É muito comum encontrarmos pessoas esclarecidas, letradas e até mesmo ocupando espaços de relevância intelectual com ideias absurdamente atrasadas, considerando que a chave de resolução dos problemas resume-se num simples conceito “opressivo” que dará conta de acabar com as desigualdades no mundo contemporâneo. O “fetichismo das ideias” não é mais do que a autonomia da ideia que se tem sobre os eventos que ocorrem. Os sociólogos, historiadores e cientistas humanos são rápidos demais em formular tais conceitos.
Isso não é estranho ao Brasil, país autoritário por natureza.
O positivismo, por exemplo, foi uma ideia predominante no Brasil do século XIX, assim como uma doutrina que buscava resumir em sua construção teórica a totalidade dos fenômenos no Brasil. O marxismo Uspiano idem. Alguns afirmam que a totalidade se perdeu e que hoje vivemos numa crise do universal. Isso é falso. O universal somente se fragmentou em pequenos recintos que absolutizam os conceitos como se coubessem em vários casos, mesmo que isolados.
É o caso do patriarcalismo, é o caso da ideia de que todos os problemas são de ordem econômica, como no Marxismo medíocre, etc. Esse modo de pensar resulta de uma preguiça intelectual que situa a problemática em sínteses supérfluas e que não resolvem nada. Tomando partido da “justiça” alguns fazem de conta de que são mais favoráveis que todos os outros ao ideal de igualdade, em todos os aspectos. Mais uma vez o autoritarismo aparece travestido de justiça social.
Se assemelha essa questão a uma necessidade infantil de culpar o mundo ou Deus por me ter colocado no lugar que estou. Essa é origem da ideia de que todos são culpados, estruturas maiores que eu mesmo e que me fazem ser o que sou. Esse é o legado do modismo Estruturalista que dominou e domina as universidades brasileiras até agora. Contra o estruturalismo oco Sartre dizia: “não importa o que fizeram de você; o que importa é o que você fez do que fizeram de você”.
A questão aqui é a ausência de uma cultura criativa, somos apenas imitadores,miméticos. No Brasil nunca foi possível a formulação de teorias que pudessem dar conta dos problemas do Brasil mesmo. Sempre foi mais fácil tomar partido de ideias do mundo avançado e esquecermos que existem problemas mais básicos a serem enfrentados. O Brasil não é moderno, ele é atual, e como toda atualidade é apenas modista. Nada é durável na efemeridade vazia de ser brasileiro.
A esterilidade é a maior lastima dos intelectuais brasileiros. A academia demanda produção acadêmica que não passa de resumos e sínteses de produções já prontas. Nenhum professor tem condições de ter sua autonomia intectual, ela é silenciada pelas forças medíocres do “conservadorismo liberal” que caracteriza a postura intelectual no Brasil. Acho engraçado em ver que ainda existem pessoas que defendem ferrenhamente o PT, considerado o partido que modificou o Brasil e que fez justiça social e ,por isso mesmo, acima do bem e do mal, ainda que extremamente corrupto. Mais uma vez o fetichismo das ideias toma autonomia sobre os fatos e terminamos por nos esquecer que um partido serve-nos e se não nos serve mais devemos negá-lo, assim como as ideias.
*Tiê Félix é professor e pós graduado em História do Brasil pela FAFICA.