
Em uma recente declaração, o ex-presidente Michel Temer fez uma comparação entre os atos de 8 de janeiro de 2023, em Brasília, e os protestos violentos que ocorreram em 2017 contra a Reforma da Previdência. Temer minimizou as revelações sobre a suposta tentativa de golpe e a participação de militares, além de minimizar o indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e de mais 36 militares. Mas será que a comparação feita por Temer realmente faz sentido?
O 8 de Janeiro, quando radicais invadiram e destruíram parte das sedes dos três poderes, é um marco inegável na história recente do Brasil. Foi um ataque direto à democracia, um golpe falhado que visava derrubar o governo recém-eleito de Luiz Inácio Lula da Silva. As imagens de alguns vândalos depredando o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal ainda estão frescas na memória dos brasileiros.
Esse episódio, portanto, não pode ser relativizado como simples manifestação de descontentamento, mas não eram todos que estavam envolvidos e teve gente que foi condenado e nem estava lá. É verdade que os protestos contra a reforma da Previdência também resultaram em momentos de violência em Brasília, com depredação e confrontos com a polícia.
Mesmo com a motivação e o contexto desses eventos sendo bem diferentes dos atos de janeiro de 2023, a crítica de Temer é que existem dois pesos e duas medidas em parte do judiciário brasileiro. Os protestos de 2017, embora tenham sido intensos, estavam relacionados a uma pauta mais política, com a o intuito de desgastar a imagem do governo, já que Temer era vice de Dilma e até hoje é acusado de Golpe por petistas.
Temer não acredita o 8 de janeiro teve como objetivo claro a derrubada do Estado democrático de direito, com ações planejadas para destruir instituições e enfraquecer o funcionamento dos poderes republicanos. Para ele, algumas ações foram isoladas e não contextualizadas para se assemelhar a um golpe de estado.
Para o emedebista, as revelações sobre a participação de militares e o indiciamento do ex-presidente Bolsonaro e outros 36 militares não reforçam a gravidade do ocorrido. Ele acredita que as ações desorganizadas são de uma minoria e não tinham o apoio de Bolsonaro, visto que, Lula assumiu e o governo está aí até hoje.
No entanto, o papel dos militares aloprados não pode ser relativizado, como se fosse apenas mais um episódio de insatisfação de uma parte da população. Quando membros das Forças Armadas se envolvem em ações como as que foram divulgadas, a questão passa a ser de interesse nacional e de segurança institucional. O Brasil, até hoje, carrega o peso de um regime militar de 1964 a 1985, e a participação de militares em atos golpistas não pode ser vista com descaso. Os militares devem ser sempre guardiões da democracia, não agentes de sua subversão.
Em última análise, as comparações feitas por Michel Temer, ao tentar relativizar o 8 de janeiro, podem ser ser um caminho para o Brasil diminuir as tensões e o país andar. Temer ainda guarda muito rancor ppor ter sido acusado de também ter dado um golpe para derrubar Dilma Roussef do poder. O ex-presidente deveria refletir também sobre a importância de manter o foco na preservação da ordem democrática.
O país já passou por momentos de ruptura política e não pode voltar a flertar com o autoritarismo. A conferir.