Por Tâmara Pinheiro – Do Livro: Relatos da ditadura em Caruaru – Histórias que os livros não contam
Uma nova chance profissional fez Assis trocar Caruaru pela cidade de Belo Jardim. Indicado por um amigo, foi trabalhar em uma cooperativa de crédito. “Essa cooperativa estava precisando de alguém que já tivesse experiência bancária pra organizá-la de acordo com a reforma bancária, proposta durante o governo de Castello Branco. O dono dessa cooperativa conversou com um amigo meu que me elogiou. Eles não deram importância ao fato de eu ter sido preso”.
Claudino ficou por três anos em Belo Jardim, onde pode refazer sua vida, criando novos laços de amizades e profissionais. Voltou a lecionar em uma escola. Segundo Assis, ele voltou a “ser útil”. Mesmo os donos da cooperativa serem da família Maciel, que tinha como base política a direita, este foram os maiores incentivadores para a reviravolta de Assis. O irmão do dono da empresa, Artur Maciel, na época promotor, orientou Assis em sua relação com a justiça, até durante seu julgamento.
Foi por causa de Artur, que ele resolveu solicitar medida de segurança, através do Tribunal Militar, para garantir o fim de qualquer perseguição. O pedido foi negado pelos militares, mas a confiança dos colegas de trabalho deu novo ânimo para Sissi. “Esse emprego foi minha salvação, foi como um milagre. Eu fui trabalhar, reorganizar essa cooperativa e a isto me dediquei. Antes eu estava completamente sem perspectiva. Na cooperativa tive a oportunidade de me reabilitar”.
O atentado dos Guararapes – No dia 25 de junho de 1966, um atentado marcou a história da Ditadura Militar brasileira. Uma bomba explodiu no Aeroporto Internacional do Recife, o que resultou na morte do almirante Nelson Gomes Fernandes e do jornalista Edson Regis de Carvalho. Além destes, outras 14 pessoas foram feridas na explosão.
A intenção era atingir o marechal e então candidato à presidência do Brasil, Costa e Silva que iria estar no aeroporto, mas mudou os planos, pouco tempo antes, preferindo a via terrestre que a aérea. Isso não impediu que o atentado seguisse adiante. O Padre Alípio de Freitas, da Ação Popular (AP), foi dado como mentor do fato.
Mesmo a mais de 180km do local do atentado, na cidade de Belo Jardim, Assis Claudino foi levantado como suspeito de participar do planejamento do fato. Militares foram atrás dele na pousada que estava hospedado e contaram com a ajuda do dono do local para recolher informações. “O dono da pousada era informante do Exército e estava me vigiando. Eu só soube disto muito tempo depois. Segundo ele, me defendeu dizendo a verdade: que eu estava trabalhando e não tinha saído da cidade”.
Mesmo afastado do movimento político, Assis não deixou de ser observado pelas forças militares que, a qualquer movimento suspeito, procuravam mais informações.
A reviravolta – O julgamento contra Assis só ocorreu em 1967, três anos após ser preso e libertado. Na primeira vez que compareceu ao Tribunal, o julgamento foi adiado. Na segunda, seu advogado orientou a não comparecer e conseguir um atestado médico como justificativa. Quando chegou ao escritório, o advogado lhe perguntou: “Você conhece algum médico que possa lhe fornecer um atestado? Se você for a julgamento, a pena não será menor que dois anos de reclusão”.
Na terceira vez, Assis não conseguiu segurar sua ansiedade, e resolveu arriscar, mesmo correndo o risco de voltar a ser preso. ‘Eu estava muito pressionado, precisava de um resultado para ficar mais aliviado. Por sorte, fui absolvido”. Com a absolvição pelos crimes de subversão e com a vida reconstruída em Belo Jardim, Sissi sentiu mais segurança e assim resolveu voltar para Caruaru. Trabalhou para a empresa de transporte rodoviário Caruaruense de 1967 a 1982.
Por causa da ligação da família responsável pela empresa, a família Lyra, voltou a se engajar no movimento político. Filou-se ao MDB e militou durante as eleições municipais. Participou das campanhas políticas, voltou a escrever, produzindo discursos para Fernando Lyra, João Lyra Filho e João Lyra Neto, políticos de renome para o cenário municipal e nacional.
Com a redemocratização mais perto, o clima era mais seguro. Por isso, conseguiu concluir seus estudos, no curso de Bacharel em Direito, pela Fadica. Em 1983 foi convidado por um amigo a trabalhar em um escritório de advocacia, no Rio de Janeiro, voltando em Caruaru no começo da década de 1990.