Um eleitor bem atento, que observe as falas, e os guias eleitorais, dos candidatos a Prefeito de Caruaru. Notará que embora tenhamos sete candidatos a Prefeito, com os mais diversos discursos e propostas. Há, contudo, um elemento que os une, e que é onipresente nesse eleição e em suas falas. O desejo de serem os autênticos representantes do Novo, nessas eleições.
Todos, todos mesmos, almejam ser o NOVO! Serem adjetivados e associados como o Novo. Uma identificação, perseguida arduamente e da qual querem exclusividade, em seus guias, entrevistas e debates. Buscam o rótulo de Novos e fogem do título de políticos tradicionais. Cada um a seu modo, e com seu narrativa, procura cristalizar essa imagem no eleitorado.
Jorge Gomes, mesmo sendo um político com uma carreira longeva e candidato da atual gestão. Afirma, que ele verdadeiro Novo, não alguém que nunca disputou eleições, mas sim ele. Porque traria ideias novas, projetos novos. E a sua experiência o qualificaria, mais do que ninguém, a ser o caminho por onde as novas ideias e uma nova realidade se instalaria em Caruaru.
Com Raquel Lyra a estratégia é outra, procura ser o rosto novo de um grupo político onipresente recente da história da cidade. Usa o fato de nunca ter sido Prefeita de Caruaru, e de ter uma carreira como servidora pública, para evitar ser rotulada como política profissional, ou tradicional. Além de adotar uma pauta progressista, para legitimar o seu pleito ao rótulo de novo nessas eleições.
Já Tony Gel, se apresenta como alguém que purgou pelos seus erros, andou pelo vale dos sombras e aprendeu com eles. Sendo assim um novo homem, amadurecido, e que terá um desempenho diferente do anterior a frente da prefeitura. Inovou, colocando alguém realmente novo na política como Vice, para reforçar a mensagem.
Já Lessa, explora exaustivamente a sua condição de neófito, de nunca ter disputado eleições para se creditar como sendo o “realmente novo”, o autentico. O fato de usar o título de delegado busca reafirmar essa situação, pois evita qualquer associação entre ele e o meio político do qual, aparente, ele nunca participou.
Essa fixação com o novo decorre, num primeiro momento, com a associação automática que fazemos do termo novo, como algo automaticamente bom, ou superior. Ligação está que remonta a emersão da modernidade no século XIX.
Nesse processo os termos tradição, ou tradicional, foram sendo considerados equivalentes a velho, atraso, estagnação, dominação, preconceito e ignorância. E o novo foi associado com a inovação, o conhecimento e a emancipação.
Esse jogo de conceitos e usado amplamente na política, seja ela nacional ou mundial. Das primárias americanas, com Trump e Sanders bradando que eram o novo. Ou nas eleições brasileiras, principalmente aqui em Pernambuco, onde foi cunhado o termo Nova Política, para afirmar a discordância com tudo que existe na arena política nacional.
Assumir-se com um candidato novo é se colocar como adversário do establishment, de um sistema político viciado. Alguém que discorda das práticas políticas tradicionais, e irá romper com elas se eleito, quase um cavaleiro solitário, que irá lutar contra os poderosos e fazer tudo diferente.
O problema, é que não há nada mais velho que esse discurso do novo nas nossas disputas eleitorais. Com frequência é usado para justificar a eleição de postes que serão manobrados, pelos seu grupo político ou padrinho
Falar em emersão do novo no nosso sistema política é uma piada de péssimo gosto. Basta ver a dificuldade que as novas lideranças tem em conseguir um espaço. Só são coadjuvantes, num jogo com escalação definida.Temos um sistema político que privilegia o poder financeiro, com partidos que não representam nada, são apenas, um amontoado de siglas sem significado nenhum. Querer que brote desse lodo, ou pântano, um lírio é um absurdo.
.Basta ver as contradições da Rede Sustentabilidade, partido que busca ser o novo no cenário político brasileiro. E que não hesitou, em adotar práticas da velha política para atender os seus interesses políticos imediatos, rasgando o seu estatuto e desrespeitando os seus filiados.
O novo só vai surgir quando banirmos o poder econômico e democratizarmos a política e os partidos. Até lá, o novo só será um recurso de marketing para empurrar goela baixo a velha política de sempre.
*Mário Benning é professor e analista político