Reportagem publicada no Jornal Vanguarda
Iniciada há quase seis anos, a duplicação da BR-104, que é para se tornar num importante equipamento para escoação da produção de confecções e produtos agrícolas, está paralisada há mais de seis meses e esse fato tem causado uma série de transtornos para os moradores de várias cidades do Agreste Central, principalmente Caruaru, Toritama e Santa Cruz do Capibaribe, que formam o Polo de Confecções com uma cadeia de mais de dez mil pequenas fábricas e que geram pelo menos 120 mil empregos diretos. Só em Caruaru, a movimentação financeira em dia de Feira da Sulanca (todas as terças) passa dos R$ 50 milhões, com a cidade recebendo um fluxo extra de pelo menos 30 mil veículos. A intenção do Governo do Estado é reiniciar as obras ainda em fevereiro.
De acordo com o Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura em Transportes), houve problemas de ordem financeira, já que a obra precisou de aditivos (mais dinheiro), que foram questionados no TCU (Tribunal de Contas da União). Durante vários dias, tentamos contactar o secretário de Transportes, Isaltino Nascimento, mas ele não retornou nossas ligações e nem respondeu às mensagens enviadas para seu telefone celular funcional. A duplicação, que é uma obra federal, foi estadualizada e vem sendo ‘tocada’ pelo Governo do Estado, sob a coordenação da Secretaria de Transportes.
Em 2009, logo quando assumiu a Prefeitura de Caruaru, o prefeito José Queiroz (PDT) montou um Comitê Gestor para acompanhar o andamento dos trabalhos e agilizar os entraves que iam desde a agilização no pagamento de indenizações à remoção de tubulações. Ao falar com a imprensa sobre o assunto, Queiroz admitiu que há mais de um ano não acontece reunião do Comitê Gestor, que era formado por servidores de vários órgãos do Governo do Estado, secretários municipais e representantes do consórcio. “O comitê foi criado para destravar problemas com a Compesa, empresas de telefonia, de iluminação, entre outras. Cumprimos bem nossa função, mas à medida que a questão é financeira entre o Estado e o consórcio que toca a obra, o Comitê Gestor não tem nenhum poder de interferência”, justificou Queiroz. “Tive uma informação extra-oficial que os problemas haviam sido sanados e a obra deverá começar nos próximos dias”, completou o prefeito.
Os maiores problemas da duplicação estão no perímetro urbano de Caruaru. Em nenhum trecho que corta a cidade foram colocadas passarelas, além da sinalização ser bastante precária. A combinação desses dois fatores tem causado muitos acidentes, atropelamentos e mortes. O filho do ex-secretário executivo de Governo da Prefeitura de Caruaru, Eduardo Guerra, foi uma dessas vítimas fatais. O jovem Eduardo Irineu (22) bateu de frente com sua moto em uma manilha que estava colocada no meio da pista, depois de derrapar em material de construção e areia deixados na BR. O acidente ocorreu há cerca de quatro meses em frente à casa de shows Palladium e só na semana passada o local recebeu alguns reparos, porque vai ser instalada lombada eletrônica.
Nas proximidades do Detran também já ocorreram vários atropelamentos com mortes. Em um dos casos, mãe e filha foram atropeladas com a menor morrendo e causando revolta na população que ateou fogo em pneus e fechou a BR por uma tarde. Uma moradora do local recordou o fato. “Já faz mais de dois anos que isso aconteceu e até agora nada de passarela ou lombadas eletrônicas. O acidente ocorreu bem próximo da minha casa e o pessoal já vinha reclamando e pedindo a instalação de lombadas há tempo. Até abaixo-assinado foi entregue e nada foi resolvido”, disse a dona de casa Maria Secundina (70), que mora no bairro Divinópolis.
Devido à quantidade de acidentes, a Polícia Rodoviária Federal tem deixado, há mais de quatro meses, uma viatura atuando de forma exclusiva no trecho que corta Caruaru. “A quantidade de acidentes é enorme, posso afirmar que passa de um por dia. É que em muitos casos os motoristas fazem acordo sem a presença da PRF”, admitiu um patrulheiro.
No trecho que corta Caruaru, foram instalados oito viadutos e, devido à falta de manutenção, todas as paredes estão com muito matagal, fato que pode comprometer a estrutura dos equipamentos. Duas pontes que cortam o rio Ipojuca, logo após o Terminal Rodoviário, também estão inacabadas e alguns motoristas tentam desviar do tráfego intenso, utilizando a ponte que não tem sinalização e algumas valas sem proteção. “Como eles não terminaram a ponte, colocaram um semáforo que acaba gerando retenção do tráfego de veículos e provocando congestionamento na BR, principalmente quem vai no sentido Toritama-Caruaru”, reclamou o motorista José Carlos Galindo (32). “Um trecho que era para fazer em dois minutos, demoramos até 20 ou 30 minutos para fazer”, completou o taxista Sandoval Melo.
Comerciantes de Caruaru e Toritama reclamam do prejuízo em seus negócios. Dono de uma loja de peças de veículos no bairro Três Bandeiras, um comerciante afirmou que o movimento caiu de forma considerável desde que as obras foram iniciada, em 2008. Segundo ele, faltou planejamento melhor para que os veículos tenham acesso às vias locais e à BR. “Para você ter uma ideia, quem está nas estradas das Cohabs I e II não tem como ter acesso à BR-104, a não ser pelo Terminal Rodoviário, que fica a quase oito quilômetros. Se alguém quer entrar na cidade e perder a primeira entrada antes do Palladium, só faz o retorno mais de dez quilômetros depois, também no Terminal”, disse Carlos César Oliveira (46).