado que compõem a maioria da população economicamente ativa é “livre” para escolher trabalhar onde quiser, mas essa liberdade não lhe dá a condição de escolher onde quer passar as suas férias, somos livres para nos expressar, ouvir e ser ouvido, porém, quem quer ouvir os clamores de uma empregada doméstica ou de um gari?

A força de uma voz é de quem detém capital, as linguagens do mercado são mais ecoantes do que qualquer voz que braba por igualdade social.

Todos os períodos históricos da nossa história mostram que as “rupturas” foram para manter uma “ordem” dentro da ordem estabelecida pelo capital, o “fim” da escravidão no Brasil foi muito mais um ato político do que uma ação que cedeu à pressão dos clamores abolicionistas, o golpe de 1889 veio também para estabelecer uma ordem positivista que é um dos tentáculos do capitalismo, o golpe de 1930 e a reafirmação do mesmo golpe em 1937 por Vargas veio pra manter em termos gerais uma lógica da política econômica da república velha, porém, com início da industrialização.

O golpe de 1964 foi todo arquitetado pelos EUA que tinha total interesse no Brasil como território estratégico para a manutenção de um capitalismo subalterno as suas ordens, e chegamos no século XXI com as mesmas práticas históricas de um sistema que sempre se camuflou para manter a mesma ordem:  A ORDEM DESUMANA E EXCLUDENTE.