Dilma lembra anos de chumbo e diz que valeu a pena lutar contra a ditadura

Mário Flávio - 20.11.2012 às 12:25h

Lutar contra a ditadura “valeu a pena, e muito” – e o processo de redemocratização “foi menos duro” porque os brasileiros tiveram “uma fé sem restrições no valor da democracia”. Assim a presidente Dilma Rousseff recordou, em longa entrevista publicada anteontem pelo jornal El País, o seu envolvimento com a luta armada nos anos 1970. Na conversa ela falou também de projetos de governo, mensalão, liberdade de imprensa, crise europeia e seu futuro político. Sobre este, comentou: “Se vou ficar quatro ou oito anos só o povo brasileiro sabe”.

Dilma esteve no fim de semana em Cádiz, na Espanha, participando de uma cúpula de países ibero-americanos – e a entrevista foi dada dias antes, no Brasil, ao próprio presidente do jornal espanhol, Juan Luís Cebrián. Na conversa sobre luta armada – período que lhe custou três anos de prisão, nos anos 1970 – a presidente se dispôs a fazer um balanço didático e detalhado. “Necessariamente a gente evolui”, começou, para acrescentar que em dezembro de 1968 “não andava na política nem na clandestinidade”. Mas veio o Ato 5 e tudo mudou: “A partir de então qualquer um de minha geração que tivesse a mínima vontade democrática era violentamente perseguido. De modo que, do ponto de vista pessoal valeu sim a pena, e muito. Uma parte da juventude teve o gesto generoso de pensar que era sua obrigação lutar por seu país, até cometendo alguns erros”.

A reavaliação histórica prosseguiu: “Talvez aqueles métodos não conduzissem a nada, não tivessem futuro e fossem uma visão equivocada sobre a saída da ditadura”, mas eram vistos com “um sentimento de urgência. (…) Com o tempo comprovei o nosso excesso de ingenuidade e romantismo e nossa falta de compreensão da realidade. Minha passagem pela prisão me ajudou a entender que o regime militar não sobreviveria, porque não poderia prender, torturar e matar toda a juventude”.