Da Folha de Pernambuco
Reeleito prefeito de Caruaru, José Queiroz (PDT), avalia os quatro anos de gestão, pontua avanços administrativos, fala dos próximos passos para o processo de transição do governo e nega que deixará o mandato para concorrer ao Senado em 2014. Queiroz lembra as dificuldades vividas por ele e outros prefeitos em relação à queda do repasse do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) e aponta como saída para o aperto que líderes políticos cobrem da presidente Dilma Rousseff (PT) uma espécie de compensação da perda, assim como fez o ex-presidente Lula na época em que adotou a redução do Imposto de Produtos Industrializados (IPI) como medida de combate à instabilidade financeira que afeta, desde 2008, a economia mundial. Com relação às eleições de 2014, Queiroz acredita que o governador Eduardo Campos é um potencial candidato à Presidência e cita a performance do PSB no pleito municipal deste ano como um dos fatores para credenciar Eduardo para a disputa.
No contexto
Zé Queiroz já fala em Eduardo Campos como futuro presidente
Passadas as eleições, qual a análise que o senhor faz da gestão e o que deve mudar ou ser ajustado para a próxima etapa de sua administração?
Quando uma eleição é decidida com uma votação inquestionável (57,73% dos votos válidos) significa dizer que a população aprovou a gestão. Avaliamos que os serviços prestados à população estão bons ou, então, não conseguiríamos o nível de aprovação de 74%, conforme nossa última pesquisa. É evidente que agora iremos nos preocupar em ampliar esses serviços, mas não teria essa preocupação com deficiência de alguns serviços que precisam ser corrigidos. Nas áreas de Saúde, Educação e Social fizemos avanços significativos. Conseguimos reduzir os índices de analfabetismo. Só para se ter uma ideia, o nosso IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) subiu de 3,7, assim que assumi, para 4,0 e agora atingindo 4,4.
O senhor está com dificuldades para fechar as contas do município este ano?
Estamos enfrentando uma crise. E estamos com dificuldades de fechar o ano, porque tem que zerar tudo dentro da Lei de Responsabilidade Fiscal. Para facilitar o trabalho, criamos duas comissões, um conselho gestor para fechar as contas e uma comissão de transição que vai começar seu trabalho no dia 10 de novembro, sob a coordenação do deputado Wolney Queiroz. A transição será feita dentro de um novo conceito que a gente enxerga a administração e, naturalmente, discutiremos o nosso atual modelo de gestão. Só a partir disso é que saberemos se devemos ou não mexer na estrutura administrativa, se ampliaremos ou reduziremos secretarias e quais as adaptações que precisam ser feitas com base nas propostas de diversos segmentos da sociedade durante a campanha. Certamente devemos ter alterações de equipe. Depois de analisar todas essas questões é que teremos o modelo de gestão a ser utilizado. A experiência do modelo de gestão do governador Eduardo Campos foi muito boa. É um modelo aprovado que a gente pode seguir.
Qual o impacto da redução do repasse do FPM para Caruaru este ano?
Tivemos uma queda expressiva. Perdemos em julho, agosto e setembro, R$ 9 milhões, quando esperávamos arrecadar entre R$ 17 milhões e R$ 18 milhões, nos três meses. Foi um grande impacto porque perdemos a metade dos recursos. Na medida em que enfrentamos essas dificuldades temos que fazer adaptações bruscas na administração. Quando as pessoas me perguntam se apoio o modo de governar da presidente Dilma Rousseff (PT) eu digo que o (ex-) presidente Lula acertou quando, no meio de uma crise, fez incentivos com a redução de IPI para diversos setores da economia, estabelecendo a garantia do emprego na indústria e no comércio. Mas a grande diferença é que ele (Lula) nos deu uma compensação e fez o adiantamento de duas parcelas do FPM. Mas ao invés de se rebelar contra a presidente, os prefeitos precisam pedir essa compensação porque os municípios brasileiros não podem pagar essa conta. Para fechar as contas, precisamos contar com a ajuda do Governo Federal. Não tem mágica.
Além do FPM, quais as outras arrecadações municipais e o que se espera atingir no fim deste ano?
Temos FPM, ICMS (Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) e transferências. Em 2009, quando assumi, a participação da receita municipal era de 7% e hoje é de 9%. Este ano, a arrecadação total da cidade deve chegar a R$ 550 milhões.
Como o senhor vê o futuro do grupo de Tony Gel e Miriam Lacerda, que perderam o pleito?
A dimensão da nossa vitória define bem o espaço político que ocupamos hoje e o que eles ocupam. Agora, com toda a sinceridade posso dizer que eu não estou preocupado com o futuro político deles. Para mim o político deve se preocupar com a afirmação daquilo que ele faz na construção do espaço. A derrota sacramenta a perda de espaço deles. Trabalhamos com um conjunto político, com um vice-prefeito como Jorge Gomes, pessoa extraordinária. E juntos fizemos dois terços da Câmara pela segunda vez.
Como será a relação com o PCdoB na Câmara após o partido ter ensaiado candidatura indepentente?
Nos dois primeiros anos foi de lua de mel. Cometi, talvez, uma imprudência quando disse que os três vereadores (eram 13 contra os três) definissem entre eles uma candidatura e eles, simplesmente, brigaram. Com isso, um lado se socorreu na oposição, o que há de mais arcaico e atrasado em Caruaru. E isso não podia dar certo. Então, os últimos dois anos foram de altos e baixos. Não que eu agisse em direção à Câmara, mas a Câmara agia em direção ao governo. Não me preocupo com isso porque administrei os dois anos e aprovei todos os projetos, inclusive com votos da oposição porque não mando para a Câmara nenhum projeto para mim, mando para a coletividade. Hoje, tenho 16 vereadores, já devo ter até mais, e vou contar com a maioria.
Mas representantes da Câmara afirmam que faltou diálogo com a gestão.
Não faltou. Asseguro que não. O que ocorreu politicamente foi o seguinte: na hora em que houve a divisão da bancada para eleger um presidente o eleito entendia que houve preferência nossa por outro candidato quando não houve. Quando me reuni com os 12 vereadores e pedi que escolhessem um candidato, sem a necessidade de recorrer a oposição. A partir daí o presidente eleito deu um grito de independência. E eu tive que respeitar, mas não faltou diálogo. Sempre estive aberto ao diálogo com qualquer vereador, inclusive da oposição.
Há rumores de que o senhor seria o indicado do governador para o Senado e que o vice-prefeito, Jorge Gomes (PSB), assumiria a prefeitura.
Se você fizer a leitura da notícia vai ver que é um exercício de raciocínio político jornalístico sem nenhum fundamento. Não há fonte, não há dentro do governo nenhuma menção a isso muito menos de minha parte. O que quero mesmo é, pelo tamanho do projeto que apresentei ao governador, dispor dos quatro anos para executar esses projetos. Sou feliz quando me intitulo governador de Caruaru.
Caso o governador lhe delegue essa missão, o senhor aceitaria?
Acho que o político que pensa em começar um mandato antes de terminar outro começa a atrapalhar seu planejamento. Não quero pensar em outro projeto político. Meu grande projeto político é a administração de Caruaru. Fui deputado quatro vezes, fui líder da oposição, fui líder da bancada três vezes e gostava de ser deputado, mas o que gosto mesmo é de administrar Caruaru com o apoio de todos.
Como está sua relação com o vice-governador João Lyra Neto, que não lhe apoiou na campanha e há quem diga até que ele pediu votos para a oposição na tentativa de lhe derrotar?
A eleição é página virada. Foi uma opção de João Lyra, que eu respeito. Agora, João é vice-governador ao lado do governador com a maior aprovação do Brasil e é também um presidenciável.
Isso dá dimensão à vice-governadoria não dá?
Sou membro da Frente Popular, tenho responsabilidade delegada pelo povo do comando da frente numa região. Então, o ponto de convergência é esse: ele é vice-governador de um comandante da frente, eu sou da frente. O resto é pontualidade. Passadas as eleições, terei essas relações institucionais, o que é normal.
O senhor está disposto a procurá-lo?
Posso procurá-lo. Não vejo problema nisso. Eu sempre disse que o tapete estava estendido para que ele ingressasse na campanha. Nunca contestei suas colocações sobre a administração. Por isso digo que isso é página virada. Temos um ponto de convergência que é o compromisso maior com Pernambuco. O resto é pontualidade e não podemos deixar que questões pontuais sejam superiores.
Eduardo se consolidou para a disputa de 2014?
Lembrei-me do que José Ortega y Gasset dizia: “O homem é ele e as suas circunstâncias”. Acho que o governador, pelo desempenho eleitoral de seu partido e de sua gestão, e as circunstâncias são determinantes. Agora, essas circunstâncias determinarão qual é o tempo. Acho que ele é um presidenciável. Ele não diz, mas quem diz são periódicos internacionais. O governador criou essas credenciais. Recentemente, ele colocou que a presidente Dilma precisa de gente que a ajude porque já tem gente demais para atrapalhar. Com isso, ele demonstra o compromisso com Dilma. Não tenho dúvidas sobre sua boa relação com a presidente e com Lula.
O governador vem fazendo críticas ao Governo Federal, tomando como gancho a partilha dos royalties e no novo pacto federativo . Isso seria um sinal de um futuro rompimento com o PT?
Ele (Eduardo Campos) se transforma num protagonista nacional importante e para isso precisa ter opinião. Esse pacto federativo é consequência dos municípios que estão quebrados. O político que tiver capacidade de interpretar isso não está afrontando Dilma, nem o passado de lula e, sim, afirmando que é preciso repensar essa política. Se você levar em consideração o problema dos mais de cinco mil municípios brasileiros em relação à crise, que vem afetando a oferta de serviços públicos, perceberá que Eduardo tem o dever de pensar diferente. O que não pode é haver concentração de arrecadação nas mãos do Governo Federal. É bom que Eduardo possa ser intérprete desse sentimento para mostrar que ele está à altura das missões que se faz do político que está num cenário nacional.
O senador Cristovam Buarque (PDT) seria um bom nome para compor a vice de Eduardo Campos rumo à Presidência em 2014?
Eu disse que Eduardo é um protagonista da cena política e não candidato em 2014. Em relação a Cristovam, torço para que ele volte a ser governador do Distrito Federal. É importantíssimo para o partido tê-lo nesse posto e ele tem credenciais, penetração no Distrito Federal, e isso pode se transformar em realidade.
Como o senhor avalia o desempenho do PDT nas eleições deste ano?
Perdemos prefeituras, 11% ou 12%, mas em compensação o partido vai administrar três capitais, sendo duas de grande expressão, Porto Alegre e Curitiba. Além disso, Natal também é uma capital muito importante. E as três sediarão a Copa do Mundo. O partido ganhou cidades estratégicas, consolidou espaços políticos. Nós não tínhamos nenhum prefeito de capital. Fomos o quarto partido em conquistas de capitais. Em Pernambuco, também crescemos. Fizemos dez prefeitos, podendo fazer 11, porque a situação de Água Preta está indefinida. Na nacional não crescemos tanto, mas não contribuímos para quedas.
Como será a participação do PDT na gestão do prefeito eleito do Recife, Geraldo Julio (PSB)?
Disputamos no Recife ao lado de Geraldo, apesar da batalha que travei. O partido teve quadros novos disputando para vereador e conseguimos eleger Isabella de Roldão e Rodrigo Vital. Se não disputássemos ao lado de Geraldo não teríamos nenhum vereador, porque a aliança seria com o PSOL. Avalio que, politicamente, eu estava certo quando bati o martelo para apoiar Geraldo. Sobre nossa participação no governo ainda não houve nenhuma conversa nesse sentido. O PDT deixa ele (Geraldo) à vontade para construir esse formato. Caso ele deseje conversar com a gente estamos à disposição.
Nesta eleição, Lula não conseguiu eleger alguns petistas em cidades e capitais importantes, onde, inclusive, o eleitorado optou pelos líderes indicados por Eduardo. O senhor acha que Lula se enfraqueceu enquanto líder político?
Eu diria que Eduardo tem essa expressão e por isso reforço que ele é protagonista da cena política de 2104. Agora, cada caso é um caso. Em Salvador, por exemplo, como Lula poderia fazer milagre com um governador que deixa acontecer uma greve de 90 dias com professores? Qual o sentimento que norteou o estímulo de Artur Virgílio? Então, não acho que Lula perdeu a força. E a prova disso foi ter vencido a eleição em São Paulo com Fernando Haddad (PT).