A vitória de Zé Queiroz em Caruaru naturalmente iniciou o processo de reorganização das oposições em nível local, que são representadas principalmente por dois polos: o grupo do vice-governador João Lyra (PDT), que mesmo estando na Frente Popular, segue com a postura crítica ao prefeito de Caruaru, o do deputado estadual Tony Gel (DEM), além de um potencial, o PSDB, que pode decidir deixar de ser sublegenda e partir para um voo solo. Todos esses grupos possuem estratégias e desafios peculiares no enfrentamento com a situação, a imensa Frente Popular de Caruaru, desafios esses que embora mirem 2016 passam obrigatoriamente por 2014, especificamente pela eleição de deputado, o primeiro embate e a medição de forças.
As oposições precisam praticamente, até por questão de sobrevivência demarcar seu território desde o início, exercendo o papel do contraditório ao governo Queiroz, fiscalizando, cobrando e criticando. Praticando aquilo que os ingleses chamam de gabinete das sombras, onde os partidos de oposição criam núcleos para acompanhar cada setor do governo. Não uma oposição gratuita, que se apequene com questões pontuais, pois essa estratégia mostrou-se um tiro no pé na eleição passada, mas que análise o andamento das ações da situação, que destrinche os projetos nas áreas sociais, avalie a qualidade dos serviços públicos e o uso dos recursos, uma oposição consistente e não imatura.
Nesse processo, o primeiro desafio das oposições seria controlar partidos que tenham expressividade no cenário político e que sejam retirados da órbita de influência da prefeitura, que ofereçam tempo de guia e autonomia a esses grupos políticos. Para evitar a repetição do que aconteceu com Licius Cavalcanti, quando o diretório estadual do PCdoB enquadrou o municipal e anulou as decisões locais, forçando a coligação com a Frente Popular e apoio irrestrito a Zé Queiroz.
Nesse contexto, a situação do grupo Lyra é mais confortável, pois para se contrapor a máquina da prefeitura o mesmo conta com o apoio da máquina estadual e a perspectiva de sentar na cadeira de Governador em 2014, de ser o comandante estadual durante as eleições, talvez por isso o grupo do prefeito não tenha feito críticas mais diretas a João. A reinserção do grupo João Lyra na vida política local, passa prioritariamente pela eleição de Raquel Lyra (PSB), ou à deputada estadual ou até mesmo federal. Sabendo que dessa vez contará com a oposição explícita da prefeitura a esse projeto, já que em 2012 ocorreu a pressão indireta, João montou palanques alternativos por várias cidades do estado que fornecerão os votos que faltarem em Caruaru.
O passo seguinte é cooptar as lideranças insatisfeitas com o grupo Queiroz, já que a máquina é grande, mas não o suficiente para abarcar todas as aspirações de poder e cargos de cada aliado do prefeito, que nesse momento estão se avaliando como indispensáveis na vitória de outubro. O grupo Gel, por ser oposição aos três níveis de governo, tenta atenuar esse cenário migrando para a base do governador, o que não seria um problema, já que temos várias siglas desse espectro apoiando Eduardo como o PR, o PTB, o PMDB e o PSD.
A dificuldade seria encontrar uma dessas que não esteja sobre o controle de um aliado fiel ao prefeito. O PMDB, destino natural, conta com a oposição do diretório nacional, que já sinalizou o desejo de tomar o partido das mãos de Jarbas e colocá-lo nas mãos da oposição a Eduardo, o que não convém a Gel e tampouco a João. Outro desafio do grupo Gel será recobrar a força de atração, já que com a segunda derrota consecutiva por uma larga margem, o mesmo encontrará dificuldades em construir alianças competitivas para as próximas eleições.
E o primeiro round dessa briga é a próxima eleição para deputado, já que o prefeito se empenhará ao máximo em eleger seus aliados e se a oposição emplacar os seus candidatos, com todo cenário adverso já será um bom começo.
*Mário Bening é analista político e professor