Entrevista – Fernando Ferro lamenta: “Nós governamos Recife e esquecemos as eleições no interior”

Mário Flávio - 21.10.2012 às 11:23h

Fernando Ferro também mantém críticas à atual direção estadual do PT pela condução da eleição

O deputado federal Fernando Ferro (PT) marcou presença durante plenária de agradecimento realizada pelo vereador eleito Jadiel Nascimento (PRTB) em Caruaru. Ferro foi um dos principais destaques do guia eleitoral de Jadiel durante a campanha deste ano e chamou mais atenção pelo fato de uma liderança nacional petista ter apoiado um candidato do PRTB, quando havia, na verdade, 4 candidatos a vereador do PT na Capital do Agreste. Em entrevista ao Blog, o deputado explica que decidiu apoiar a campanha de Jadiel porque fora procurado por membros da tendência petista DS em Caruaru, entre eles, Adilson Lira, que foi o coordenador geral da campanha de Jadiel. Na verdade, isso também leva a outras considerações: Ferro mantém as críticas duras ao insucesso do PT na disputa do Recife e garantiu que a forma como o diretório estadual do partido conduziu as relações de forças com o diretório nacional deixou os diretórios municipais no restante do estado sem retaguarda e com uma dificuldade de comunicação preocupante.

Como foi o processo construído para apoiar um candidato do PRTB aqui em Caruaru, onde houve quatro candidatos petistas?

Nossa identidade com o grupo que apoia Jadiel é da fundação do PT. Adilson, Renato Carvalho Luiz Costa, são companheiros e referências políticas que nos procuraram anteriormente, à época das eleições para o Conselho Tutelar. Tivemos identidade política pelo trabalho desenvolvido por Jadiel, algo que sedimentou uma relação. Quando fui comunicado sobre o lançamento da candidatura dele, nós nos incorporamos e oferecemos nosso apoio. Ele nos procurou para isso, esse foi o motivo de nossa participação. Eu estive muito envolvido na disputa em Recife, naquele lamentável confronto da disputa interna do PT e depois tive que me soltar mais um pouco para acompanhar outros estados. Aqui em Caruaru eu fui procurado pelos companheiros que são minha referência do partido. Desse motivo veio nosso encontro, apoio e graças a Deus a vitória e o sucesso, que acho muito importante pela postura e caráter do companheiro Jadiel, que tem tudo a ver com o Partido dos Trabalhadores.

Na prática, de que forma o apoio a Jadiel, agora eleito, vai se desdobrar durante quatro anos de mandato na Câmara de Caruaru?

Nós estaremos acompanhando o seu mandato, estaremos participando quando formos convidados de eventos e debates, bem como encaminhando em Brasília, pleitos do interesse da população de Caruaru, a partir da iniciativa de Jadiel e de todos os companheiros do PT na cidade, como emendas do orçamento, políticas federais para o município, ações políticas do vereador e interesses do município no estado de Pernambuco.

Eu cheguei a ler em seu site um artigo seu sobre a estrutura do PT depois das eleições. O senhor afirmou que o PT se manteve forte em nível nacional, mas que o partido enfrenta fragilidades sérios em nível local. Quais são especificamente os problemas que os diretórios municipais em Pernambuco precisam solucionar para garantir a unidade da legenda.

Eu acho que foi cometido um grave erro político na disputa municipal em Recife. A ideia de retirar o direito de reeleição do atual prefeito João da Costa se mostrou como grave erro pela derrota que tivemos. Ficamos em terceiro lugar, com pouco mais de 17%, apesar de lideranças de peso de João Paulo e Humberto Costa. Isso tem consequências para o estado. Perdemos uma capital que governávamos há três gestões. É um grave prejuízo político. Essa disputa na capital terminou por impedi um apoio do PT às eleições municipais. A direção estadual do PT praticamente não acompanhou as eleições nas demais cidades. Eu praticamente tive que me desdobrar para acompanhar candidatos a prefeito e a vereador. Nós conseguimos ainda eleger 13 prefeitos com muita dificuldade, é muito pouco para um partido que governa o Brasil. Esse desempenho foi uma derrota política, um grave erro tomado por um grupo majoritário aqui no estado. Vamos debater e refletir sobre isso. Na verdade, o PT precisa de uma nova direção no estado, de um arejamento e principalmente de uma política de interiorização mais preparada e qualificada. Nós nos descuidamos, governamos Recife e esquecemos as eleições no interior. Não acompanhamos e não estruturamos as direções municipais, por isso colhemos esses resultados medíocres.

Nós nos descuidamos, governamos Recife e esquecemos as eleições no interior. Não acompanhamos e não estruturamos as direções municipais, por isso colhemos esses resultados medíocres

Mas, isso então seriam ruídos de comunicação? Faltou, por exemplo, uma estrutura de comunicação entre o senhor e o diretório do PT aqui em Caruaru para que fosse construído um apoio a um das candidaturas nessa campanha?

Faltou, sim, uma maior interação. Faltou primeiro uma política da direção estadual para as eleições. Um município importante em Caruaru precisa ter um debate sobre ter importância de ter candidatos a vereador competitivos. O resultado é que ficamos de fora da representação na Câmara Municipal, mas tínhamos um representante. Isso é um resultado lamentável. Mas, vamos trabalhar, porque temos bons quadros políticos na cidade e acho que é hora de trabalhar para renovar esses diretórios municipais para que eles se tornem à altura do PT em nível estadual.

No que se refere a figuras políticas da cidade, uma das militantes do PT em Caruaru, Louise Caroline, assumiu a vice-presidência da direção estadual do PT. Ela faz parte de uma tendência mais próxima às juventudes, o senhor acredita que para se chegar a essa renovação seja necessária a inclusão de lideranças ligadas a essas camadas mais jovens do partido?

Louise, além de ser um grande quadro político, é liderança forjada na luta do Partido dos Trabalhadores e vai contribuir para essa retomada do PT. Tenho certeza que ela está incomodada com esse resultado que tivemos e com a importância que nós temos de dar em promover o encontro entre os petistas que querem manter o rumo de elaboração política e de qualificação para essas disputas e evidentemente, para reconstruir o PT em Pernambuco.

O senhor fala na necessidade de renovações políticas, mas como fazer isso em meio a embates de egos das lideranças do partido em Pernambuco?

Não podemos é entrar no espaço das disputas mesquinhas. A ideia que eu vi do senador Humberto Costa, de querer expulsar João da Costa do PT, é uma atitude irresponsável e eu diria até desesperada de alguém que perdeu a eleição e que deveria estar buscando melhor as razões de sua derrota. Não há motivo para “caça às bruxas” e de ameaças, principalmente de quem não tem condições de ameaçar. Até porque, se ele tivesse humildade e bom senso refletiriam em reconhecer a derrota e que foi um dos principais responsáveis pela intervenção do diretório nacional no Recife, que fez inclusive com que o ex-presidente Lula não viesse a Recife, porque não quis se comprometer com esse desfecho. Passaram informações incompletas e até falsas sobre a disputa no Recife para Lula. Tudo isso tem que ser reparado, precisamos baixar a bola e recompor nossa capacidade política. Pra quem tem juízo e bom senso, a derrota é uma mestra e ensina mais que as vitórias. Lamentavelmente, me parece que os derrotados em Recife não estão tendo humildade para refletir com calma sobre o que falou o povo da capital.

E quando é que o senhor acredita que será possível avaliar de forma concreta esses prejuízo do PT? É possível prever que daqui a poucos meses o partido já estará recomposto?

Temos que começar de imediato essa reflexão. Chamar a direção partidária para fazer uma discussão serena e não-camuflada. Nós vamos fazer documentos aos militantes para refletir sobre esse momento. vamos fazer essa análise sem nenhuma pretensão, nem arrogância, ou nenhuma violência. É preciso o equilíbrio de aprender com a derrota.

Em Caruaru, Fernando Ferro apoiou Jadiel Nascimento, do PRTB