Marçal deve mudar estratégia para diminuir rejeição e debates viram “reality shows” 

Mário Flávio - 16.09.2024 às 09:54h

Ontem, 16, durante o debate da TV Cultura, o candidato José Luiz Datena (PSDB) jogou uma cadeira contra Pablo Marçal (PRTB) após ser provocado pelo empresário. Fábio Andrade, cientista político e professor do curso de Relações Internacionais da ESPM, pontua que o candidato Pablo Marçal vai tentar usar esse episódio como uma ferramenta para se posicionar como candidato antissistema.

“Existe uma percepção generalizada de que a violência política atinge principalmente a direita, e o fato de ele ter optado por não continuar no debate ontem demonstrou uma estratégia: ele já está usando as redes sociais para se vincular a isso.”

Mas, Andrade pondera sobre se a estratégia vai funcionar. “Pode ser que boa parte do público, especialmente aqueles mais acostumados à violência cotidiana, encare uma situação com naturalidade, como fez o Datena.”

Segundo Paulo Ramirez, cientista político e professor da ESPM, os debates políticos mudaram. O foco, que antes estava em questões relacionadas ao desempenho dos candidatos, como denúncias de superfaturamento de obras ou articulações entre partidos, hoje migrou para ataques pessoais e discussões de âmbito privado. “Esse fenômeno é, em grande parte, impulsionado pela ascensão das redes sociais, que descentralizaram a produção e circulação de informações, antes concentradas nos canais televisivos.” Ao longo dos anos, essa mudança desgastou a qualidade do debate político na televisão, resultando na popularização de candidatos “outsiders”, que se apresentam como antissistema, críticos das instituições e voltados a mobilizar o eleitorado por meio de emoções, e não de propostas concretas.

Sobre o discurso de ódio, amplificado pelas redes, Ramirez acredita que desqualifica ainda mais o debate político, que passou a lembrar uma briga infantil, como se o processo democrático tivesse regredido aos tempos de escola. “Isso empobrece o conteúdo dos debates, mas ao mesmo tempo aumenta sua audiência. Hoje, o público espera mais uma briga de “reality show” do que uma discussão aprofundada sobre ideias e políticas públicas.”