Na terra de Sócrates os ventos andam agitados. O motivo da ventania é a situação econômica do país, que acumula um déficit de mais de 13% do seu PIB desestabilizando a outrora tão próspera zona do euro. Mas não é só no país dos filósofos que a situação anda preocupante. Que o digam Espanha e Itália. Enquanto a primeira luta pra reduzir seu alto déficit interno e tenta afastar uma imediata perspectiva de recessão, a segunda acaba de trocar a liderança política de seu país, tanto por motivos econômicos quanto ético-políticos .
Silvio Berlusconi, magnata, político e “bon vivant” (não necessariamente nessa ordem), renunciou ao comando político da Itália após se mostrar incompetente para enfrentar, com a necessária destreza técnica exigida, a urgente situação econômica. A situação da Itália merece nossa atenção não só por se tratar de uma das potências econômicas mundiais como também por nos permitir fazer um paralelo com outra situação que vivemos aqui em terra brasilis. Do lado de cá do Atlântico, no maior país tropical desse planeta, o que se vê é uma onda de denúncias que vai aos poucos varrendo toda a cúpula da administração federal numa vergonhosa e humilhante situação política.
Ministros após ministros vão caindo, tal como peças de dominó enfileiradas, por situações nada éticas na qual foram flagrados pelas competentes instituições de fiscalização da república por uma revista. Enquanto do lado de lá, o “Sir.” Berlusconi dá lugar a um tecnocrata que chega pra colocar ordem na casa, do lado de cá o que se vê o preço pago pelo loteamento de cargos segundo interesses meramente políticos. Vendo por outro ângulo, podemos dizer que, numa situação tardia, a Itália socorre-se aos técnicos; numa situação anunciada o Brasil insiste em nomeações convenientes. O erro está claro.
Se importamos tantas instituições do berço de Roma aprendamos também com seus erros. Nomeações políticas, quando feitas para satisfazer jogos de Estado e pagar dívidas de interesse, somente servem para travar o timão que dirige a nação. A falta de competência técnica no quadro da administração pública traz incontáveis prejuízos para a sociedade. Não se pode justificar uma indicação política meramente por base no histórico de um partido ou de um ícone. O ex-ministro Lupi, do trabalho, chegou mesmo a afirmar quando esteve no Senado que “o histórico político do PDT o autorizava a permanecer no cargo”. Não senhor ministro, não é o histórico de seu partido, de sua igreja ou de seu time de futebol que o autoriza a permanecer no cargo, é sua COMPETÊNCIA e ÉTICA para tanto.
É preciso acordar e perceber que a máquina pública (de qualquer esfera) não pode ser tratada como a casa de um “Padrinho”, que dá cargo pra quem “merece” e não pra quem tem competência. Cuidemos do nosso Brasil.
Diego Cintra é Advogado e especialista em Direito Público e leciona da Fafica.