Há dois anos atrás o foco era os 42,2 milhões de evangélicos espalhados pelo país, crescimento segundo o IBGE, de mais de 60% entre 2000 e 2010. Com 22% do eleitorado, somam hoje quase 27 milhões de votos. Agora o cenário são os municípios. Em todo país as principais lideranças religiosas do segmento evangélico articulam estratégias para aumentar a representatividade no executivo e legislativo. Pré-candidatos a vereador são cortejados por pré-candidatos majoritários. Pernambuco acompanha esse cenário nacional.
Como a eleição deste ano apontando para alianças e acordos visando 2018, os principais municípios do estado, pode vir a ter vários candidatos da bancada evangélica, disputando a prefeitura dessas cidades nas eleições deste ano. No meio de políticos ligados a bancada protestante, a uma união das denominações para eleger o maior número de prefeitos e vereadores no Estado.
A “defesa da família” é o principal mote. Porém o crescimento é incontestável: Em 2010 na Alepe, os deputados da bancada eram apenas três. Em 2014, dos 49 deputados estaduais eleitos, os cinco mais votados, três foram evangélicos. Trazendo esta realidade para Caruaru ao menos três vereadores se identificaram como crentes formando uma bancada evangélica fora outros que no decorrer do mandato foram aparecendo. São incontáveis os templos de todos os tamanhos que se avizinham na mesma calçada aumentando significadamente o potencial eleitoral deste segmento.
Crescemos mas este crescimento não demonstra a formação de cidadãos mais éticos e responsáveis, nem a redução dos males no município. No livro “Os Votos de Deus” organizado por Joanildo Burity, pesquisador e diretor de Pesquisas Sociais da Fundação Joaquim Nabuco e Maria das Dores Campos Machado, socióloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, há uma coletânea de textos que articulam a discussão teórica sobre as distinções entre Igreja e Estado, Público e Privado, Religião e Política e o papel da religião nas democracias liberais contemporâneas. Mostra que embora sejam múltiplos os grupos evangélicos, quando mobilizados acabam interferindo decisivamente num processo eleitoral.
Um recado aos “de fora” que disputam este eleitorado: ainda que seja uma minoria, há os fieis que desfrutam de uma consciência de presença transformadora. Há um recuou entre os desinformados, sem conhecimento bíblico-teológico, histórico ou ético. Temos uma geração pronta para o exercício de uma cidadania responsável e diferenciadora. Estes, quando estão desempenhando algum mandato acabam se diferenciando dos alienados e interesseiros, são de uma estirpe enraizada em valores éticos contrários ao corporativismo, clientelismo, o toma-lá-dá-cá, com o seu preço.
Mas como é triste ter conhecimento de casos entre líderes eclesiásticos que aderem a prática da propina, do clientelismo, da troca de favores, votando em quem puder trazer mais vantagens para as suas igrejas (terrenos, cimento, cargos, etc). Com o discurso do anticomunismo voltando a cena, supervalorizam temas morais em detrimento de muitas outras questões sociais conseguindo assim facilmente utilizar os congregados como massa de manobra.
Para “os de dentro” o recado é de cautela. O próprio universo político é muito complexo, e em breve teremos definidos os candidatos majoritários e proporcionais, os cristãos protestantes precisam estar atentos as chamadas candidaturas “oficiais” e às resultantes de “profecias”. O cristão consciente faz diferença na vida em sociedade, e os que ocupam posições nos poderes do Estado precisam se diferenciar apresentando uma ética superior. Dom Robinson Cavalcanti lembrava nosso compromisso com o reino de Deus nos chamando “para a denúncia, a pronúncia, a proposta e a ação.”
Que tenhamos juízo observando e analisando o que nos é posto. Entendendo nosso papel e missão enquanto no mundo. Buscando o bem comum da sociedade e não o bem particular de nosso umbigo.
*Paulo Nailson é Evangélico e militante social e político filiado ao PCdoB.